“Não passarão!”. O grito improvável encheu, pouco passava das dez da noite desta sexta-feira, o café do Teatro Municipal da Guarda, onde decorreu mais um comício do PS. A frase — que vem recuperar o lema que António Costa passou a campanha de 2022 a atirar contra o Chega — chegava em reação a mais um discurso contra a direita e a extrema-direita. Apesar de o PS dizer que não quer “misturar” essas duas direitas, o que é certo é que nesta campanha tem sido rara a intervenção em que essa associação não é feita ou essa “contaminação” não é referida — apesar de esta não ser uma ideia completamente consensual no interior do partido.
O guião está feito: se nas legislativas de 2022 o PS se focava, a nível nacional, em agitar o papão de possíveis acordos entre o PSD de Rui Rio e o Chega, desta vez o foco são as possíveis alianças entre PPE (a família política de PSD e CDS na Europa) e o grupo dos Conservadores e Reformistas, que inclui partidos como o Vox ou os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, e pondera apoiar Ursula Von der Leyen para a Comissão Europeia.
Ora na campanha do PS os ataques começaram por ser feitos sobretudo por esse lado, com críticas constantes à disponibilidade da presidente (recandidata) da Comissão Europeia para ser “capturada” por partidos extremistas e por se mostrar “condescendente” com a extrema-direita. Mas chegam agora a todas as frentes: os socialistas dizem estar preocupados com os “retrocessos” que uma associação entre a família europeia da AD e a extrema-direita (parcialmente incluída no grupo dos Conservadores e Reformistas) pode representar. E esse tem sido o eixo central da mensagem que vão passando.
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Por todo o lado, na campanha do PS, se ouve a palavra “retrocesso” associada à direita. Nos sacos de pano que o partido distribui, onde se lê que o seu lema é “mais progresso, menos retrocesso”. Nas incontáveis referências aos “ataques” a direitos que os socialistas vislumbram, à cabeça o direito ao aborto — que o PS quer ver inscrito na Carta dos Direitos Fundamentais, contra a vontade da AD, que defende que há um conflito entre direitos no plano jurídico. E nas associações aos partidos de direita radical, que os socialistas garantem estar a contaminar o discurso e as prioridades da direita “dita moderada”.