A VinFast é um construtor vietnamita ainda desconhecido em Portugal, mas que já está presente em muitos mercados e possui escritórios na Alemanha, em França e nos Países Baixos. Cotado na norte-americana Nasdaq, este fabricante asiático surgiu agora nas notícias pela mão de um antigo funcionário que denunciou práticas irregulares, com destaque para o hábito de prender os trabalhadores no interior das fábricas para os obrigar a trabalhar mais, de forma a incrementar a produção.
Até há bem pouco tempo, Hazar Denli era um engenheiro ao serviço da Tata Technologies (TTL), uma consultora britânica do grupo indiano Tata que, além das marcas da “casa”, desenvolve igualmente trabalhos para outros construtores. Uma delas é a vietnamita VinFast, para quem a TTL desenvolvia protótipos e que Denli testava ao nível do chassi e suspensões. Num desses testes, o engenheiro descobriu uma construção deficiente em algumas peças, as quais poderiam quebrar se submetidas a um esforço maior do que o habitual, tornando o veículo perigosamente inseguro.
Denli terá informado os responsáveis da TTL e da VinFast que estavam a ser utilizados materiais incorrectos para reduzir os custos, além de existirem deficiências a nível do design, pois havia peças que não tinham um tempo de vida útil superior a 25.000 km, quando deveriam exceder 150.000 km, de acordo com a BBC. Em alguns casos, as fixações de alguns parafusos também se podiam desapertar e cair mas, com a aproximação do lançamento em bolsa, a VinFast preferiu não atrasar a produção para rectificar as peças defeituosas, decidindo avançar com a fabricação e venda de carros potencialmente inseguros, o que levou Denli a demitir-se da TTL para não continuar a trabalhar com o construtor do Vietname.
Enquanto as autoridades americanas (NHTSA) lançavam uma investigação aos acidentes graves em que intervieram modelos da VinFast, como o caso de uma família de quatro pessoas que morreu carbonizada depois de se despistar contra um poste, Denli respondeu afirmativamente a uma oportunidade de emprego que lhe chegou via agência na Jaguar Land Rover, construtor britânico que é igualmente pertença da Tata. Mas Hazar Denli continuava a viver atormentado pelos acidentes que sabia, através da imprensa, que continuavam a ocorrer com os carros vietnamitas. Daí que tenha decido criar uma conta no Reddit para expor as deficiências da VinFast.
Exposed: Engineers ‘locked in factory’ to finish ‘unsafe’ electric carhttps://t.co/CwdAPG9RZm
— Bob For A Full Brexit (@boblister_poole) December 24, 2024
A estratégia até poderia ter corrido bem, não fora o caso de a VinFast ter lançado uma investigação para identificar o denunciante na rede social que colocou a “boca no trombone”. E ao perceber que o whistleblower era Denli, que agora trabalhava na JLR, do grupo Tata, bastou uma “pressãozinha” para que, passados dois meses, o engenheiro voltasse para o desemprego.
Empregados presos para aumentar a produção
Já que estava empenhado em tornar públicas as opções da VinFast que colocavam em risco a segurança dos seus clientes, Hazar Denli foi mais longe e partilhou a forma estranha (e decididamente ilegal) como a marca conseguiu apressar o lançamento no mercado dos seus novos veículos eléctricos, incentivando o valor do construtor em bolsa. De acordo com Denli, de que o The Times faz eco, a VinFast recorreu à prisão dos empregados no interior da fábrica para os fazer trabalhar mais horas por dia e, assim, produzir mais veículos.
O The Times confirmou a informação de Denli em relação às condições de trabalho junto de um funcionário do construtor vietnamita, que declarou ter ficado trancado no interior da fábrica durante o fim-de-semana. O jornal britânico teve ainda acesso a documentação que prova que não só a Tata estava a par do aprisionamento dos empregados nas fábricas, como a investigação lançada pela VinFast para apurar a identidade do denunciante na Reddit conseguiu identificar Denli e a fonte deste no construtor.