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Fact Check. Tratamento com lenacapavir é a “nova cura” para a Sida? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 26, 2024


Várias publicações que circulam na rede social Facebook garantem que existe uma nova cura para a Sida (a doença despoletada pela infeção por VIH). O tratamento custará 40 mil dólares, cerca de 38 mil euros, e terá uma eficácia quase total. “A nova cura para a Sida de $40 mil é quase 100% eficaz e precisa de duas vacinas anualmente!!”, pode ler-se na publicação.

O tratamento a que o post se refere é o lenacapavir, um medicamento injetável produzido pelo laboratório Gilead Sciences. A empresa farmacêutica norte-americana concluiu em julho a última fase dos ensaios clínicos, tendo conseguido atingir uma taxa de eficácia de 100%, tal como indicado na publicação do Facebook. No entanto, o lenacapavir está indicado para o tratamento da infeção por VIH e não para a cura da Sida.

Comercializado sob a marca comercial Sunlenca, este tratamento surge como mais uma opção terapêutica na área da chamada Profilaxia Pré-Exposição, a prevenção da infeção por VIH. Nos EUA, o lenacapavir já está aprovado pela Food and Drug Administration (o regulador federal da área dos medicamentos) desde o final de 2022, mas para o tratamento do VIH, ou seja, no combate à multiplicação do vírus no organismo — com o objetivo de tornar a carga viral indetetável. Já como tratamento profilático, ainda não há aprovação da FDA, esperando-se que tal venha a ocorrer no final de 2025.

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Já relativamente ao custo, o tratamento de duas injeções anuais, representa um encargo de cerca de 42 mil dólares no primeiro ano e de quase 40 mil nos anos subsequentes. O lenacapavir tem um eficácia quase total, segundo um estudo publicado no The New England Journal of Medicine. Os dados divulgados referem-se à fase 3 dos ensaios clínicos. O tratamento foi testado em 5.300 mulheres e adolescentes na África do Sul e no Uganda, dois dos países onde se regista um maior número anual de novas infeções por VIH, e teve uma eficácia de 100%.

As mulheres envolvidas no estudo foram divididas em três grupos. Um grupo, de 2.134 pessoas, tomou o medicamento Descoy e outro grupo (com 1.068 mulheres) recebeu Truvada. Ambos são medicamentos da Gilead, de toma diária, e indicados para a prevenção da infeção por VIH. No primeiro grupo, 39 mulheres ficaram infetadas; no segundo, foram 16. Já no terceiro grupo, que recebeu Sunlenca, a eficácia foi total: não se registou nenhum caso de infeção entre as 2.136 pessoas a quem foi administrado o tratamento.

Apesar de estar aprovado para o tratamento da infeção (e de poder vir a estar disponível numa abordagem profilática à infeção), o lenacapavir não cura a Sida. Aliás, não existe nenhum medicamento ou tratamento capaz de o fazer. Até ao momento, são conhecidos apenas sete casos a nível mundial de pessoas que curaram a infeção — em comum têm o facto de terem sido todas submetidas a um transplante de medula óssea, que fez com que recebessem no organismo uma rara proteína que impede a ligação entre o VIH e as células.

Conclusão

O lenacapavir não é a “nova cura” para a Sida. Não existe nenhum medicamento ou tratamento capaz de curar a doença. Este fármaco está, sim, já aprovado para o tratamento da infeção, de modo a baixar (ou mesmo tornar indetetável) a carga viral do VIH no organismo. E, num estudo recente, demonstrou 100% de eficácia na prevenção da infeção.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.


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