São às dezenas as publicações partilhadas na rede social Facebook denunciando uma alegada relação direta entre a morte de uma comentadora da Fox News e a vacinação contra a Covid-19. “A médica e colaboradora da Fox News Kelly Powers, totalmente vacinada, morreu no domingo após uma série de problemas de saúde, incluindo insuficiência cardíaca e uma batalha contra o cancro do cérebro”, pode ler-se numa das publicações, que descreve Powers como uma defensora dos laboratórios farmacêuticos.
“A Dra. Powers era uma defensora da Big Pharma, descrevendo as empresas de medicamentos e vacinas como ‘não sendo o inimigo’ durante uma aparição na Fox Business, explicando que ‘estão a ajudar-nos, estão a criar vacinas’”, alega o post, que partilha uma foto do título de um artigo do site de desinformação The People Voice — conhecido por publicar notícias falsas ou descontextualizadas.
Kelly Powers, de 45 anos, morreu no início de dezembro, em Nova Jérsia, depois de perder a batalha contra um glioblastoma — o tipo mais comum de cancro no cérebro. Comentadora da Fox News e cirurgiã, Powers ficou conhecida do grande público em 2010, quando começou a aparecer em programas daquela estação televisiva, onde dava conselhos sobre saúde. Desde 2018 que se debatia com vários problemas de saúde.
Em julho de 2020, depois de ter sofrido uma convulsão, foi-lhe diagnosticado um glioblastoma — trata-se de um dos cancros mais agressivos e letais, com uma taxa de sobrevivência a cinco anos de apenas 5%. Fez três cirurgias e foi submetida a sessões de quimio e radioterapia, tendo o tumor regredido. No entanto, segundo anunciou a própria na sua página de Instagram, em fevereiro de 2024, o cancro regressou — as recidivas são, de resto, muito comuns neste tipo de tumores.
Mas terá a doença oncológica de Kelly Powers alguma relação com a vacinação contra a Covid-19? A resposta é não. As vacinas, que se destinavam a prevenir quadros graves desta doença, só começaram a ser administradas nos EUA em dezembro de 2020, vários meses depois do diagnóstico de cancro de Powers.
O termo “cancro turbo” não é sequer utilizado na comunidade médica e científica. Trata-se de um termo usado pelas apoiantes das teorias anti-vacinas, que associam a vacinação a episódios de cancros mortais e fulminantes. Ora, não só os cancros de evolução rápida (e extremamente letais) sempre existiram, como não há quaisquer evidências de que se possa estabelecer uma relação de causa-efeito entre a vacinação contra a Covid-19 e o cancro.
Conclusão
Não existe qualquer relação entre a morte de Kelly Powers e a vacinação contra a Covid. Os glioblastomas são cancros extremamente agressivos e mortais, com elevada taxa de recidiva. Para além disso, a vacinação em massa nos EUA começou vários meses depois do diagnóstico oncológico da comentadora da Fox.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.