Por dentro estaria tudo menos isso, por fora era como se não tivesse expressões. Ruben Amorim foi dando sempre muitas indicações ao longo do encontro a todos os jogadores, aproveitando todos os momentos para corrigir ações, posições e atitudes, mas nunca demonstrou propriamente uma emoção. Não sorriu, não se mostrou particularmente desiludido, não era alguém confortável num mundo que só agora passará a ser o dele. Tudo mudou a nível de rotinas em dia de jogo do técnico mas, no final, não mudou aquilo que mais interessava: o resultado, a exibição, os pontos perdidos. E essa foi uma das principais ilações na estreia pelo Manchester United frente ao Ipswich – é mais aquilo que leva para corrigir do que para recordar.
Centro de todas as atenções desde que chegou a Portman Road, Amorim mudou algumas das rotinas que ia tendo por exemplo em Alvalade, chegando à zona técnica dos visitantes já com todos os suplentes sentados no banco. Cumprimentou o homólogo Kieran McKenna de passagem, não esboçou qualquer festejo quando Rashford inaugurou o marcador, aplaudiu de forma efusiva André Onana numa intervenções monstruosa do guarda-redes na primeira parte, não escondeu o desagrado em algumas ações antes do intervalo quase que a adivinhar o que se iria passar uns minutos depois (empate), teve sempre uma preocupação especial com quem era lançado na partida, utilizando a prancheta para detalhar o que pretendia das novas unidades.
No final, sobrou o empate. De Ligt, Evans e Casemiro mostraram que jogam com uma ou duas mudanças abaixo do que a equipa necessita, Eriksen foi “engolido” pelas incidências do jogo, Rashford precisa de uma equipa montada em seu torno para vingar como 9, as entradas de Höjlund e Zirkzee acrescentaram pouco ou nada. Em contrapartida, Diallo mostrou que pode ser uma aposta ganha a fazer toda a ala direita, Diogo Dalot esteve seguro à esquerda, Bruno Fernandes rodou por três posições num bom plano. O que faltou? A tal vitória desejada. E com o mesmo ar com que entrou em campo, provavelmente sem ver os vários cartazes de apoio dos adeptos do United nas bancadas, saiu com dois pontos perdidos e vários para corrigir.
“As sensações não podem ser muito boas porque não ganhámos o jogo mas notou-se durante o encontro que eles tinham de pensar muito nas coisas, ou seja, foi tudo tão fresco sem tempo para treinar que fizeram algumas coisas bem mas vai ter de demorar tempo. Começámos da melhor maneira mas depois perdemos alguma intensidade na pressão, temos de ser melhores nesse aspeto, e depois o ficar com a bola, às vezes perdíamos a bola muito rápido e temos de ter outra capacidade de ficarmos com a bola. Houve clubes aqui que também empataram como o Aston Villa. Não muda nada, não ajuda nada mas este campeonato vai ser sempre assim e temos que melhorar”, começou por referir na zona de entrevistas rápidas da DAZN.
“O principal é que eles tentaram, eles esforçaram-se, recuperaram bem defensivamente. Perdemos algumas bolas também pelas características dos jogadores. Com o Rashford na frente perdemos alguma coisa em termos físicos, não conseguíamos às vezes ficar com a bola. Volto a dizer: tivemos só dois treinos, foi uma mudança muito grande e temos de pensar já no próximo jogo que é da Liga Europa e aproveitar todos os jogos e todos os minutos para melhorar”, reforçou, antes de pormenorizar as principais “lições”.
“O que quero melhorar já na quinta-feira? Sobretudo ter bola. Queremos ter posses mais longas para poder empurrar os adversários. No final fizemos isso, o Ipswich estava com menos pressão e com dificuldades físicas e encurtámos o campo. Temos de melhorar principalmente com a bola. Adeptos a cantar o nome? Vale o que vale, é melhor assim mas o que interessa é ganhar jogos”, concluiu aí o técnico do United.
De seguida, Ruben Amorim seguiu para as entrevistas da Sky Sports, onde estava também o antigo capitão dos red devils Roy Keane. Foi nesse espaço que abordou uma das principais diferenças desde que saiu de Alvalade, por sinal uma alteração que confidenciou a pessoas próximas em Portugal: o número de vezes que tem de falar com a imprensa antes e depois dos jogos. “Esta semana falei mais do que nos meus quatro anos de Sporting. Só quero trabalhar com os meus jogadores, mais nada”, referiu num momento que ficou também marcado pela interrupção do cantor Ed Sheeran, acionista minoritário de adepto do Ipswich que não se contia de felicidade depois de mais um grande resultado da sua equipa.