Wilker Dias, o diretor executivo da Plataforma Eleitoral Decide, uma Organização Não Governamental (ONG) que congrega outros grupos da sociedade civil moçambicana, sobreviveu a um envenenamento na sexta-feira, revelou o ativista ao Observador na manhã deste domingo.
Depois de beber uma água mineral, sentiu-se mal, contou depois o professor universitário de 29 anos num vídeo nas suas redes sociais, como o X. Foi ajudado por três jovens, que lhe prestaram “primeiros socorros ” e o fizeram vomitar “o que tinha ingerido”. Já no hospital, onde recebeu assistência médica, as análises revelaram “vestígios de arsénico em quantidades consideráveis na água”.
Eram 7 vidas, foram 2 fiquei com 5….
Vamos até ao fim ❤️✊???????????? meus irmãos
Obrigado pelo carinho ???????? pic.twitter.com/XCYeu0rsXO— Wilker Dias???????? (@wilkerDias13) December 8, 2024
Wilker explica que esta substância química, quando misturada na água, não deixa qualquer sabor ou cheiro, “pode causar danos e até a morte”.
O analista termina o vídeo dizendo que está bem, que “a luta continua” e que vai “continuar a defender os direitos humanos”.
Wilker e a Plataforma Eleitoral Decide têm tido um papel fundamental na ajuda a vítimas de repressão policial nas manifestações que há mais de um mês abanam Moçambique. Por outro lado, é através desta organização não governamental que se vão conhecendo os números de mortos, feridos e baleados, nos protestos convocados por Venâncio Mondlane, o candidato presidencial que a Comissão Nacional de Eleições diz que perdeu e que milhares de moçambicanos gritam que venceu, desde 21 de outubro.
Durante dois dias essa contagem não foi atualizada, percebe-se agora porquê, mas este domingo a Plataforma apresentou os números de mortes até, sexta-feira, dia 6: 103 mortes.
Wilker Dias não foi o único membro da Plataforma Eleitoral Decide a ver a sua vida ameaçada. No dia seguinte, um colega, o responsável pela comunicação, sofreu uma tentativa de rapto. Numa nota de “repúdio à perseguição de membros da Decide” publicada nas suas redes sociais, a ONG conta que perto das 19h00 de sábado, na Cidade da Beira, no Bairro do Esturro, perto do mercado um Toyota Hilux de cor branca e sem matricula, “tentaram carregá-lo à força” e só não o conseguiram porque várias pessoas que estavam no local o impediram.
Venâncio Mondlane viu-se obrigado a deixar o país depois de, durante uma conferência de imprensa onde assinalava o assassinato do advogado Elvino Dias, figura chave da sua candidatura e de Paulo Guambe, da comunicação do Podemos — Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique, que apoia Venâncio — ter sido atacado, bem como os jornalistas com gás lacrimogéneo. Já no estrangeiro, voltou por várias vezes a ser alvo de tentativas de morte, a última das quais precisamente na sexta-feira, como contou no Facebook.
Também Manuel de Araújo, presidente da Câmara de Quelimane e candidato a governador da Zambézia pela Renamo, já fez saber nas suas redes sociais que se aparecer morto, todos saberão quem foi: a Frelimo.
Ao Observador o político do partido histórico moçambicano disse este domingo à noite que têm sido várias as ameaças de morte que tem recebido. E este domingo foi-o novamente. Quando a população soube que poderia correr risco de vida, correu para junto do autarca que fez um comício improvisado.
Pouco tempo antes “tinham neutralizado um agente” na marcha pacífica pela reposição da verdade eleitoral que o jornalista Zito Ossumane, com quem o Observador também falou para um artigo sobre Moçambique, tal como Wilker Dias e Manuel de Araújo, livrou da fúria popular.