O Governo moçambicano pretende criar “cinturões de proteção” nos corredores de escoamento de mercadorias, incluindo Maputo, disse esta quinta-feira o ministro dos Transportes, avançando que estuda com a África do Sul “soluções adequadas” para garantir segurança, face às manifestações pós-eleitorais.
“Algumas ações estão em curso para proteger os corredores, estamos a tentar criar cinturões de proteção ao longo do corredor do Maputo, desde a fronteira de Ressano Garcia [maior fronteira terrestre] até ao porto de Maputo, para assegurar que a mercadoria continue a fluir da África do Sul para mercados internacionais e para outros países”, disse o ministro dos Transportes e Comunicação, Mateus Magala, durante a apresentação do relatório económico do setor privado relativo ao terceiro trimestre do ano, que decorreu esta quinta-feira em Maputo.
Em causa estão as manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rapidamente desembocaram em confrontos entre manifestantes e a polícia, com os manifestantes a colocar barricadas e impedido o transporte de pessoas e bens, sobretudo em Maputo.
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Mateus Magala reconheceu a urgência de criar segurança nos corredores de desenvolvimento, com enfoque para o de Maputo, que tem sido alvo dos manifestantes, incluindo a vandalização das infraestruturas das instalações da fronteira de Ressano Garcia, que chegou a ser encerrada temporariamente.
“Neste momento estamos a falar com as autoridades sul-africanas para termos uma ação conjunta e ver o que podemos fazer face à avaliação da situação”, disse o governante, referindo que estão agendados encontros entre os dois Governos para buscar soluções para a proteção do corredor de Maputo.
“Há medidas concretas que estamos a desenvolver e estamos confiantes que isso vai ser possível. O não funcionamento de corredor certamente que todos vamos ser afetados pela falta de comida, de roupa, de oportunidades, de mobilidade e emprego e isso não será bom para ninguém”, avisou o governante.
Magala condenou a vandalização de infraestruturas públicas e privadas, referindo que o bloqueio de vias de acesso é uma “violação aos direitos fundamentais” dos moçambicanos.
“Quando vandalizamos os corredores estamos na verdade a prejudicar os outros países que depositaram em nós a confiança de gerir e liderar o processo de comércio regional através dos corredores (…) Vandalizar não é uma atitude conveniente para ninguém e nessa senda, porque temos corredores, Moçambique tem responsabilidades regionais e globais”, afirmou.
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que congrega o setor privado, pediu ao Presidente da República garantias de segurança nas multinacionais incluindo escoltas militares nos principais corredores do país, disse em 10 de dezembro o presidente do órgão.
“Temos algumas multinacionais que estão em ‘démarches’ para declarar força maior, então alertamos para a necessidade de, enquanto decorrem atos urgentes da trégua, também há necessidade de ajudar a controlar os principais corredores”, disse o presidente da CTA, Agostinho Vuma.
Os protestos contra os resultados eleitorais levaram o caos às ruas em diversos pontos do país, com pelo menos 110 pessoas mortas e mais de 300 feridas em resultado dos confrontos entre polícia e manifestantes desde 21 de outubro, segundo um balanço atualizado pela Organização Não-Governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide.
Os resultados das eleições de 09 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) deram a vitória, com 70,67% dos votos, a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, mas precisam ainda de ser validados pelo Conselho Constitucional, última instância de recurso em contenciosos eleitorais.
Num dos seus últimos diretos a partir da rede social Facebook, Mondlane prometeu estar em Maputo para tomar posse como Presidente de Moçambique no dia 15 janeiro, data prevista para a tomada de posse do novo chefe de Estado.