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“Os altos são muito altos, os baixos são muito baixos.” O programa de saúde mental que ajuda os empreendedores a lidar com medos e emoções – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 30, 2024

Margarida Lehrfeld sentiu na pele a ansiedade, a angústia, a incerteza de não saber como seria o seu futuro depois de terminar a formação académica. Estudou Escultura, especializou-se em Multimédia e em Design de Serviços para Negócios Sustentáveis, fundou a Nó, empresa que ajuda jovens a entrarem no mercado de trabalho em Portugal, foi uma das vencedoras da primeira edição do programa “Impact Journey” da Casa do Impacto, onde está há cerca de um ano. A sua startup está umbilicalmente ligada ao que viveu, ao que sentiu, ao que mexeu consigo. “É muito relevante o meu processo pessoal, não sabia o que queria fazer e stressei um bocadinho”, revela. Foi um trajeto conturbado. “Foi difícil saber o que fazer até começar a criar a minha própria realidade.” Tornou-se empreendedora de impacto social através da educação, de uma plataforma que ajuda na transição dos estudos para o mundo profissional.

Inscreveu-se no Target e tem participado em várias sessões. “Falamos dos nossos medos, das nossas preocupações, das nossas inseguranças.” Dessa forma, a vergonha de partilhar vai desaparecendo na comunidade que trabalha no mesmo espaço e que se vai cruzando em corredores, em salas de reuniões, na cozinha, no terraço. É um ecossistema particular e Margarida Lehrfeld sabe o que isso é. “A velocidade a que as coisas acontecem, é tudo muito veloz.” E sempre com aquela vontade de fazer acontecer, dedicar o tempo a uma causa. “Os altos são muito altos, os baixos são muito baixos, o desafio é tentar encontrar o equilíbrio”, confessa.

Francisco Miranda é licenciado em Engenharia de Produção e Gestão Industrial, pelo Instituto Superior Técnico, trabalhou numa multinacional norte-americana, depois fundou a startup Class of Wonders, tecnológica de estratégias e jogos para reinventar a sala de aula no início das aprendizagens, da língua e dos números, numa educação que pretende eficaz – está em 20% das escolas públicas portuguesas, em todas as regiões de Espanha, em quatro estados brasileiros, em algumas escolas da Guiné e de Moçambique. No mundo de possibilidades do que podia fazer, a sua costela de empreendedor falou mais alto, a sua causa é a educação. “Atuamos na falha do mercado. No fundo, estamos a montar um puzzle quase impossível”, confessa. E isso tem repercussões no bem-estar.

Está na Casa do Impacto desde o início, outubro de 2018, participa em algumas atividades do Target que o tem ajudado a ver-se por dentro. “Como uma lente para analisar situações e perspetivas e é bom sentir-me compreendido.” “A nível da saúde mental, sou confrontado com as minhas limitações”, acrescenta. Vai percebendo o que sente, a agitação, a angústia, o contexto, as suas próprias características. “Ajuda-me a prever e a resolver problemas, a saber mais de mim próprio, a regular-me para gerir melhor.” O stress pesa nos dias, neste momento, tem uma equipa de 10 pessoas na startup. “Como empreendedor social, sinto muita angústia e a pressão psicológica que vem com isso é uma sensação muito óbvia”, declara. Seja como for, procura ver o lado positivo do que acontece. “Olho mais para as coisas como oportunidades.”





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