“O anúncio de Iohannis dá aos europeus de Leste um pretexto para apresentarem novamente o argumento de que estão a gastar mais em Defesa do que a Europa Ocidental”, sinaliza Jamie Shea, mostrando que é aquela região da Europa que mais “enfrenta a Rússia”: “Então, é a sua vez de liderarem a aliança”. Num artigo de opinião publicado no Politico, em que detalhava as principais prioridades do seu futuro mandato, o chefe de Estado romeno enfatizava precisamente esse ponto: “Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para atingir os 2% do PIB em despesas com a Defesa o mais rapidamente possível”.
Além disso, Klaus Iohannis destacava que eram as “fronteiras de Leste e do Sul” da NATO que estavam mais expostas a ameaças, mostrando que a Roménia é um país que geograficamente localizado nesses dois pontos geográficos. “[As fronteiras] devem ser fortalecidas. E não nos devemos esquecer do Extremo Norte e dos Balcãs Ocidentais e a sua importância para a nossa segurança é indiscutível.”
Apesar destas reivindicações, no entender de Jamie Shea, as chances do Presidente romeno substituir Jens Stoltenberg são baixas. O especialista ressalva, porém, que a candidatura de Klaus Iohannis não pode ser “facilmente descartada”, já que “apresenta um plano detalhado” para o futuro da NATO. A embaixadora norte-americana na aliança elogiou o chefe de Estado romeno, “respeitando” a sua decisão de apresentar à corrida, ainda que os EUA não o tenham apoiado.
Do Leste da Europa chegaram, no entanto, más notícias para a candidatura de Klaus Iohannis. A primeira-ministra da Estónia, uma das líderes mais respeitadas desta região, anunciou que apoiaria Mark Rutte. Numa publicação no X (antigo Twitter), Kaja Kallas escreveu que apoiará o primeiro-ministro demissionário, após uma discussão “profunda” com o líder neerlandês. E deixou vários recados que mais parecem ter servido como condições para esse apoio: a NATO precisa de estar muito “atenta à Rússia”, tem de “aumentar os gastos em Defesa”, tem de “apoiar a adesão da Ucrânia” à aliança e tem de subscrever o princípio do “equilíbrio geográfico”.
For a strong #NATO, we need to be clear-eyed on Russia, boost deterrence and defence spending, back Ukraine’s membership, and geographic balance.
I have discussed this in depth with @markrutte and he commits to these priorities. Estonia can back him for NATO’s Secretary General.
— Kaja Kallas (@kajakallas) April 2, 2024
Eslováquia, Hungria, Roménia e Turquia ainda não estão completamente convencidos com a candidatura de Mark Rutte. De acordo com Jamie Shea, o governo húngaro e o turco podem mesmo “atrasar” a eleição do primeiro-ministro neerlandês, tal como fizeram com a adesão da Finlândia e da Suécia. O objetivo? Tentar ganhar alguma vantagem com a intransigência.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, tem mantido uma posição ambígua sobre o apoio a Mark Rutte. O líder da Turquia apenas refere que o país vai apoiar um líder que defenda os “interesses” de Ancara e que tenha em consideração os problemas dos Estados-membros que não integram a União Europeia. E deixou uma pista, segundo a agência de notícias TRT: o novo secretário-geral tem de ter como uma prioridades o combate contra o terrorismo.
Por seu turno, a Hungria já se opôs à candidatura do ainda primeiro-ministro dos Países Baixos. Viktor Orbán e Mark Rutte não escondem a animosidade que sentem um pelo outro. “Certamente não podemos apoiar a eleição de um homem para o cargo de secretário-geral da NATO que queria forçar a Hungria a ajoelhar-se”, atirou o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Péter Szijjártó.