À medida que a Índia entra em seu terceiro mandato sob a administração do Primeiro Ministro Narendra Modi, o Sudeste Asiático surgiu como um foco central de sua política externa. A região desempenha um papel crucial no teatro Indo-Pacífico e se tornou essencial para os interesses estratégicos, econômicos e diplomáticos da Índia.
Recentes compromissos de alto nível, como a visita de Modi a Cingapura e Brunei no início de setembro, a articulação do Ministro das Relações Exteriores Jaishankar sobre a posição da Índia em relação ao Mar da China Meridional e as visitas dos primeiros-ministros vietnamita e malaio à Índia, sinalizam uma continuidade na importância estratégica do Sudeste Asiático para a visão da política externa da Índia.
‘Olhar para o Leste’ para ‘Agir para o Leste’
A “Act East Policy” do governo central, uma evolução da anterior “Look East Policy”, significa um engajamento mais proativo com as nações do Sudeste Asiático. Sob Modi, essa política se tornou uma pedra angular da estratégia Indo-Pacífica da Índia, que promove uma ordem livre, aberta, inclusiva e baseada em regras.
A importância estratégica da região é ressaltada por sua proximidade geográfica com a Índia e seu papel como uma porta de entrada para o Mar da China Meridional, um corredor marítimo vital para o comércio global. O Sudeste Asiático é uma parte crucial da estrutura geopolítica do Indo-Pacífico, e o relacionamento crescente da Índia com a região é visto como um contrapeso à influência crescente e frequentemente predatória da China. No Modi 3.0, a Índia visa solidificar sua posição como um parceiro confiável na região do Indo-Pacífico, com o Sudeste Asiático sendo um elemento crucial dessa estratégia.
Nova Déli colocou ênfase particular em promover laços mais próximos com os estados-membros da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático). O comércio entre a Índia e a ASEAN cresceu de forma constante nos últimos anos, com comércio bilateral excedendo US$ 100 bilhões em 2023. Além da cooperação econômica, os interesses estratégicos da Índia na região também se aprofundaram.
Cingapura, Brunei, Vietname
Em Cingapura, as conversas de Modi com o recém-eleito Primeiro-Ministro Lawrence Wong resultaram em acordos substantivos, particularmente no setor de semicondutores, além de saúde, qualificação e segurança digital. A “Parceria do Ecossistema de Semicondutores Índia-Cingapura” assinada durante a visita visa facilitar a entrada de empresas de Cingapura na Índia. Esta parceria é essencial para as ambições de Nova Déli de se tornar um centro global de semicondutores, alavancando forças complementares para construir resiliência na cadeia global de fornecimento de chips. Paralelamente, a visita de Modi a Brunei, uma nação estrategicamente localizada no Mar da China Meridional, marcou um momento-chave na Política do Ato Leste da Índia e na visão Indo-Pacífico. Foi a primeira visita de um Primeiro-Ministro indiano e coincidiu com o 40º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países.
No Modi 3.0, o Vietnã surgiu como um dos parceiros mais importantes do Sudeste Asiático da Índia. Os dois países compartilham preocupações sobre a crescente assertividade da China no Mar da China Meridional, onde tanto a Índia quanto o Vietnã têm interesses adquiridos na exploração de petróleo e na liberdade de navegação. Discussões sobre cooperação de defesa, comércio e segurança energética marcaram a visita do primeiro-ministro vietnamita Phạm Minh Chính à Índia. O Vietnã é um eixo na Política do Leste da Índia e na estratégia Indo-Pacífico, fortalecendo seus laços navais e colaboração de defesa. A Índia e o Vietnã assinaram vários acordos sobre defesa, segurança marítima e cooperação energética e econômica. Ambos os países estão comprometidos em defender o direito internacional no Mar da China Meridional, alinhando ainda mais seus interesses estratégicos. O relacionamento bilateral também se expandiu para energia renovável, TI e desenvolvimento de infraestrutura, com a Índia desempenhando um papel significativo nos planos de desenvolvimento do Vietnã.
Restabelecendo laços com a Malásia
Da mesma forma, a visita do primeiro-ministro malaio Anwar Ibrahim à Índia destacou uma redefinição muito necessária nos laços bilaterais após uma queda nas relações antes de 2022. A importância da Malásia para a Índia decorre de sua localização estratégica ao longo de rotas marítimas vitais no Indo-Pacífico e seu papel como um parceiro comercial significativo. Durante a visita de Anwar, os dois líderes discutiram o aprimoramento da cooperação econômica, particularmente em tecnologia, energia renovável e conectividade digital. O apoio da Malásia à Política do Ato Leste da Índia e seu papel na ASEAN a tornam uma parceira valiosa para a Índia, pois ela busca expandir sua presença no Sudeste Asiático.
A questão do Mar da China Meridional
Finalmente, a posição da Índia no Mar da China Meridional evoluiu significativamente ao longo dos anos, mudando de uma posição cautelosa e neutra para uma que agora articulou claramente seu apoio às reivindicações territoriais marítimas soberanas das Filipinas, liberdade de navegação e exploração de recursos marítimos, em linha com o direito internacional. Isso alinha a Índia com as nações do Sudeste Asiático contra ações unilaterais da China, ao mesmo tempo em que atende aos interesses estratégicos da Índia, garantindo a liberdade de navegação e reforçando a segurança regional. A posição diferenciada da Índia, informada por suas próprias tensões territoriais com a China em sua fronteira terrestre ao norte, ressalta sua intenção de impedir avanços unilaterais e ilegais.
Modi 3.0 marca uma evolução significativa no engajamento da Índia com o Sudeste Asiático, impulsionado por imperativos geopolíticos e interesses econômicos. A administração Modi tem aprofundado constantemente a extensão e o escopo de seus laços com os países do Sudeste Asiático, e seu terceiro mandato consecutivo no cargo parece pronto para aproveitar os ganhos dos últimos dez anos.
(Harsh V. Pant é vice-presidente de Estudos e Política Externa na Observer Research Foundation e professor de Relações Internacionais no King’s College London. Pratnashree Basu é membro associado da Indo-Pacífico na Observer Research Foundation.)
Aviso Legal: Estas são as opiniões pessoais do autor