O social-democrata madeirense Manuel António Correia, que disputou as eleições internas do PSD/Madeira com Miguel Albuquerque, manifestou-se este domingo preocupado com o estado do partido e da região, considerando que o cerne do problema está na atual liderança.
O cerne do problema não está nos militantes nem no partido em si, mas na liderança que se recusa a reconhecer que este não é o caminho adequado”, afirma Manuel António, num comunicado divulgado na sequência da reunião do Conselho Regional do PSD, que decorreu no sábado.
Aquele órgão enalteceu a responsabilidade política do presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, ao ter retirado a proposta de Programa do Governo da discussão na Assembleia Legislativa e salientou que começa um novo período de diálogo com os partidos, “que se espera profícuo”.
Miguel Albuquerque retira Programa do Governo da Madeira
Face ao que foi transmitido pelo Conselho Regional do PSD, Manuel António Correia realça que “não vale a pena ocultar a realidade, é essencial enfrentar os desafios com transparência, pois os resultados e as consequências são evidentes“.
“Embora nada surpreendidos, porque avisámos e mostrámos caminho alternativo em devido tempo, estamos extremamente preocupados com o estado a que chegaram o partido e a região, exigindo-se que seja posto fim a este inaceitável e degradante estado de coisas, a bem da região e do partido, os quais constituem o nosso único compromisso”, sublinha.
O social-democrata, que disputou a liderança da estrutura regional com Miguel Albuquerque, em março, considera “lamentável que, em momentos cruciais para tomar decisões acertadas e construir pontes, especialmente após as últimas eleições internas, não tenha havido por parte da atual liderança o necessário esforço para corrigir o rumo e evitar os atos e palavras amplamente conhecidos”.
“Desde há muito alertamos para o caminho de instabilidade e ingovernabilidade que estamos a percorrer. Infelizmente, esses alertas foram ignorados“, reforça.
Manuel António acrescenta que não compactua “com uma liderança partidária que parece conduzir o partido em direção ao abismo, arrastando não só a estrutura partidária, mas também os interesses da região”, vincando que “é crucial honrar e respeitar o legado político do PSD/Madeira” e garantir “que todos tenham voz independentemente da sua posição ou pensamento diferente”.
“Reafirmo o meu compromisso inabalável com os valores e princípios que sempre orientaram o nosso projeto político. É preciso começar uma nova era capaz de devolver alegria e esperança aos madeirenses e porto-santenses, não contra ninguém mas a favor de todos”, conclui.
Miguel Albuquerque venceu as eleições internas do PSD/Madeira, em 21 de março, derrotando o seu adversário, Manuel António Correia, por 2.243 votos contra 1.856, num universo de 4.388 votantes inscritos.
As eleições internas decorreram da crise política motivada pelo processo que investiga suspeitas de corrupção no arquipélago, no âmbito do qual o chefe do executivo, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e demitiu-se, o que levou à queda do Governo de coligação PSD/CDS-PP, com apoio parlamentar do PAN.
Nas eleições regionais antecipadas de 26 de maio, o PSD elegeu 19 deputados, ficando a cinco mandatos de conseguir a maioria absoluta (para a qual são necessários 24), o PS conseguiu 11, o JPP nove, o Chega quatro e o CDS-PP dois, enquanto a IL e o PAN elegeram um deputado cada.
Já depois das eleições, o PSD firmou um acordo parlamentar com os democratas-cristãos, ficando ainda assim aquém da maioria absoluta. Os dois partidos somam 21 assentos.
Na semana passada, o parlamento regional começou a discutir o Programa do Governo, sob a forma de moção de confiança, mas a proposta acabou por ser retirada uma vez que PS, JPP e Chega iriam votar contra e o documento seria chumbado.
Prossegue agora um novo período de negociação entre o PSD e os partidos da oposição para consensualizar propostas do novo Programa do Governo, que Miguel Albuquerque espera entregar brevemente.
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