O juiz de Barcelona Joaquín Aguirre decidiu abrir uma nova investigação para apurar as alegadas ligações de Carles Puigdemont, principal organizador do referendo de 2017, com a Rússia. O ex-presidente do parlamento catalão pode ser acusado de alta traição, um crime que está excluído da lei da amnistia aprovada entre o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, e os independentistas da Catalunha.
Ainda que a Justiça espanhola tenha ordenado há três semanas que Joaquín Aguirre encerrasse um inquérito do envolvimento de Carles Puigdemont com o Kremlin, o juiz arranjou uma forma legal de abrir uma nova investigação que visa o ex-presidente do governo catalão e outras doze pessoas — entre jornalistas, ativistas e empresários.
O crime de traição está excluída da lei da amnistia em certos moldes, principalmente se existir uma “ameaça efetiva e real” e se ficar provado o “uso efetivo da força” contra a integridade territorial de Espanha. Apesar de ainda estar numa fase preliminar, esta investigação pode, no futuro, complicar o regresso de Carles Puigdemont à Catalunha.
Jordi Turull, secretário-geral do Junts per Catalunya — partido fundado por Carles Puigdemont —, considera que o juiz apenas procura “vingança” sem nenhum tipo “de escrúpulos ou vergonha”. As alegadas ligações ao Kremlin são uma “fantasia inventada”, prosseguiu o responsável político. Por sua vez, o advogado Gonzalo Boye, que representa o ex-presidente do parlamento catalão, disse ser um “delírio” do magistrado resultante do consumo de “psicotrópicos”.
O juiz insistiu que é necessário investigar as alegadas ligações da Rússia ao movimento independentista catalão. Joaquín Aguirre salienta que a Catalunha pode ter sido alvo de uma “campanha de confronto informativo durante os anos” que antecederam ao referendo, que pode ter colocado em causa a “ordem constitucional”.
Essa campanha e a maneira como vários políticos catalães atuaram antes do dia 1 de outubro de 2017, continua Joaquín Aguirre, pode ser um “elemento subversivo interno” que, se tivesse tido sucesso, poderia fazer com que a Rússia pudesse contar uma forma de desestabilizar a União Europeia.
Das criptomoedas aos 10 mil soldados russos: Puigdemont reuniu-se com aliado de Putin antes de declarar independência
Em maio de 2022, a imprensa espanhola noticiou que o antigo líder do governo catalão reuniu-se, na sua residência oficial, com um representante de Vladimir Putin, Nikolai Sadovnikov, um dia antes de declarar unilateralmente a independência da Catalunha em outubro de 2017. O gabinete do ex-presidente admitiu a existência do encontro, mas garante ter rejeitado a oferta da Rússia por ser “inconveniente e pouco credível”.
Nessa reunião, a Rússia terá proposto ceder 10 mil soldados russos que apoiariam a causa independentista catalã, perdoando também a sua dívida pública. Em troca, a Catalunha teria de adotar uma legislação permissiva no que concerne às criptomoedas, o que iria, de acordo com a versão do Kremlin, transformar a região numa nova Suíça.