Cristão devoto, sulista progressista e discípulo fervoroso do rock ‘n’ roll, Jimmy Carter reuniu uma das coligações eleitorais mais estranhas da história americana e trouxe um novo tipo de arrogância à Casa Branca. Seu 100º aniversário em 1º de outubro será comemorado por muitos, e o que quer que você pense sobre seu mandato único na presidência e seu trabalho de caridade ganhador do Prêmio Nobel da Paz, atingir a marca do centenário é uma chance de alardear um de seus legados mais duradouros: uma vida inteira de amando música.
Repetidas vezes ele integrou a música em suas próprias ambições formidáveis, incentivando os artistas negros de jazz enquanto cortejava os eleitores negros e citava letras de rock como parte de seus esforços para conseguir o voto. Mas não foi mera bajulação, como os senadores modernos competindo para ver quem consegue fazer a pior referência a Taylor Swift. Como governador da Geórgia em 1974, Carter quase perdeu a cabeça ao conhecer um de seus heróis, Bob Dylan. “Quando conheci Jimmy, a primeira coisa que ele fez foi citar minhas músicas para mim”, lembrou Dylan no documentário de 2020 Jimmy Carter: Presidente do Rock & Roll. “Foi a primeira vez que percebi que minhas músicas haviam chegado ao mainstream. Isso me deixou um pouco desconfortável. Mas ele me tranquilizou ao me mostrar que apreciava sinceramente as músicas que eu havia escrito. Ele era uma alma gêmea.” Os dois permaneceram amigos íntimos muito depois do fim da carreira política de Carter.
Carter também contou com Willie Nelson entre seus companheiros mais próximos, conviveu com os Allman Brothers e ganhou a admiração de nomes como Paul Simon, Johnny Cash, Nile Rodgers, Bono e muito mais. Carter não era, como às vezes se retratava, um simples agricultor de amendoim, mas transitava facilmente entre os grandes artistas de sua época – um homem motivado com um amor genuíno pelo rock ‘n’ roll. Ao longo do caminho, foi pioneiro num tipo diferente de campanha política, abriu a porta à ingestão de novas substâncias ilícitas na Casa Branca e deixou uma marca indelével na cultura pop em geral.
– Wren Graves
01. “A mansão do governador mais badalada de todos os tempos” (1971-75)
A história conta que quando Gregg Allman visitou a mansão do governador Jimmy Carter na Geórgia antes de sua candidatura presidencial, ele abriu a porta e encontrou Carter “descalço e de jeans”. Se isso não for legal o suficiente para você, é importante notar que Robbie Robertson, do The Band, também nomeou a residência governamental de Carter como “A mansão do governador mais badalada de todos os tempos”. Parece comum agora imaginar políticos convivendo com estrelas do rock, mas a insistência de Carter em construir relacionamentos com os maiores artistas da época – incluindo Bob Dylan, com quem ele iniciou uma amizade próxima na década de 1970 – era bastante singular na época. Nunca saberemos exatamente o que aconteceu nas infames festas pós-concerto de Carter, mas às vezes é bom deixar essas coisas para a imaginação. – Paulo Ragusa
02. Campanha com The Allman Brothers (1975)
Quando Carter estava competindo pela primeira vez pela indicação presidencial democrata, ele era visto como um tiro no escuro. Vários políticos com perfis maiores também almejavam a Casa Branca, mas nenhum deles tinha um amigo como Gregg Allman. Ao longo de sua campanha, os Allman Brothers foram defensores vocais de Carter, organizando concertos beneficentes para arrecadar fundos para o azarão na corrida. Esses programas arrecadaram dezenas de milhares de dólares, que Carter dobraria graças à legislação da época que permitia que as doações públicas fossem equiparadas a dinheiro do governo. Os Allman Brothers foram fundamentais para o sucesso de Carter – e ele sabia disso, deixando tudo claro e simples quando agradeceu a eles: “Os Allman Brothers quase me colocaram na Casa Branca.” – Jonah Krueger
03. Discurso na Convenção de Proprietários de Lojas de Discos (1975)
Hoje em dia, não é exatamente novidade para os políticos citarem uma frase de músicas que estão no topo das paradas, mas na época em que o então governador Carter estava em campanha para a Casa Branca, foi uma jogada arriscada. O susto do rock ‘n’ roll dos anos 60 e início dos anos 70 ainda não havia passado, e alinhar-se com os roqueiros significava correr o risco de ser associado às drogas, ao amor livre e ao tipo de rebelião que os políticos tendiam a evitar. E ainda assim, durante uma parada de campanha em uma convenção para donos de lojas de discos, Carter cantou louvores ao rock, citando “Blowin’ in the Wind” e “Yesterday” ao fazê-lo, de acordo com Pedra rolando. Essa ostentação indiferente de seu conhecimento musical relevante (na época) ajudou-o a ganhar terreno junto aos eleitores mais jovens, e foi o que levou ao seu apelido não oficial de presidente do rock ‘n’ roll. – J. Krueger
04. Aceitando a indicação presidencial com uma citação de Bob Dylan (1976)
Na Convenção Nacional Democrata de 1976, após uma primária combativa que viu Jimmy Carter subir de 2% de reconhecimento de nome para o topo das pesquisas, ele fez um discurso de aceitação que verificou os nomes de FDR, JFK e… Bob Dylan. “Nunca tive tanta fé na América como hoje”, disse Carter. “Temos uma América que, nas palavras de Bob Dylan, está ocupada nascendo, não ocupada morrendo.” A citação faz referência à faixa de 1965 de Bob Dylan, “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)”, mas também é um excelente exemplo de Carter encontrando inspiração na poesia exclusivamente americana de Dylan. Carter queria que os seus apoiantes se sentissem orgulhosos, energizados, motivados e que o melhor ainda estava para vir – ao mesmo tempo que reconhecia a história tumultuada deste país e vislumbrava uma nova identidade cultural para os americanos. É seguro dizer que Dylan aprovou sua mensagem. – P. Ragusa