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o som e a fúria de Elton John – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 13, 2024

Quem cresceu nos anos 70 e começou a ouvir música com mais atenção nos anos 80 tem de Elton John a ideia de uma estrela pop exuberante, de fatos coloridos ao ponto de poderem cegar uma vista, autor de canções pop não propriamente admiráveis, como Nikita. Já quem nasceu no início do século XXI provavelmente não faz ideia de quem Elton John é – o que nos lembra, como sempre, que tudo depende do contexto, até mesmo o estatuto de supostas super-estrelas pop.

Ninguém é apenas aquilo que vemos quando miramos de soslaio – e, antes de se dedicar a êxitos razoavelmente inanes, ali pelos anos 70, Elton foi uma verdadeira estrela de rock’n’roll, termo que uso na sua aceção mais antiga, a mesma que era aplicada (por exemplo, e para usar um dos heróis do homem dos óculos de sol exóticos) a Jerry lee Lewis – pese embora Elton tenha enchido esse rock’n’roll de gospel.

Esta é apenas uma das várias informações que Never Too Late, documentário sobre Elton que se estreia esta sexta-feira, 13 de dezembro, que poderão ser novas para os dois grupos demográficos descritos no primeiro parágrafo. A honestidade manda dizer que Never Too Late não é propriamente um poço de novidades para quem conhece a vida e obra de Elton – mas é uma excelente introdução e súmula, para os desconhecedores.

[o trailer de “Elton John: Never Too Late”:]

Usando como motivo de narração as respostas de Elton a uma entrevista dada há uns anos a Alex Peitridis, jornalista do The Guardian, o documentário traça a vida de Elton da infância até ao momento em que dá o último concerto no Dodger Stadium, no ano em que se retirou dos concertos ao vivo – e é exatamente por aí que o documentário começa, por 1975, ano em que ele deu uma série de concertos naquele mesmo estádio, vestido com fato às bolinhas: nessa altura tinha 27 anos e era, provavelmente, a maior estrela de rock do mundo.

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Apesar disso, confessa Elton, no tom mais cândido possível: “Quando ia para casa à noite não sentia alegria, só pensava em trabalho (…) não havia mais nada [na sua vida] senão sucesso e drogas”. O tom de Elton não é apenas cândido – há ali tristeza e uma franqueza e vulnerabilidade que normalmente não associamos às estrelas. “A minha alma ficou escura – queria ser a pessoa que era antes.”

Isso é algo que o documentário providencia com facilidade, em virtude de Petridis fazer várias perguntas sobre o crescimento de Elton – ao fim e ao cabo, a tristeza tem de vir de algum lado e, quase sempre, vem das feridas abertas na infância. O filme viaja no passado, vai até 1954, ano em que Elton descobre o rock’n’roll; Elton tinha um piano em casa, começou muito cedo a tentar tocar e revelou facilidade em aprender o instrumento – que era, como habitual nestas histórias, um escape: os pais discutiam muito e ele tinha muito medo deles, até porque eram fisicamente violentos (mais uma confissão feita num tom de absoluta vulnerabilidade – e o tom da voz de Elton a contar as suas tragédias é a grande mais valia desta longa metragem com 1h42 de duração).





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