A Nissan volta a estar com a corda na garganta devido à má gestão dos seus responsáveis japoneses. Depois de, em 1999, ter contado com uma salvação da falência que lhe chegou através da Renault, liderada por Carlos Ghosn, o construtor japonês (que afastou os franceses passados nove anos, criando um falso incidente com o próprio Ghosn para evitar a fusão que este pretendia), está de novo, e passados apenas seis anos, a despedir trabalhadores e a reduzir a produção para evitar falir. Tudo indica que, desta vez, a ajuda vai ser proporcionada pela Honda e não será possível evitar a fusão que a levará a ser absorvida pelo construtor conterrâneo. No processo, a Renault tem (muito) a ganhar.
Carlos Ghosn critica “fusão desesperada Honda/Nissan”
Se as negociações decorrem entre Honda e Nissan visando um casamento que não é desejado por nenhum dos noivos, mas provavelmente forçado pelo próprio Governo para manter empregos e salvar os bancos mais expostos, segundo Ghosn, resta saber qual é o papel da Renault. Os franceses, depois de se tornar óbvio que a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi (sendo esta última controlada pela Nissan) nunca iria funcionar com a eficiência de um verdadeiro grupo automóvel controlado por uma gestão centralizada, uma vez que a Nissan pretendia manter uma certa independência (apesar da Renault possuir 43,4% do construtor nipónico), decidiram usufruir apenas das sinergias das compras e partilha de órgãos, enquanto aguardavam uma oportunidade para vender as acções na Nissan.
Composto pela Renault, Dacia e Alpine, o Grupo Renault ainda hoje possui 17% da Nissan e outros 18,7% num fundo francês que controla, isto mesmo depois de ter alienado 11% do capital que detinha na marca japonesa. Isto significa que 35,7% do capital da Nissan está nas mãos da Renault. Ainda assim, não se fala da marca francesa sempre que o tema é o “casório” entre os noivos nipónicos. Não obstante, a absorção da Nissan pela Honda representa uma excelente oportunidade para a Renault valorizar e vender em alta o capital que ainda detém do construtor japonês, pois além de poder vender a sua quota à Honda para esta reforçar a sua posição na Nissan, a Foxconn, a empresa de Taiwan que fabrica os iPhone para a Apple, já se deslocou a Paris para negociar a aquisição do capital nipónico nas mãos da Renault.
E o grupo francês estará interessado em desfazer-se da fatia que comprou em 1999 na Nissan por 3,4 mil milhões de euros, porque com a Nissan a voltar a controlar o seu destino, a percentagem que detém tem gerado muito poucos dividendos nos últimos anos. Por outro lado, o facto de a Nissan utilizar motores, chassis e software da Aliança leva a que seja curioso verificar como é que o novo casamento vai lidar com estes acordos do passado.
Mas nem tudo são rosas para o Grupo Renault. Sem a Nissan, ou seja, sem a Aliança, o grupo francês transacciona apenas 2,2 milhões de carros por ano, contra 3,4 da Nissan (dados de 2023), pelo que sem os japoneses, os franceses ficam substancialmente mais pequenos e isso não é bom no que respeita à partilha de custos de investigação e desenvolvimento. Contudo, neste sector o volume de vendas não é tudo, atendendo a que o Grupo Volkswagen (cerca de 9 milhões de unidades/ano) e a Stellantis (6 milhões) são o primeiro e o segundo maiores grupos europeus e, ainda assim, atravessam igualmente uma situação muito complexa.