A fotografia de família da cimeira do G20, que termina esta terça-feira no Rio de Janeiro, Brasil, ficou incompleta, depois de o Presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, terem chegado atrasados à sessão fotográfica que decorreu na segunda-feira.
De acordo com as agências de notícias internacionais, a gaffe foi atribuída pela Casa Branca a questões “logísticas”. Chegou a especular-se que Biden teria intencionalmente falhado a sessão fotográfica para evitar surgir na mesma fotografia que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, que representou Moscovo na cimeira — uma ideia que foi desmentida por fontes da Casa Branca à imprensa internacional.
As fotografias oficiais deixaram transparecer outra controvérsia a marcar a cimeira do G20: a tensão evidente entre o anfitrião da cimeira, o Presidente brasileiro Lula da Silva, e o Presidente argentino, o ultraliberal Javier Milei. A tensão política entre os dois tornou-se manifesta nas fotografias do momento em que Lula recebeu pessoalmente cada um dos participantes da cimeira antes da grande fotografia de família: basta olhar para este comparativo do jornal O Globo para ver como a fotografia com Milei foi a única em que Lula não sorriu.
A fotografia de grupo do G20 foi tirada na segunda-feira no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que acolheu a cimeira de dois dias. Como explica a AFP, a maioria dos líderes mundiais chegaram à fotografia de grupo seguindo o protocolo, percorrendo um a um a carpete vermelha instalada para o efeito e posicionando-se nos respetivos lugares no pódio para a sessão fotográfica, que durou poucos segundos.
Minutos depois, vindos de outra direção, chegaram Joe Biden e Justin Trudeau. Os líderes dos EUA e do Canadá tinham estado reunidos num encontro bilateral e, quando chegaram ao lugar da sessão fotográfica, já a fotografia de família tinha sido tirada e a maioria dos líderes mundiais já tinham dispersado. Além de Biden e Trudeu, também a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, não entrou na fotografia de família, pensada como momento de celebração da iniciativa “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”.
Apesar das especulações sobre a possibilidade de Joe Biden ter deliberadamente pretendido evitar surgir ao lado de Sergei Lavrov, do lado dos EUA aponta-se o dedo a simples questões logísticas. “Devido a questões logísticas, tiraram a fotografia mais cedo, antes de todos os líderes terem chegado”, disse à AFP uma fonte norte-americana, sob anonimato. “Por isso, um conjunto de líderes não apareceram.”
A mesma agência nota ainda que esta gaffe marca a última cimeira do G20 de Joe Biden como Presidente dos EUA — numa altura em que Biden se esforça por fazer valer o seu legado em questões internacionais, meses antes de Donald Trump tomar posse e, expectavelmente, alterar significativamente o rumo da política externa norte-americana.
Antes da fotografia de grupo, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, tinha recebido individualmente cada um dos participantes da cimeira à chegada ao Museu de Arte Moderna — incluindo o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, uma vez que Portugal participou como país convidado. Como mostram as imagens comparadas pelo jornal O Globo, Lula da Silva manteve-se sorridente na receção a todos os chefes de Estado e de Governo — à exceção do momento em que recebeu o Presidente argentino, Javier Milei.
???? Vai começar a Cúpula de Líderes do G20! Líderes dos países membros chegam à Cúpula e recebem os cumprimentos do presidente Lula. Agora eles se encaminham para o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Acompanhe nas nossas redes! #G20 #G20Brasil
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— Governo do Brasil (@govbr) November 18, 2024
Os cumprimentos entre Lula da Silva e Javier Milei duraram menos de 20 segundos e o Presidente brasileiro manteve-se sempre de cara fechada, ao contrário do que aconteceu com a generalidade dos outros líderes mundiais, recebidos mais ou menos efusivamente por Lula da Silva. A tensão entre os dois era expectável — Lula e Milei, situados em pontas opostas do espectro político, não têm poupado nas críticas um ao outro.
Países convidados e membros de organizações internacionais já começaram a chegar no #G20 para a Cúpula de Líderes. Os chefes de estado e lideres de grandes organizações recebem os cumprimentos do presidente Lula. Acompanhe! #G20Brasil
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— Governo do Brasil (@govbr) November 18, 2024
Forte crítico do multilateralismo e declarado apoiante de Trump, Javier Milei chegou à cimeira do G20 sem vontade de assinar várias das declarações finais da reunião — e até pouco disponível para conviver com os outros chefes de Estado e de Governo. Segundo o Globo, Milei chegou ao Rio de Janeiro ao final da tarde de domingo e seguiu de imediato para o hotel Othon Palace, em Copacabana, de onde não saiu nem para jantar, ficando no quarto e contactando apenas com o círculo mais próximo.
Líderes do G20 prometem uma mobilização global contra as alterações climáticas
A tensão que ficou evidente na fotografia é a dimensão visível do desconforto da Argentina de Milei na cimeira do G20. A declaração final da reunião inclui, por exemplo, o compromisso de uma “mobilização global contra as alterações climáticas” e a promessa de uma aliança global contra a fome e a pobreza, bem como referências tímidas aos vários conflitos armados em curso e à possibilidade de debater um imposto sobre os super-ricos.
Javier Milei acabou por não impedir a unanimidade da declaração e assinou o texto final dos chefes de Estado e de Governo. Porém, de acordo com um comunicado da Presidência argentina, desvinculou-se “parcialmente de todo o conteúdo ligado à Agenda 2030”, deixando “claro que, na participação no G20, não acompanha vários pontos da declaração”.
Milei discorda especificamente da “promoção da limitação da liberdade de expressão nas redes sociais”, do “esquema de imposição e violação da soberania das instituições de governação global”, do “tratamento desigual perante a lei” e da “noção de que a intervenção do Estado é a forma de combater a fome”. Para Milei, “se queremos lutar contra a fome e erradicar a pobreza, a solução passa por tirar o Estado do caminho”.