Quis contar uma história de “alegria e esperança”, que neste caso se revelará através do guarda-roupa. Aos 74 anos, “renascimento” é a palavra eleita por Jean-Charles de Castelbajac para descrever à WWD a cerimónia de reabertura da Catedral de Notre-Dame, agendada para o próximo dia 7 de dezembro (no dia seguinte, abre ao público em geral). Depois de em 1997 ter colaborado com a Jornada Mundial da Juventude, vestindo inclusivamente o Papa João Paulo II; o designer francês anunciou nas suas redes o renovar do vínculo com a igreja Católica: coube ao francês criar as vestes que serão usadas por 700 bispos, padres e diáconos na cerimónia em Paris, avançava o The Times.
Para a empreitada, Castelbajac trabalhou com o Le19M, o centenário centro parisiense idealizado pela Chanel que reúne uma verdadeira constelação do know-how gaulês. “A luz e o seu brilho guiaram o meu gesto criativo, pensei no brilho da cor na pedra clara renascida da Notre-Dame. O meu trabalho concentrou-se no ritmo cromático e na força do ouro. Ecoando os vitrais, a cor é omnipresente nas casulas brancas, em redor da cruz dourada.”, descreve. “Imaginei esses elementos paramentiais, para criar um ritmo de alegria no coração da catedral.”
O designer agradeceu ainda a Gilles Rosier, gestor do projeto, bem como ao capelão Guillaume Normand e à equipa da Notre-Dame de Paris “pelos valiosos conselhos” para levar este trabalho titânico por diante. Os paramentos reservados à liturgia bebem do labor de ateliers de joalharia como a Goosens, e processos como a estampagem e bordado ficaram nas mãos da Lesage. Da Rue Cambom chega ainda o contributo da chapelaria Maison Michel. E o atelier Paloma reforça os apontamentos de alta-costura presentes nas criações. No total, tratam-se de 2.000 peças, incluindo estolas, casulas e dalmáticas, anunciava ainda em junho a diocese de Paris. Após este período, figuras como o arcebispo de Paris usarão exclusivamente os designs de Castelbajac em ocasiões como a Páscoa, Natal e outros momentos especiais.
Conhecido pelo recurso às cores primárias, ao jornal La Croix Castelbajac adiantou ainda que “partiu da cruz do coro de Notre-Dame, desenhado por Marc Couturier”, que permaneceu de pé após o incêndio de 2019, como fonte de inspiração para todo o trabalho, estreando-se assim no uso do ouro. A cruz revela-se na frente, no centro das casulas, mitras e estolas, como “um farol, um marco, um estandante”. As casulas episcopais, aliás, terão 12 cruzes para simbolizar os 12 apóstolos. O designer, que preferiu a “sobriedade e elegância”, acrescenta que pretendeu incutir também “um pouco de épico espiritual: precisamos falar sobre coragem às gerações mais jovens”. Após o “período inaugural da Catedral de Notre-Dame, que se estenderá até o Pentecostes de 2025”, o la Croix refere que uma casula será oferecida a cada paróquia de Paris.
A capital francesa ensaia o regresso de um símbolo da cidade que em 15 de abril de 2019 seria afetado por um gigantesco incêndio. Os bombeiros lutaram contra as chamas ao longo de 15 horas, com a estrutura de madeira a ceder a um aparente curto-circuito. As imagens do fogo correram mundo e após a sua contenção os estragos ficaram à vista. O pináculo colapsou e perfurou a abóbada, a cobertura de chumbo derreteu, e a estabilidade do edifício ficou comprometida. Em pouco tempo, uma mobilização global conseguiu angariar 846 milhões de euros em doações, oriundas de de 150 países. E o Estado francês, proprietário do edifício, comprometeu-se em reerguer a catedral em cinco anos. Assim será.
De Andy Warhol a Keith Haring, de Jean Michel Basquiat e Malcolm McLaren, são muitas e variadas as afinidades de Jean-Charles pelo mundo das artes e da moda. Em outubro de 2018, colocou o humor e abordagem pop ao serviço da direção artística da United Colors of Benetton.
Nascido em Marrocos, em 1949, da mente e mãos daquele a quem chamaram “rei do kitsch”, saíram sucessos internacionais como o casaco de ursinhos de peluche usado por Madonna, um casaco militar azul usado por Beyoncé num videoclip, uma camisola com o Pato Donald desfilada por Rihanna, ou o macacão resgatado do arquivo por Zendaya nos Jogos Olímpicos deste ano.