Abriu-se uma pequena janela de oportunidade, fechou-se a porta da tal redenção que Miguel Oliveira tanto procura com o passar das corridas. Na manhã deste sábado, mesmo sabendo que não partia como favorito a um dos dois lugares de acesso à Q2, o piloto português conseguiu surpreender e saltou mesmo para a fase de qualificação seguinte. Aí, não foi além do 12.º lugar mas ficava essa esperança de que poderia alcançar algo mais, neste caso entrar nos pontos, na sprint. Tinha acontecido em Espanha pela primeira vez, não voltou a acontecer agora em França. E, no final do dia, era visível a frustração pela 11.ª posição conseguida.
“Tivemos uma boa performance na Q1 mas depois na Q2 tive três voltas de seguida com bandeiras amarelas, por isso não consegui fazer muito mais. Na sprint, foi um pouco desapontante porque tive um problema no pneu da frente ou na parte frontal da moto. Basicamente a frente fugia-me imensas vezes, logo após travar e quando acelerava. Mesmo indo lento, estava sempre prestes a cair, foi muito estranho. Apenas tentei forçar e não cair ao mesmo tempo. Não posso dizer o que era mas algo estava mesmo mal e a equipa ainda está a tentar perceber o que se passou, para garantir que amanhã [domingo] não se repete. De qualquer forma, parece que vamos ter um dia bem diferente, por isso temos de estar prontos para tudo e, depois, adaptarmo-nos ao que acontecer na pista”, tinha comentado Miguel Oliveira na antecâmara da corrida.
Olhando para aquilo que tem sido a época do português, não seria normal encontrar este tipo de explicações depois de uma corrida. Aliás, o próprio chefe de equipa da Trackhouse Racing, Davide Brivio, projetara este fim de semana em Le Mans como mais um degrau a subir. “Iremos manter o ímpeto depois de termos encontrado melhorias em Austin. Também sinto que Jerez foi uma ronda positiva para nós, fomos capazes de confirmar alguns ganhos, quer no fim de semana de competição, quer no teste de segunda-feira. Temos de continuar este trabalho com os nossos pilotos e a nossa equipa para aprimorar afinações e processos. Vejo o Miguel e o Raúl a ficarem cada vez mais familiarizados com as motos deles e a estarem mais confortáveis e iremos para França prontos para lutar por mais desempenho”, referira. Não foi assim.
Era neste contexto que chegava então o Grande Prémio de França, no circuito Bugatti, com Miguel Oliveira a sair de uma posição que lhe permitiria melhorar com um bom arranque e procurar o terceiro top 10 da época depois do nono lugar no Algarve e da oitava posição em Jerez de la Frontera. Mais: um posto que garantisse que ficava à frente do companheiro Raúl Fernández, algo que não tinha acontecido no primeiro dia de treinos e na sprint. Não sendo algo que por si valesse um qualquer ponto extra, também teria a sua importância no decorrer da temporada e naquilo que será o ano de 2025. E o português apostava forte nessa melhoria.
Começou por correr bem, mesmo não subindo qualquer posição: com Pecco Bagnaia na frente em grande despique com Jorge Martín, Aleix Espargaró conseguiu passar para o terceiro lugar apesar de ter saído de pista, Marc Márquez saltou para o oitavo posto e Raúl Fernández foi o que mais perdeu, descendo a 16.º. No entanto, as primeiras desistências estavam a chegar: Pedro Acosta arriscou em demasia entre Aleix e Fabio Di Giannantonio, travou demasiado em cima e acabou por sofrer a primeira queda da temporada, Marco Bezzecchi também perdeu a frente e caiu. O português, que passara Miller, já estava na nona posição.
A corrida iria depois entrar numa fase mais “tranquila”, com Oliveira a rodar atrás de Quartararo e à frente das duas KTM de Brad Binder e Jack Miller. Só mesmo a meio da corrida voltaram a surgir incidências que iriam mexer na prova: Aleix Espargaró já tinha descido a sexto, teve depois outra saída longa num incidente com Enea Bastianini que valeu uma sanção ao italiano e o piloto de Almada voltou a subir mais uma posição para oitavo, tendo Aleix na frente com Quartararo em sexto. Lá na frente, Martín continuava a mostrar-se a Bagnaia, Di Giannantonio rodava em terceiro mas Marc Márquez conseguira passar Maverick Viñales, que desta vez não mostrava os mesmos argumentos que ajudaram a chegar a pódios em 2024.
A 11 voltas do final, as desilusões. Para os adeptos portugueses, para os adeptos franceses. Miguel Oliveira foi começando a perder posições, percebia-se que havia algum problema na moto e acabou mesmo por entrar no pit lane, terminando de forma inglória a corrida. De seguida, Fabio Quartararo, que procurava forçar o seu andamento para entrar no top 5, caiu e desistiu. Não só pela queda do francês mas também pelo ritmo em perda de Di Giannantonio, o português perdeu a oportunidade de fazer o melhor resultado de 2024 e voltou a ser traído por uma espécie de lei de Murphy onde tudo o que podia correr mal, corre ainda pior, da moto às afinações, dos pneus ao set up que o coloca atrás de todos em determinados setores.
Todas as atenções passavam a estar focadas na frente, com Marc Márquez a aproveitar a luta entre Bagnaia e Martín para se aproximar do primeiro lugar e poder entrar na disputa pela vitória já com Viñales demasiado longe para poder ser uma ameaça ao pódio do espanhol e a mais um 1-2-3 das motos com motores Ducati. Nas duas últimas voltas, um espectáculo que promete ser uma constante até ao final do Mundial: Martín passou para a liderança, Bagnaia ia apertando o piloto da Pramac, Márquez estudava a melhor forma de colocar a sua Gresini na frente e o espanhol ainda ganhou o segundo lugar ao italiano, que não só se viu privado de tentar seguir atrás de Martín como não conseguiria responder no final a Marc Márquez.