A líder parlamentar do Partido Socialista, Alexandra Leitão, considerou, esta quarta-feira, que a primeira mensagem de Natal do primeiro-ministro, Luís Montenegro, “contrasta com a realidade” do país e acusou o governo de “não resolver os problemas” dos portugueses em áreas como a saúde ou a habitação.
“É uma declaração que contrasta com a realidade, desde logo com as medidas que o Governo e que os partidos que o apoiam tomaram recentemente, seja em matéria de SNS ou em matéria de segurança”, disse Alexandra Leitão.
“Este Natal foi o Natal em que houve mais urgências obstétricas fechadas dos últimos anos. Tivemos notícias de que o preço da habitação subiu para valores recorde, impossibilitando a classe média de comprar casa. O PS tinha avisado que essa era a consequência óbvia das medidas que o Governo adotou. Na educação continuamos a ter milhares de alunos sem professor”, sublinhou a líder parlamentar do PS, acusando o Governo da Aliança Democrática de usar temas como a segurança e o acesso de não residentes ao SNS para “desviar a atenção do facto de o Governo não estar a resolver os problemas dos portugueses”.
“O Governo cavalga uma perceção de insegurança que não é real e que aproveita para entrar numa deriva de populismo securitário, e que em alguns momento instrumentaliza as próprias polícias”, disse a responsável socialista, defendendo que o Governo coloca em causa o estado social quando exclui do “direito à saúde imigrantes em vias de regularização”. O PS considera, assim, que existe a “necessidade de humanismo, solidariedade e de investir no estado de direito e no estado social”.
Alexandra Leitão frisou ainda o que diz ser o contraste entre o discurso de Luís Montenegro e o do Presidente da República. “Contrasta também com a mensagem do Presidente da República, que, num artigo num jornal, chamou a atenção que é preciso promover a igualdade, afastar as exclusões, combater a descriminação. Esta foi a mensagem [de Marcelo Rebelo de Sousa], com a qual o PS não podia estar mais de acordo”, sublinhou.
Ainda à esquerda, e numa curta declaração, o Bloco de Esquerda voltou a insurgir-se contra a operação policial no Martim Moniz e acusou também o Governo de não resolver a “crise” nos setores da saúde e da habitação. “Sublinhamos que o Governo reconhece que Portugal é um país seguro. No entanto, tratar as pessoas com dignidade e humanismo não é encostá-las à parede, como vimos nas operações dos últimos dias. Tratá-las com dignidade e humanismo seria reconhecer que esta foi uma ação politicamente motivada e pedir desculpa ao país”, disse Aliyah Bhikha, da Comissão Política do Bloco de Esquerda.
“Entrámos em 2024 e saímos de 2024 com uma crise tanto na habitação como na saúde cada vez mais agravada. O Bloco de Esquerda tem apresentado propostas diversas, que fariam um caminho diferente do que tem sido feito”, sublinhou a dirigente bloquista.
Jaime Toga, dirigente do PCP, reagiu à mensagem do primeiro-ministro, em declarações à RTP, dizendo que Montenegro fala de um país que “não é o país que nós encontramos no dia a dia”. “Não nos fala do país em que dois milhões vivem abaixo do limitar a pobreza ou do milhão de reformados com pensões de miséria ou de haver 19 grupos económicos que acumulam por dia lucros de 32 milhões de euros”. Para o PCP “fala da necessidade de criar riqueza, quando o país tem é necessidade de redistribuir a riqueza”.
Fala em discurso “idílico”, quando “precisamos de respostas para o país real, em que as pessoas enfrentam necessidades”. O Orçamento do Estado não teve resposta, nem o discurso do primeiro-ministro, concluiu.
“O primeiro-ministro fala-nos num país que não é o país que nós encontramos no dia-a-dia. Não nos fala do país em que 2 milhões de portugueses vivem abaixo do limiar de pobreza, dos quais 300 mil são crianças. Não nos fala do facto de haver 1 milhão de reformados com pensões de… pic.twitter.com/5sQHTb9Pgr
— PCP (@pcp_pt) December 25, 2024
Já o deputado Paulo Muacho, do Livre, considera que Luís Montenegro tentou mostrar uma pintura positiva, mas o Livre dá “uma nota muito negativa” e diz ter “muitas reservas do trabalho do Governo”. Em nenhuma das áreas referidas por Montenegro o Livre viu o mesmo filme. Para o Livre, na segurança e imigrações, “temos visto uma cedência retórica à extrema-direita e numa política cada vez mais securitária”.
Na saúde, recorda Muacho, em declarações à RTP, ainda hoje “tivemos 11 serviços de urgência encerrados. A maioria dos problemas do SNS continuam por resolver e o Governo não tem dado essa resposta”. Na educação, “há milhares de alunos sem aulas e há o falhanço do programa nesse plano”. O Governo, refere ainda o Livre, não tem apresentado soluções para o problema da habitação. Ainda que aplauda a referência às questões da violência doméstica, Muacho diz que ainda há poucos dias o primeiro-ministro desvalorizou os números.
Para Paulo Muacho, a política do Governo tem sido de descida de impostos que “privilegia quem tem mais e não precisa desses apoios”. E o aumento extraordinário de pensões foi feito contra a vontade do Governo. Por fim, no combate às alterações climáticas o Livre aponta uma “política de ecologia sem grande plano de ação”.
À direita, a Iniciativa Liberal acusou o primeiro-ministro se dirigir aos portugueses “com um projeto político esgotado”. “É como se a aprovação do orçamento tivesse esgotado toda a capacidade política do Governo. O que o primeiro-ministro fez é um resumo do que aconteceu e nota-se uma enorme distância entre aquilo que o primeiro-ministro diz ser um sucesso do seu governo e as condições de vida dos portugueses e o que essas medidas vão trazer”, disse o presidente do partido, Rui Rocha, aos jornalistas.
O dirigente liberal diz que o Governo se tem mostrado incapaz “de trazer uma mudança a sério ao país e de cumprir o programa que a AD apresentou nas eleições.” “Não há capacidade de inovação, não há ambição, não há energia e mesmo que foi aprovado fica muito aquém das promessas eleitorais da AD. Não vemos vontade reformista. O país precisa de ter menos impostos e de uma carga fiscal mais baixa”, defendeu.
Como seria de esperar, a única reação alinhada com a de Montenegro veio do próprio PSD, pela voz do vice-presidente Carlos Coelho. “É uma declaração que, em vez de olhar para o passado, olha para o futuro, com uma mensagem de esperança. Nos votos para 2025 que o primeiro-ministro fez, estão contidas algumas medidas que serão tomadas no próximo ano: a melhoria dos serviços de saúde e de educação, na imigração regulada, na mobilidade verde e nos melhores transportes públicos, e no maior investimento alguma fez feito na habitação pública desde há muitos anos”, destacou o dirigente social-democrata.
Relativamente ao tema da segurança, Carlos Coelho sublinhou que “Portugal tem, relativamente a outros países, um património de imagem de segurança” tem de ser preservado, respeitado e mantido e lembrou que “não são os partidos e nem sequer é o governo que decide quando são necessárias operações de natureza policial”, sublinhando que isso cabe às “forças de segurança face às análises de risco e aos dados que têm”.