O engenheiro geólogo João Baptista defendeu esta quarta-feira, na comissão de inquérito sobre o incêndio de agosto na Madeira, “rigor na comunicação feita à população” durante as catástrofes, considerando um “erro grave” dizer que “estava tudo controlado quando não estava”.
“Dizer que estava tudo controlado, quando não estava é um erro grave”, afirmou o também professor e investigador da Universidade de Aveiro, na comissão de inquérito na Assembleia Legislativa da Madeira para “apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre 14 e 26 de agosto”, requerida pelo PS, o maior partido da oposição.
De acordo com uma nota enviada pelo parlamento madeirense, o engenheiro considerou que a sociedade tem “falhado na prevenção dos incêndios” e recomendou a elaboração de um plano estratégico de longo prazo, de forma a preservar a espécie humana, assim como as restantes espécies.
João Baptista defendeu um conjunto de medidas para prevenir os incêndios, destacando a necessidade de “apostar na prevenção, na limpeza dos terrenos e na reflorestação”, de “vigilância permanente do território sempre que as condições climatéricas sejam favoráveis aos incêndios” e atenção redobrada aos pirómanos.
Além disso, defendeu, é também necessário proibir a utilização de artigos pirotécnicos quando as condições climatéricas são adversas e podem potenciar incêndios, apostar na educação para a cidadania e formar sapadores florestais.
O engenheiro geólogo alertou, por outro lado, para a quantidade de biomassa, sobretudo troncos, que está nas zonas atingidas pelo incêndio de agosto e que poderá potenciar a ocorrência de aluviões.
A extensão de faixas corta-fogo a outros concelhos da região, a alteração do tipo de espécies plantadas e uma “avaliação e contabilização dos prejuízos provocados pelos vários incêndios que assolaram a Madeira ao longo dos anos”, foram outras das sugestões do investigador da Universidade de Aveiro.
Segundo o parlamento insular, na reunião de hoje foram aprovados dois requerimentos da Iniciativa Liberal a solicitar o relatório ao Instituto de Florestas e Conservação da Natureza e a pedir uma audição parlamentar do responsável na Madeira pela Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR.
A comissão de inquérito iniciou as audições em 29 de outubro com o secretário regional de Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos, que reiterou que a estratégia adotada no combate ao incêndio em agosto foi correta, não havendo registo de mortos, feridos ou danos graves, sublinhando também que a região nunca recusou a ajuda externa, apesar de só ter sido ativada quatro dias após o início do fogo.
Incêndios. Secretário da Proteção Civil diz que Madeira nunca recusou ajuda externa
Já foram igualmente ouvidos o investigador do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil Duarte Caldeira, assim como o antigo diretor das Florestas da Madeira, Miguel Sequeira.
O presidente do Governo Regional decidiu responder por escrito aos deputados, que devem entregar até domingo as perguntas que pretendem colocar a Miguel Albuquerque.
Na segunda-feira, às 10:00, é ouvido, por videoconferência, o secretário-geral do Sindicato Nacional da Proteção Civil, José Costa Velho.
Até ao final do mês estão ainda agendadas audições a diversas entidades e outras serão posteriormente agendadas.
O incêndio rural deflagrou na ilha em 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. No dia 26, ao fim de 13 dias, a Proteção Civil regional indicou que o fogo estava “totalmente extinto”.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.104 hectares de área ardida, embora as autoridades regionais tenham sinalizado 5.116.