Impressionados os turistas, a visita prossegue pela Grande Escadaria do museu. No futuro, há-de conduzir às galerias que vão guardar os tesouros do Antigo Egito. As tais que desde meados de outubro estão abertas a um número limitado de visitantes. A ordem de visita das galerias será cronológica: primeiro a pré-história, depois o Império Antigo, o Império Médio, o Império Novo, a Época Baixa e, por fim, o Império Romano. São, ao todo, mais de três mil anos de história. Haverá ainda uma grande galeria dedicada em exclusivo ao rei Tutankhamon, e essa, garante o museu, só estará aberta ao público depois da inauguração oficial do GEM.
Até lá, a famosa máscara funerária dourada, bem como os artefactos encontrados em 1922 no Vale dos Reis pela equipa do arqueólogo inglês Howard Carter, vão continuar expostos no velhinho Museu do Cairo. Mas o GEM promete mais do que a atual sala acanhada e abafada da Praça Tarhir. Vai ter, mais de 100 anos depois da descoberta, a coleção completa de Tutankhamon. O mesmo é dizer que vai ser possível ver pela primeira vez os cerca de cinco mil artefactos encontrados no túmulo. No museu antigo só um terço dos objetos retirados do Vale dos Reis chegaram a ser expostos. O objetivo do GEM é fazer um retrato completo da época em que viveu o jovem faraó que subiu ao trono com nove anos.
Mas para isso o público ainda vai ter de esperar. Não há qualquer previsão para a data de abertura do GEM, e o ligeiro enfado que a guia Gina revela quando dá essa resposta deixa antever quantas vezes por dia tem de ouvir a pergunta. Não deixa de ser natural que os visitantes a façam.
O projeto do GEM é uma espécie de obra de Santa Engrácia do Egito. A primeira ideia surgiu nos anos 90, quando se tornou óbvio que o edifício da praça Tahrir não era suficiente para receber sete mil visitantes diários. O Governo garantiu um empréstimo, na altura, de 950 milhões de dólares para a construção do museu, que foi concedido pelo Japão. A primeira pedra foi colocada em janeiro de 2002 pelo então presidente Hosni Mubarak e no ano seguinte seria lançado o concurso para o desenho do projeto, supervisionado pela UNESCO e pela União Internacional de Arquitetos (UIA).
Participaram cerca de 1.150 arquitetos de 83 países e no final quem levou o ouro foi o atelier Heneghan Peng, com sede em Dublin, na Irlanda, que conta no portfólio com obras como o Museu da Palestina em Birzeit, O edifício deveria ter ficado concluído em 2009. O que aconteceu nos últimos 15 anos que justifique tamanho atraso? Além dos constrangimentos habituais numa obra megalómana, o projeto ficou “encravado”, primeiro, por causa da Primavera Árabe – a onda de protestos contra governos autoritários que “varreu” o Médio Oriente, Egito incluído, entre 2010 e 2012. A instabilidade que se seguiu no país não contribuiu para que a obra do GEM avançasse mais depressa e em 2016 o governo pôs um militar a comandar o projeto (que se mantém até hoje). Em 2020, a pandemia de Covid 19 e a crise económica provocada pela falta de turismo voltaram a travar o avanço da obra. Agora, aos poucos, vai.
“Este é muito mais impressionante do que o museu antigo”, diz ao Observador Adjani Morani, que veio com mais dois amigos visitar o GEM. “Mas o conteúdo está no outro. Este é só um edifício bonito”, completam Claus Luz e Ema Ribeiro. Estão temporariamente a trabalhar no Egito, no setor bancário. Lamentam que quando o museu for finalmente inaugurado, Adjani já terá voltado para Angola, e Claus e Ema estarão de regresso ao Brasil.