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O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou nesta sexta-feira o estado de “anarquia” e “caos total” na Faixa de Gaza, a dificultar a distribuição de ajuda humanitária e provocar muitos saques de camiões quando entram naquele território palestiniano.
Numa conferência de imprensa na ONU, António Guterres reconheceu que a guerra em Gaza “é diferente de qualquer outra guerra”, porque normalmente há regras que são respeitadas e cada lado controla uma parte do território, onde garante, de uma forma ou de outra, a segurança.
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Mas em Gaza, sustentou, os combatentes israelitas e do movimento islamita palestiniano Hamas estão constantemente a deslocar-se de um lado para o outro, o que resulta num “caos total” e na “ausência de autoridade na maior parte do território”.
Além disso, lamentou, “Israel nem sequer autoriza a chamada polícia azul (polícia palestiniana) a escoltar as nossas colunas humanitárias, por ser uma polícia local ligada ao governo [do Hamas], pelo que a anarquia é total. Temos grandes dificuldades em distribuir [ajuda] dentro de Gaza“, o que, na sua opinião, se tornou agora o principal problema humanitário.
“Tem de se criar um mecanismo que garanta um mínimo de lei e de ordem para permitir a distribuição da ajuda, e é por isso que um cessar-fogo é tão necessário”, sublinhou.
Nesta sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apelou a Israel para que reabra o posto fronteiriço de Rafah, para a entrada de material médico e de todo o tipo de ajuda humanitária, perante o aumento previsto de doenças, na sequência da nova deslocação maciça da população palestiniana do exíguo enclave onde o Exército israelita trava há mais de oito meses uma guerra contra o Hamas.
A título de exemplo, um representante da OMS referiu que há atualmente 26 camiões com medicamentos e outro equipamento médico — seis dos quais da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) — à espera para entrar em Gaza através do posto de Kerem Shalom, onde as instalações logísticas são menores e a via de acesso (do lado de Gaza) é perigosa.
Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 120 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que nesta sexta-feira entrou no 259.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 37.473 mortos e 85.700 feridos, além de cerca de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após oito meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.