Passaram 20 anos desde que o Mágico deixou Portugal. Em 2004, há precisamente duas décadas, Deco saiu do FC Porto depois de conquistar a Liga dos Campeões e mudou-se para o Barcelona, onde se tornou o ídolo que já tinha sido no Dragão. Pelo meio, foi um elemento fulcral na Seleção Nacional de Luiz Felipe Scolari que chegou à final do Euro 2004. 20 anos depois, Deco está de volta a Portugal – de certa forma.
O atual diretor desportivo do Barcelona passou esta quarta-feira por Lisboa, numa viagem-relâmpago que não serviu para discutir os rumores da ida de Vítor Roque para o FC Porto, a eventual permanência de João Cancelo e João Félix na Catalunha ou até as expectativas da Seleção para um Euro-2024 que acontece 20 anos depois da tal final de má memória contra a Grécia. Num dia passado num hotel da Avenida da Liberdade, Deco esteve em Lisboa para apresentar o novo investimento.
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O antigo jogador, que já está presente no ramo da construção e dos media digitais e que também trabalhou como empresário, vai agora entrar na indústria alimentar através da Boali Healthy Food – uma empresa de alimentação saudável, totalmente brasileira, que vai expandir-se para Portugal ainda este ano para entrar no mercado europeu. Em resposta à pergunta óbvia, sobre o porquê de se ter aliado à Boali, Deco explicou que tudo não passou de uma coincidência.
“Conheci a Boali através do meu filho, do Pedro, que é um grande consumidor da Boali no Brasil. O interesse não aparece como investidor, aparece com a ideia de ter uma franquia da Boali na Arena DecoBeach, onde já tínhamos um restaurante, mas queríamos ter uma opção mais saudável”, começa por explicar o antigo internacional português ao Observador, referindo-se ao complexo desportivo que inaugurou em Indaiatuba, São Paulo, a cidade onde cresceu.
A partir daí, com a ajuda de um amigo em comum, Deco marcou um almoço com Rodrigo Ramos, o CEO da Boali que também esteve em Lisboa esta quarta-feira. “Foi só há uns três ou quatro meses. A ideia era falar sobre o projeto da Arena e também de outros eventos, mas a conversa migrou para outro caminho, porque quando o Rodrigo explicou todo o planeamento que já tinha de expansão internacional apareceu essa ideia de sermos sócios, de juntar sinergias para entrar no mercado português. Eles já iam entrar, mais cedo ou mais tarde, mas a minha entrada acelerou o processo”, acrescenta o diretor desportivo do Barcelona, sublinhando que só manifestou interesse em tornar-se sócio da empresa quando percebeu que a marca queria entrar no mercado europeu através de Portugal.
“Eu conheço Portugal, vivi aqui e tenho uma grande ligação a Portugal e especialmente ao Porto, como é óbvio. A ajuda que posso dar ao projeto é essa, o meu conhecimento sobre Portugal. O facto de ser em Portugal foi o que me interessou, o que me deu vontade de entrar no projeto”, indica Deco, que representou a Seleção Nacional no Euro-2004, no Mundial-2006 e ainda no Euro-2008, somando 75 internacionalizações.
A “data-chave” da Boali em Portugal é o mês de outubro, em que a empresa pretende abrir as primeiras lojas em Lisboa e no Porto, mantendo já negociações com a região do Algarve. A marca de alimentação saudável, que também já está nos EUA desde 2022, pretende abrir outras 20 unidades nos próximos dois anos, com a criação de 150 postos de trabalho diretos e um investimento de três milhões de euros.
Com 46 anos, Deco já terminou a carreira há mais de uma década e inseriu-se em vários negócios antes de regressar ao futebol propriamente dito pela porta grande, aceitando o convite para se tornar diretor desportivo do Barcelona. Para o antigo médio, porém, será cada vez mais normal que os jogadores tenham “informação sobre investimentos, sobre tudo o que os investimentos envolvem” antes ainda de terminarem as respetivas carreiras.
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“Os jogadores têm fases, enquanto ainda estão a jogar: existe a fase em que pensam muito pouco sobre o futuro, a fase em que começam a pensar sobre o futuro e a fase em que começam a preocupar-se com o futuro. No início, é muito pouco provável que os jogadores pensem sobre o que vem a seguir. A meio do caminho, já começam a ter alguma preocupação. E, no último terço da carreira, de certeza que muitos já começam a planear e a fazer investimentos. Acho que não existe um timing certo, mas tem de existir um cuidado”, atira.
Por fim, Deco garante que “nunca quis investir num setor que desconhece” e que só o está a fazer, através da Boali, por ter total confiança na preparação que a empresa já tinha realizado antes de se juntar ao projeto. “O histórico da Boali, a preparação que já tinham para entrar no mercado português, o know how, foi tudo isso que me trouxe a confiança de poder entrar. Não só pelo negócio, por essa ideia de que a Boali queria entrar em Portugal quando eu também estava à procura de outra coisa na minha vida. Ninguém foi através de ninguém e as coisas caminharam para aqui”, termina.