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O Cónego Jeremias e o Sínodo da sinodalidade – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 2, 2024

Aproveitando a solenidade de Todos os Santos, fui visitar o Cónego Jeremias, para com ele conversar sobre a actualidade religiosa:

– Então, Senhor Cónego, que me diz do XVI Sínodo dos Bispos?

Pois não sei se foi mesmo um Sínodo dos Bispos, porque também participaram e votaram padres, religiosos e leigos. Por isso, mais do que um verdadeiro Sínodo, que é expressão da colegialidade episcopal, melhor seria dizer que foi um simpósio, ou uma assembleia eclesial.

– Mas, que mal há em converter os Sínodos dos Bispos em assembleias eclesiais em que todos os católicos, qualquer que seja a sua condição, possam participar?!

Mal, talvez, não haja, mas corre-se o risco de perverter a estrutura hierárquica da Igreja, que é fundacional. Se a ideia é constituir uma Igreja popular, não se está a reformar a instituição, mas a criar uma nova realidade, que já não seria a Igreja de Cristo.

– O tema deste Sínodo foi a sinodalidade na Igreja. Que se concluiu?

– Que, cito, ‘Uma verdadeira conversão, em direcção a uma Igreja sinodal, é indispensável para responder às necessidades actuais’. Pretende-se uma mudança de mentalidade, para que a Igreja seja menos clerical e mais colegial. Há padres e bispos que falam muito de sinodalidade, mas depois agem como donos e senhores da Igreja, sem sequer respeitarem o direito dos fiéis a que lhes seja pregada a Palavra de Deus, que substituem pelas suas opiniões políticas, e a que lhes sejam administrados os sacramentos. Ainda há sacerdotes tão clericais que impõem aos fiéis “os seus gostos e preferências”, substituindo-se “à vontade livre dos comungantes”, ou seja, negando-lhes um direito que lhes é reconhecido pela nossa Conferência Episcopal, no seu Directório Litúrgico para este ano (págs. 27-28).

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– Um dos temas mais badalados pela comunicação social foi o da admissão de mulheres ao diaconado na Igreja católica. Que ficou decidido sobre este particular?!

No n.º 60 do texto das conclusões do Sínodo, aprovado por uma ampla maioria, mas que também foi o que teve mais votos contra (97), lê-se: ‘Esta Assembleia convida a implementar todas as oportunidades, já previstas no direito vigente, em relação ao papel das mulheres, sobretudo nos lugares em que ainda não foram implementadas.”

– Então as mulheres já podem aceder ao diaconado na Igreja católica?

Pelo contrário, porque, como aliás o Papa Francisco e o Cardeal Prefeito para a Doutrina da Fé já tinham antecipado, não era intenção do Sínodo, nem era da sua competência, resolver essa questão, nem alterar a disciplina vigente. O texto final limitou-se a afirmar que devem ser implementadas as formas de intervenção feminina “já previstas no direito vigente”. O Papa São João Paulo II já esclareceu que, na Igreja católica, não há lugar para o presbiterado e episcopado femininos.

Ficou então definitivamente resolvida a questão do diaconado feminino?

Para o Sínodo, ‘a questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal fica em aberto. É necessário continuar o processo de discernimento a esse respeito’. É pena que tenha ficado tudo na mesma, talvez porque o Sínodo não tem competência em questões doutrinais, apenas pastorais, ou por falta de coragem para tomar uma decisão definitiva, embora já esteja assente a sua inadmissibilidade em relação ao presbiterado e ao episcopado.

– E há novidades em relação ao papel dos leigos na missão da Igreja?

Sim, sublinhou-se a conveniência de criar novos ministérios laicais: ‘Com o propósito de se adaptar às necessidades actuais, o Sínodo anima as dioceses a que reconheçam e formem os leigos para as funções ministeriais, tanto no âmbito litúrgico como nas áreas sociais e pastorais’.

É de aplaudir esta maior participação dos leigos, mas há que evitar a clericalização, que atentaria contra a sua laicidade. Não se trata de converter os leigos em sacristães, mas incentivá-los para que ponham as suas competências sociais e profissionais – como pais, professores, médicos, operários, contabilistas, etc. – ao serviço da Igreja local e universal. Os leigos podem também ajudar na implementação de mecanismos de prevenção de eventuais abusos de menores e de pessoas vulneráveis.

– Na homilia da Missa de clausura, como avaliou o Santo Padre o Sínodo?

– Ciente de que este processo manteve, durante três anos, a Igreja fechada sobre si mesma, para debater a sinodalidade, o Papa Francisco pediu agora aos fiéis um novo impulso missionário: “Uma Igreja sentada, que quase sem se aperceber se afasta da vida e se confina a si mesma à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de continuar na cegueira e de se acomodar no seu próprio desconforto. E, se permanecemos sentados na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos. Por favor, peçamos ao Senhor que nos dê o Espírito Santo, para que não permaneçamos sentados na nossa cegueira; cegueira que pode ser chamada mundanidade, que pode ser chamada comodidade, que pode ser chamada ‘coração fechado’. Não permaneçamos sentados nas nossas cegueiras!”.

– Acha que a sinodalidade veio para ficar?

Com certeza, mas convém não confundir sinodalidade com sinodalite, que é a tendência doentia de tudo problematizar, para manter a Igreja fechada em si mesma, entretida a fazer reuniões, emitir comunicados e criar comissões. Dizia, com humor, um saudoso bispo português, já falecido: Quando Nosso Senhor vier, não sei se nos vai encontrar unidos, mas reunidos com toda a certeza …

A Igreja não existe para si mesma, mas para o serviço da humanidade, através do anúncio do Evangelho, a celebração dos sacramentos e a vivência da caridade. Por isso, como disse Francisco na clausura do Sínodo, há-de ser “não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo.”  Assim seja!





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