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Extrema-direita israelita invade bases do exército em protesto contra soldados detidos por tortura – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jul 29, 2024

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Dezenas de manifestantes, incluindo deputados da extrema-direita, invadiram esta segunda-feira a base militar de Sde Teiman, onde nove soldados das IDF foram detidos por torturarem um prisioneiro palestiniano. Alguns políticos israelitas apressaram-se a condenar o incidente, enquanto organizações de direitos humanos chamaram à atenção para os casos “recorrentes” de tortura nesta base.

A Polícia Militar israelita deteve na manhã desta segunda-feira nove soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF), depois de uma investigação que se estendeu ao longo de várias semanas. A polícia encontrou indícios de que dez soldados reservistas, colocados no centro de detenção de Sde Teiman, terão torturado um prisioneiro palestiniano, deixando-o depois na cela em “estado crítico”.

O homem, que tinha sido preso na Faixa de Gaza por acusações de terrorismo, foi levado para o Centro Médico de Beersheba Soroka. No relatório, podia ler-se que estava “ferido com gravidade”, quase sem conseguir andar e com feridas nas nádegas, impossíveis de terem sido auto-infligidas, relata o canal israelita, Channel 12, que teve acesso ao relatório da investigação.

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À chegada a Sde Teiman, a polícia militar foi confrontada pelos soldados das IDF, que terão usado gás-pimenta contra os agentes, numa tentativa de impedir as detenções, avança o jornal Haaretz. Ainda assim, nove dos dez soldados identificados na investigação foram detidos e levados para o tribunal militar de Beit Lid para interrogatório, relata a rádio Galei Zahal.

O ministro da Segurança Nacional, do partido de extrema-direita Otzma Yehudit, reagiu à detenção, declarando que membros do seu partido se dirigiam ao sul do país para “pôr fim à detenção vergonhosa“. “Os soldados das IDF merecem respeito. Tirem as mãos dos nosso heróicos guerreiros. Os campos de férias e a paciência para com os terroristas acabaram. Os soldados devem receber todo o apoio”, acrescentou Ben Gvir numa mensagem de vídeo, citada pelo Times of Israel.

Respondendo ao apelo de Gvir — cujo ministério controla a polícia e o serviço prisional –, manifestantes da extrema-direita começaram a reunir-se em frente às duas bases militares, onde os soldados tinham sido detidos e para onde tinham sido levados, exigindo a sua libertação.

Em Sde Teiman, o deputado Zvi Sukkot liderou a manifestação. De megafone em punho, o membro do partido ultranacionalista Sionismo Religioso, declarou ser preciso proteger o exército, por ser o único, e lutar por ele. “Não podemos investigar soldados, enquanto não investigarmos, aqueles que não conseguiram impedir [o 7 de outubro]”, afirmou.

Os manifestantes acabaram por invadir a base militar, cortando os cadeados com alicates e ocupando o recinto, como é possível ver em imagens partilhadas pelos media israelitas. No local, encontrava-se também o ministro da Resiliência Nacional, que apesar de não ter invadido a base, defendeu que os deputados tinham imunidade para o fazer.

“Aos meus olhos, isto não ajuda a passar a mensagem. Não posso apoiar uma invasão ilegal. Sou ministro do Estado de Israel. Mas os membros do Knesset [parlamento israelita] têm imunidade. Têm permissão para entrar“, argumentou Yitzhak Wasserlauf, em declarações aos jornalistas no local.

A polícia acabou por deter alguns manifestantes que tinham invadido a base. Mas enquanto os ânimos acalmavam em Sde Teiman, os protestos aqueceram em Beit Lid. Aqui, para além de terem invadido a base, os manifestantes chegaram mesmo a entrar no tribunal militar, onde os nove soldados estavam a ser interrogados.

Empunhando bandeiras israelitas, os apoiantes da extrema-direita tentaram confrontar os soldados das IDF, no local. Apesar dos ânimos exaltados, a polícia declarou, em comunicado, ter dispersado a multidão “em poucos minutos”.

Ainda antes das invasões às bases militares, o deputado Yuli Edelstein já tinha reagido à detenção dos soldados. “Os nossos soldados não são criminosos e esta perseguição desprezível é inaceitável”, declarou o presidente do Comité de Negócios Estrangeiros e Defesa, anunciando de imediato uma audiência para a próxima terça-feira.

Já o líder da oposição responsabilizou o Executivo, dizendo que a sua fraqueza tinha permitido que “um grupo fascista perigoso” levasse a cabo “uma tentativa de golpe de Estado” e ameaçasse “a existência do Estado de Israel”. “Se não lhes fizermos frente, o país desmoronar-se-á. Se Netanyahu não demitir os ministros que participaram nestes ataques de hoje, não está apto a representar o Estado de Israel. Não estamos à beira do abismo, estamos no abismo”, acrescentou Yair Lapid num comunicado, citado pelo Times of Israel.

O visado pelas acusações de Lapid apelou a um “acalmar imediato dos ânimos”. Benjamin Netanyahu afirmou que “as IDF continuarão a agir em conformidade com a lei. Temos de permitir que as partes autorizadas efetuem as investigações necessárias, mantendo a dignidade dos nossos soldados”.

O avanço da investigação foi confirmado pelo comandante das IDF, que definiu a invasão como “extremamente grave e ilegal”. “Estamos em guerra e este tipo de ações põe em perigo a segurança do país”, argumentou Herzi Halevi.

Dentro do Governo de Netanyahu, as opiniões dividiram-se. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, condenou o “incidente sério que fere a democracia israelita” e apoiou a tomada de medidas de segurança imediatas nas bases. Bezalel Smotrich, o ministro de extrema-direita com a pasta das Finanças, apoiou o protesto “justificado” contra a detenção dos soldados, criticando a “esquerda hipócrita”, mas lembrou que as invasões a complexos militares são ilegais e devem ser “mantidos os limites dos protestos”.

Já o ministro da Justiça, Yariv Levin, argumentou que os militares estavam a fazer um “trabalho sagrado” e que “chegou a altura de este justificado clamor público encontrar um ouvido atento nos membros do Knesset”.

Também o Presidente israelita condenou a invasão, lembrando que Israel é “um Estado de direito”. Aos deputados no local pediu “calma” e aos manifestantes que “abandonassem a base”. “Não devemos sobrecarregar os nossos combatentes e comandantes. Vamos fortalecer as IDF”, apelou Isaac Herzog na sua conta de X.

Uma organização de assistência jurídica, a Honenu, afirmou que os dez soldados, detidos esta segunda-feira, agiram em legítima defesa, depois de terem sido atacados pelo prisioneiro num transporte entre Ofer e Sde Teiman, há três semanas. Mas este relato de tortura está longe de ser o primeiro no centro de detenção desta base militar.

Segundo o procurador militar, há outros casos abertos, com acusações semelhantes, contra outros soldados da base de Sde Teiman. Os documentos a que o Channel 12 teve acesso, relatam que este é “um assunto sério e recorrente”.

Os relatos são confirmados pela ONG de direitos humanos Breaking the Silence. A organização denunciou que no campo de detenção de Sde Teiman existem “dezenas de detidos mortos, restrições indefinidas resultando em amputações, procedimentos médicos sem anestesia, privação de sono, espancamentos brutais e tortura sexual”.

A ONG argumenta que o facto de os manifestantes não terem protestado estas condições, mas antes a detenção daqueles que as perpetraram é “essencialmente a aprovação em voz alta de abusos brutais e inimagináveis contra os palestinianos”.

A par da Breaking Silence, a Amnistia Internacional identificou 27 casos de detenções de homens palestinianos — e até de uma criança de 14 anos — que configuram violações do direito internacional humanitário.

Relatos igualmente violentos foram feitos por duas investigações separadas de media norte-americanos. No início de junho, a Associated Press denunciou as condições do hospital de Sde Teiman, o único hospital israelita onde são tratados prisioneiros palestinianos: sem analgésicos e com médicos que assumem não cumprir os parâmetros éticos da profissão — por falta de condições para tal.

Também o New York Times relatou casos de interrogações violentas, de tortura e até de violação, em tudo semelhante ao caso como descrito pela Breaking Silence — e que culminou na detenção destes nove soldados israelitas.





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