O Ministério da Cultura “está a analisar as soluções possíveis, no quadro das limitações que decorrem dos compromissos já assumidos”, disse à agência Lusa, numa resposta escrita, fonte oficial do gabinete de Dalila Rodrigues, quando questionada sobre se haveria vontade do atual Governo de rever o processo.
“Desde que o atual Governo tomou posse no passado dia 02 de abril, a ministra da Cultura tem mantido contacto com o diretor da Bienal, bem como com o senhor ministro da Economia, por se reconhecer que a bienal Anozero se concilia harmoniosamente com as componentes histórico-artísticas do monumento, não obstante a necessidade da sua reabilitação”, vincou fonte do Ministério.
A 10 de abril, a Turismo de Portugal confirmou que a empresa Soft Time venceu o concurso público para a concessão e transformação num hotel de cinco estrelas do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, espaço central para a programação da bienal de arte contemporânea de Coimbra Anozero, que já admitiu que, com as condições previstas naquele processo, poderia acabar.
Na resposta, a tutela lamentou que, no processo de transição, não tenha havido “qualquer referência à bienal Anozero, o que deixa claro que, para o anterior executivo, esta situação era irreversível”.
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O gabinete de Dalila Rodrigues recorda que foi o Governo anterior, liderado pelo PS, que decidiu transformar o Mosteiro numa unidade hoteleira, no âmbito do Revive (programa destinado à transformação e requalificação de património do Estado), “comprometendo a possibilidade de a bienal Anozero prosseguir naquele espaço, nas condições em que a sua organização preconiza”.
A 10 de abril, a Turismo de Portugal informou que foi dada como encerrada a fase pré-contratual do concurso lançado no Revive, que previa a transformação de uma área edificada de cerca de 13 mil metros quadrados num hotel de cinco estrelas, com um prazo de concessão de 50 anos.
O procedimento público contou com duas propostas, mas a empresa que ficou em primeiro lugar desistiu do processo, tendo sido posteriormente contactada a Soft Time.
No mesmo dia desse anúncio, o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), entidade que coorganiza e produz a Anozero, disse que estavam “reunidas as condições” para a bienal acabar, face ao avançar do processo.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, referiu que aquele monumento “não pode continuar a degradar-se como tem estado a acontecer”, mas admitiu que o município estaria disponível para considerar “todas as hipóteses que tragam associadas investimento”.
“Se alguém conseguir investimento público para recuperar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova e o orientar para outro destino, nomeadamente para a bienal, nós teremos todo o gosto nisso”, frisou.
Também na segunda-feira, centenas de pessoas, entre agentes culturais, públicos e profissionais do meio, assinaram uma carta aberta ( dirigida ao primeiro-ministro, ministra da Cultura, ministro da Economia e presidente da Câmara de Coimbra a defender a bienal Anozero no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
“Nós, fazedores/as e públicos, reivindicamos uma solução, construída por um diálogo, que permita que a bienal Anozero solidifique a relação da arte com a vida desta cidade a partir deste espaço”, salienta a carta, que defende que devem ser consideradas condições “que permitam o desenvolvimento e aprofundamento” da bienal naquele espaço.