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Oitenta anos depois, continuamos no «Caminho para a Servidão»? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 21, 2024

Friedrich Hayek enviou a obra O Caminho para a Servidão a três editoras americanas, que a rejeitaram. No entanto, um amigo colocou-o em contacto com a Imprensa da Universidade de Chicago e o livro foi, por fim, publicado nos Estados Unidos, a 18 de setembro de 1944. Inicialmente, apenas foram produzidas 2000 cópias. Não é de espantar: afinal, quem esperaria que os leitores americanos estivessem interessados num livro escrito em reação às ideias do economista e político britânico William Beveridge?

Contudo, apenas um ano mais tarde, o Reader’s Digest publicou uma versão compactada e distribuiu-a por milhões de casas nos EUA. Desde então, O Caminho para a Servidão foi traduzido para 20 línguas e venderam-se milhões de cópias.

Hayek colocou claramente o dedo na ferida. Nos anos 40 do século XX, o intervencionismo do Estado estava em ascensão tanto na Europa como nos EUA. Tal como hoje, acreditava-se, sobretudo, numa intervenção agressiva do governo na economia, impostos altos e regulações rígidas. Além disso, os intelectuais pensavam erroneamente que o nacional-socialismo era uma forma de capitalismo. Em 1939, o filósofo Max Horkheimer, cofundador da Escola de Frankfurt, disse: «Quem não estiver disposto a falar sobre o capitalismo também se devia abster de comentar o fascismo.»

Hayek mais tarde explicou que o seu livro era sobretudo dirigido àqueles que, dentro da elite intelectual socialista britânica, viam o nacional-socialismo como uma reação às tendências do socialismo clássico. Na verdade, o nacional-socialismo foi um resultado inevitável dessas tendências.

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Os socialistas, naquele tempo, evitavam descrever o movimento e o sistema de Hitler como «nacional-socialismo», para negar a afinidade intelectual entre as duas ideologias; preferiam termos como «fascismo» ou «nazismo». Hoje, sabemos – embora Hayek não o pudesse saber na altura – que Hitler desenvolveu uma admiração crescente pelo sistema de economia planificada da União Soviética. Em 1942, Hitler defendeu veementemente a economia planificada soviética junto do seu círculo mais próximo: «Há que ter um respeito incondicional por Estaline. À sua maneira, o homem é um grande génio … e a sua planificação económica é tão abrangente que só é ultrapassada pelo nosso Plano de Quatro Anos. Não tenho qualquer dúvida de que não há desemprego na URSS, contrariamente ao que acontece nos países capitalistas, como os EUA.»

Em julho de 1941, Hitler disse: «O uso sensato dos poderes da nação só pode ser alcançado com uma economia planificada a partir do topo.» E: «No que diz respeito à planificação económica, ainda estamos meramente no início e imagino como será maravilhoso construir uma ordem económica alemã e europeia abrangente.» Afirmações como estas confirmam a tese fundamental de Hayek.

Em 1971, Hayek salientou que o principal foco do seu livro era o socialismo clássico, que pretendia nacionalizar os meios de produção. Contudo, o nacional-socialismo, em termos económicos, pode ser visto como um precursor do socialismo moderno. Ao contrário do socialismo clássico, o socialismo moderno já não procura nacionalizar os meios de produção; em vez disso, mantém a fachada do direito à propriedade. Porém, o conceito de propriedade privada é consistentemente enfraquecido, tornando-se uma mera formalidade legal sem verdadeira substância. Esta mudança leva a que os empresários se tornem cada vez mais sujeitos ao controlo e orientação do Estado.

Num discurso em maio de 1937, Hitler descreveu esta filosofia: «Eu digo à indústria alemã, por exemplo: “tens de produzir isto e aquilo agora”. Depois volto a este ponto no Plano de Quatro Anos. Se a indústria alemã me disser “não conseguimos fazer isso”, então eu digo: “está bem, então eu mesmo o farei, mas tem de ser feito”. Porém, se a indústria me disser “nós conseguimos”, tenho muito gosto em não ter de o fazer.»

O livro de Hayek apresenta também uma segunda tese importante: a perda de liberdade económica precede a perda da liberdade intelectual e política. Os críticos que contestam as suas preocupações referem o caso do Reino Unido, que, depois da Segunda Guerra Mundial, introduziu impostos extremamente altos e um amplo programa de nacionalizações. Apesar de as consequências económicas terem sido desastrosas – e apenas revertidas por Margaret Thatcher, que era uma grande admiradora de Hayek – não houve uma perda de liberdade política. Nesse sentido, os críticos parecem ter alguma razão. A perda de liberdade económica não leva necessariamente ou imediatamente à perda de liberdade política ou intelectual. Mas Hayek estava mais certo do que errado. Veja-se o exemplo recente do socialismo da Venezuela. Os venezuelanos perderam a liberdade económica primeiro. A liberdade política desapareceu depois.

Lendo os avisos de Hayek, torna-se evidente o quão relevante o seu livro continua a ser atualmente. A liberdade económica, ao contrário do que aconteceu na década de 80 e de 90, está a regredir. A fé na «política industrial» conseguiu dominar a China, os EUA e a Europa. Simultaneamente, a liberdade intelectual está sob ameaça, pois os partidários de uma ideologia woke esforçam-se para politizar todos os aspetos da vida. Até a matemática é agora considerada «racista» por algumas pessoas, enquanto a liberdade de discurso está sob ameaça. Os opositores da liberdade económica geralmente opõem-se à liberdade intelectual.

Nota Editorial:

Rainer Zitelmann é o autor das obras Em Defesa do Capitalismo: Um Antídoto para os Mitos Anticapitalistas, Adam Smith Tinha Razão: Apenas a Liberdade Económica Pode Vencer a Pobreza e Hitler’s National Socialism [O Nacional-Socialismo de Hitler]. Artigo originalmente publicado no Wall Street Journal. Tradução: Ana Laura Amado. Revisão: Pedro Almeida Jorge.

Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.





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