O ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González considera que a resposta ao avanço da extrema-direita na Europa passa por entendimentos entre os grandes partidos democráticos de centro e dá o caso de Portugal como exemplo.
Os partidos “da centralidade” europeia “podiam começar por fazer uma temporada de aprendizagem em Portugal”, disse Felipe González num encontro com jornalistas de meios de comunicação de diversos países em Madrid, incluindo a agência Lusa.
González respondeu assim quando questionado sobre o crescimento da extrema-direita e do populismo por toda a Europa e como devem posicionar-se os partidos democráticos.
O líder do Governo de Espanha entre 1982 e 1996 sublinhou que após o “empate técnico” entre PS e PSD nas últimas eleições portuguesas, os dois partidos optaram por uma via que afastou o extremismo do poder.
Felipe González realçou que os dois partidos não precisaram de se entender “em tudo” e têm com certeza visões diferentes, por exemplo, em relação à política fiscal ou social, mas mostraram que é possível uma base de entendimento para questões fundamentais como a de isolar os extremistas.
Também em Espanha, o futuro do país “passa pelo entendimento” entre os dois grandes partidos representados no parlamento, o socialista (PSOE) e o popular (PP, direita), defendeu.
González realçou que depois de em 2015 terem surgido e crescido novos partidos no parlamento espanhol, naquilo que se considerou ser então “a rutura do bipartidarismo”, essas formações que na altura “subiram como foguetes, caíram como chumbo” posteriormente e hoje PP e PSOE têm de novo, em conjunto, 75% dos votos e dos deputados.
Admitindo que a crispação é muito marcada no debate político em Espanha e que PP e PSOE estão atualmente aparentemente “muito longe” de qualquer possibilidade de entendimentos, considerou que, porém, os dois partidos “terão de negociar ou o país não avança”.
Felipe González sublinhou que Espanha enfrenta já bloqueios em diversos níveis pela incapacidade de acordos entre PP e PSOE, como acontece em organismos ligados à magistratura, como o Conselho Geral do Poder Judicial, cujos membros têm mandatos caducados há anos.
Para o líder histórico do PSOE e uma das figuras mais relevantes da consolidação democrática em Espanha, há hoje no país uma “polarização induzida, de cima para baixo” que sai da política e a sociedade está agora também ela a crispar-se.
Neste contexto, lembrou “a transição espanhola”, que no final da década de 1970 levou à passagem da ditadura para a democracia com base em acordos entre os protagonistas de todas as tendências políticas, para questionar se é hoje mais difícil chegar a acordos do que há 40 anos.
Ainda sobre o caso de Portugal, González elogiou o anterior primeiro-ministro, o também socialista António Costa, dizendo que se demitiu para “defender a sua inocência”, mas também para proteger a instituição que é o cargo de líder do Governo, perante uma suspeita lançada pelo Ministério Público.
Neste ponto, lamentou a situação de Costa, que saiu do governo por causa de uma investigação judicial que, afirmou, se tem revelado pouco ou nada fundamentada.