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“O Problema dos 3 Corpos”. A série de ficção científica que pôs a China a discutir o futuro — mas também o seu passado – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 13, 2024

Esta visão de um confronto entre civilizações é explorada na obra como sendo a da Terra contra uma de alienígenas, em que só uma das partes pode sobreviver. Outros não hesitam em ler nisto uma metáfora para a relação da China com o Ocidente, em concreto com os Estados Unidos. Joel Martinsen, tradutor do segundo livro da trilogia de Cixin, diz isso mesmo: “Não é difícil ver paralelismos entre os Trissolaris [os extraterrestres] e os ímpetos imperialistas da China, guiada por uma fome de recursos e medo de ser extinta.” Outros interpretam a história precisamente ao contrário: a de que a China é a “Terra”, em risco de invasão pelos Trissolaris (os Estados Unidos).

Ken Liu, o tradutor para inglês de “O Problema dos 3 Corpos”, explica que o próprio processo de tradução de qualquer obra de ficção científica chinesa é difícil por isso mesmo: “Muitos escritores chineses são habilidosos a escrever de forma ambígua, de maneira a que haja vários significados no mesmo texto. Tenho de lhes perguntar: ‘Quão explícito queres que seja?’”

No caso desta obra, as interpretações de recontro de civilizações são, para o professor Stenberg, “legítimas” e comuns: “O Ocidente também tem um confronto frequente com o seu passado imperalista e qualquer história de contacto com aliens pode ser entendida como Colombo, [Jacques] Cartier ou o Capitão Cook”. Mas a interpretação, afirma o académico, “diz respeito aos leitores”, não ao autor.

Hua Li também considera que essas leituras têm sido “exageradas” por académicos: “A visão de Liu Cixin sobre a ficção científica é bastante mais sublime do que um mero comentário à geopolítica contemporânea”, afirma a investigadora da Universidade do Montana. Kenny Ng concorda: “O pessimismo de Liu Cixin sobre os valores da Humanidade estende-se a áreas como o ambiente, o pós-humanismo, o pós-colonialismo.”



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