Ainda na Feira do Livro de Lisboa, o candidato da Iniciativa Liberal ainda tinha preparado mais um número político. Para Tânger Corrêa, do Chega, Cotrim reservou “A Conspiração do Kremlin”, de Joel C. Rosenberg. “A conspiração é uma coisa que parece que assiste ao Tânger Corrêa. E porque no enredo, curiosamente, Czar russo invade os países bálticos, coisa que talvez o Tânger Corrêa achasse impossível. Para ele os russos até podem ser apaziguados”, provocou.
À medida que ia tirando os livros do saco sem que os jornalistas pudessem antecipar a escolha, Cotrim mostrou um outro exemplar de “A Conspiração do Kremlin” para oferecer a João Oliveira, da CDU. “Acho que o Chega e o PCP têm tanta coisa em comum. Não admira que algum do eleitorado se toque.”
Minutos antes, Cotrim Figueiredo esteve à conversa com jornalista e responsável pela editora Zigurate, Carlos Vaz Marques. O liberal acabaria por comprar dois livros — “Na Cabeça de Xi” e “Na Cabeça de Putin” — como pretexto para voltar a alertar para a importância destas eleições europeias num contexto de grande tensão e instabilidade geopolítica.
“Estes livros são para aqueles portugueses que acham que a história não se repete, que apaziguar tiranos é uma boa ideia, que ignorar os riscos para a liberdade é uma boa ideia, recuem 100 anos. Também achavam isso nessa altura e viu-se o que se passou no século XX. E também para aqueles que acham que não faz mal concedermos um bocadinho e [avançarmos] com limitações na liberdade de expressão ou na liberdade de circulação e acham que aquilo que fundou a Europa não precisa de ser defendido quando temos tirano na China, na Rússia e na Coreia do Norte que têm como missão de desestabilizar as democracias.”
O liberal não ficaria sem resposta de Tânger, que aconselhou João Cotrim Figueiredo a “ir tratar-se”. Já em Quarteira, confrontando com as declarações do candidato do Chega, o liberal manteve a crítica. “Então vamos ver uma a uma as propostas em que o Chega e o PCP têm votado lado a lado na Assembleia da República, nomeadamente em relação ao apoio a determinadas corporações, à privatização da TAP, à descida de impostos, à forma como devem ser organizadas determinadas funções do Estado, e vão-se encontrar muito mais parecenças do que as pessoas imaginam. Há mais parecenças entre o PCP e o Chega do que as pessoas imaginam.”
No Algarve, um bastião do Chega, o cabeça de lista da Iniciativa Liberal procurou, mesmo assim, fazer a distinção entre o Chega e os eleitores do partido, alertando para a necessidade de se perceberem as motivações de quem vota em André Ventura. Não devemos desvalorizar a preocupação das pessoas que as levou a votar por protesto ou por acharem que aquelas soluções são boas no Chega. Essas pessoas não são deploráveis. Essas preocupações são legítimas e devem ser encaradas. É a desilusão que, em qualquer sistema, mais alimenta as hostes dos partidos extremistas, à esquerda e à direita”, insistiu Cotrim.
Horas mais tarde, depois do jantar, no discurso perante militantes e simpatizantes da IL, Cotrim pediu a todos aqueles que votaram no Chega e que agora estarão arrependidos que reconsiderem o voto e escolham a IL nestas europeias. “Berraria não é sinal de coragem. Bocas não são sinónimo de força. Não está na hora de votar na IL? Preferem ver-se representados em Bruxelas por mim ou pelo Tânger Corrêa? Isto é uma coisa séria. Votem na IL.”
Depois do susto, não há espaço para experimentalismos. Iniciativa Liberal investe tudo na marca “Cotrim”
De manhã, ainda na Feira do Livro de Lisboa, João Cotrim Figueiredo foi confrontado com as declarações de Luís Montenegro, que tinha aconselhado a oposição a ter mais “pedalada” para acompanhar o Governo. Mesmo sem elogiar abertamente o social-democrata, Cotrim acabou por fazer uma distinção entre o atual primeiro-ministro e o antecessor: mais vale pedalar do que ficar parado.
“Prefiro ter trabalho. Como cidadão prefiro que as oposições tenham muito trabalho a tentar melhorar ou até criticar aquilo que está a ser feito do que se queixem permanentemente, que foi o meu caso quando era deputado, de ninguém estar a querer fazer nada, que as reformas arrepiam o primeiro-ministro, de estar tudo a ver o comboio a aproximar-se e estar placidamente no meio da linha”, sugeriu Cotrim.
À medida que o candidato ia percorrendo os corredores da Feira do Livro de Lisboa, instalada no Parque Eduardo VII, as perguntas e respostas circulavam invariavelmente em torno de conceitos como a liberdade e, em particular, a liberdade de expressão. Foi nesse momento que o candidato da Iniciativa Liberal voltou a falar do diferendo entre José Pedro Aguiar-Branco e algumas bancadas parlamentares a propósito das declarações polémicas de André Ventura sobre os turcos.
Cotrim não só manteve o seu entendimento — não deve haver limitações às “baboseiras” que se podem dizer porque a liberdade de expressão é um pilar fundamental da democracia — como ainda criticou Augusto Santos Silva, acusando o antigo presidente da Assembleia da República de ter alimentado um confronto permanente com o Chega por pura tática eleitoral.
“À primeira ou segunda interjeição podia ter sido uma coisa espontânea de querer mostrar que há limites, que está fora daquilo que seria a norma da Assembleia da República. A partir do momento em que se percebe que essas interjeições funcionavam a favor do infrator e insistem… Não tenho as pessoas como burras, portanto só posso inferir que a intenção era continuar a favorecer [Ventura], com aquela velha teoria de que um Chega forte é a garantia que o PS se eternizava no poder. Se foi isso, é gravíssimo”, atirou Cotrim.