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estes são os 49 livros que mais gostámos de ler em 2024 – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 24, 2024


Napoleão, o Grande
Andrew Roberts
Tradução: José Mendonça da Cruz
(D. Quixote)

A fim de se elogiar uma biografia de uma figura histórica é frequente dizer-se que “se lê como um romance” – como se o mundo não regurgitasse de romances pastosos e mais insulsos do que o Código de Procedimento Administrativo. O sentido implícito da expressão é que o livro tem uma prosa viva e desenvolta e que, sem deixar de se conformar à factualidade exigida ao género biográfico, as personagens saltam das páginas – e é o que acontece com esta biografia de Napoleão Bonaparte. A obra estende-se por quase um milhar de páginas, sem que haja sequer uma linha supérflua, por um lado devido ao talento de Roberts, por outro porque o biografado é uma figura tão rica, multifacetada e contraditória que proporciona matéria inesgotável.

Os Cúmplices de Hitler: Os Rostos do III Reich
Richard J. Evans
Tradução: Miguel Mata
(Edições 70)

Não faltam obras sobre a história do III Reich (e o próprio Evans é autor de uma das mais reputadas e detalhadas, que se espraia por três espessos volumes), nem biografias das suas principais figuras, mas nem todas, apesar da sua erudição, rigor e argúcia, conseguem – ou querem – responder a uma pergunta absolutamente crucial: “O que levou os alemães, e em particular, as elites, a tornarem-se cúmplices dos sinistros desígnios de Hitler?”. Foram fatores psicológicos individuais? Exerceria Hitler um poder magnético sobre os espíritos com predisposição para a crueldade? Estará a explicação na história recente da Alemanha e, em particular, a derrota na I Guerra Mundial e a hiperinflação dos anos 20? Ou deverão procurar-se as causas no carácter nacional germânico? Evans desmonta teses pouco fundadas, desfaz mitos e apresenta hipóteses estimulantes, que têm o mérito adicional de ajudar a compreender a atual ascensão da extrema-direita na Europa.

Propaganda
Edward Bernays
Tradução, introdução e notas: Luís Paixão Martins
(Zigurate)

Este livro de 1928 é visto como “a bíblia do conselho em relações públicas” e o seu autor como o “pai das relações públicas e líder dos opinion makers” e o “profeta dos propagandistas”. Esta reputação tem algum fundamento (e algum marketing à mistura), mas não significa que Propaganda seja uma obra-prima – longe disso, nalguns trechos, mais parece um panfleto de auto-promoção, em que Bernays busca aliciar clientes para os seus serviços de consultoria de relações públicas. Mas, ao expor, num misto de candura e cinismo, a filosofia e os truques do ofício da “manipulação consciente e inteligente dos hábitos e das opiniões coordenadas das massas”, acaba por ser um livro indispensável para compreender o mundo de hoje, que gira vertiginosamente sob o impulso do consumismo infrene, do apetite frívolo pela novidade e da obsolescência planeada, e é hábil e insidiosamente controlado pelo “governo invisível” dos “marqueteiros”.

As escolhas de José Carlos Fernandes

Da Luz à Lucidez: Paulo Nozolino
Rui Nunes; Paulo Nozolino
(Relógio D’Água)

Este livro é sobretudo uma sinfonia negativa, diálogo avesso, escuta no silêncio, no âmbito da relação criativa entre o escritor Rui Nunes e o fotógrafo Paulo Nozolino. Composto de fotografias e textos, trata-se de um objeto que se vira para o sentido da História, quais as suas possibilidades narrativas e experienciáveis, sempre de um ponto de vista que se situa no limiar do dizível, fazendo coincidir interrogações com períodos sentenciosos.

A Árvore Tocada Pelo Raio
José Emilio Pacheco
Tradução de Miguel Filipe Mochila
(Maldoror)

Eis a tradução de um dos poetas mais importantes da literatura hispânica do século XX. A sua poesia é feita contra o (seu) tempo e prefere desiludir quem o lê na expectativa de qualquer sublimação do estado do mundo por via de suposta transfiguração literária do que iludir o leitor, apostando, afinal, numa auto-glorificação desatenta e pífia. E “oxalá pensem / que perfeição / é para sempre alheia a todo o esforço humano.”

Manoel de Oliveira: Catálogo Raisonné
(Edição Cinemateca e Serralves)

Este catálogo reúne — numa edição exímia em cuidado e gosto gráficos — ensaios críticos, fotografias, declarações e apontamentos sobre a obra de Oliveira e do próprio Oliveira, consensualmente considerado o mais relevante realizador português, responsável pela introdução do cinema moderno em Portugal. Trata-se de uma edição para amantes do cinema oliveiriano e para estudiosos da sua obra.

A Coisa Mais Próxima da Vida
James Wood
Tradução: Joana Jacinto
(Zigurate)

Neste livro, o renomado ensaísta e crítico literário James Wood percorre os textos da sua tradição de leitura, do mesmo modo que regressa a momentos da sua vida. O mote é tão franco quanto inebriante: somos escritores das nossas memórias que, por sua vez, constituem a ficção a sondar, ao longo da vida, de modo mais ou menos hospitaleiro. E a conclusão não pode senão apresentar-se ao jeito de uma janela aberta: a ficção como o jogo do “não muito”. Ide descobrir.

Um Ano e Três Meses
Luis García Montero
Tradução: Manuel Alberto Valente
(Officium Lectionis)

Um livro que é uma carta que é uma despedida que é uma biografia. Numa edição bilingue, é vertida para português, pela primeira vez em poemário, a poesia do poeta espanhol Luis García Montero. Nestes poemas, mapeados de objetos e espaços familiares, insurge-se, simultaneamente contra e ao sabor dos dias, algo próximo do clarão, do rasto luminoso das estrelas, das luzes de transição entre um e outro momento, a marcar a diferença coreográfica da luz e da sombra. Da vida à morte. Ou antes o contrário.





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