Ao longo dos últimos oito anos não me enganei na enumeração dos erros cometidos pelos governos de António Costa, como não me enganei com a descrição dos erros anteriores dos governos de José Sócrates. Tenho agora a convicção de não me enganar relativamente aos erros já visíveis no horizonte do governo da AD de Luís Montenegro. Para que fique para a história de um tempo futuro, vejamos alguns:
Ferrovia – A escolha da bitola ibérica nas novas linhas do Porto a Lisboa e de Lisboa a Madrid e a escolha das parcerias publico privadas em vez do financiamento da União Europeia, como acontece em todos os outros países europeus com bitolas diferentes, representa um crime económico e estratégico. Igual crime é a opção de uma ferrovia apenas para passageiros e deixando de fora as mercadorias, sabendo-se que a opção da União Europeia, da Espanha e dos países do Leste, com diferentes bitolas, é de novos comboios para passageiros e mercadorias em bitola europeia. Sabendo-se ainda que durante muitos anos e em todos os países existirá a coexistência entre as duas bitolas no plano interno, sabendo-se também que é mais fácil gerir essa diferença internamente do que nas ligações internacionais, onde haverá o domínio total da bitola UIC (europeia). Que o governo da AD siga caninamente e sem explicação a opção anterior de António Costa, é um erro de enormes proporções que, pelo menos, deveria ser explicado, como foi pedido recentemente por Bruxelas.
Economia – A ideia de que os graves problemas da economia se resolvem com sessenta medidas, que não criam a massa critica suficiente para a mudança, é uma ilusão e um erro, o qual já foi cometido com o PRR pelos governos anteriores, sendo incompreensível que Luís Montenegro e o seu governo não tenham aprendido nada. Mais grave, até hoje o ministro da Economia ainda não apresentou uma qualquer estratégia, ou opções, com vista ao crescimento da economia, nomeadamente a compreensão de que o modelo existente de pequenas empresas, quase sempre comerciais, a actuar no mercado interno, é um suicídio do ponto de vista económico. Como não apreenderam nada com o facto das duas melhores fases da economia portuguesa terem sido durante a EFTA e durante a AutoEuropa/Pedip, em que ambas as opções residiram no investimento estrangeiro, como indutor do investimento nacional na indústria e tendo como objectivo principal o crescimento das exportações.
Energia – O erro deste governo da AD, a exemplo dos governos anteriores, de investir apenas nas energias renováveis intermitentes, sem opções alternativas, quando não há vento ou sol, resulta em mais importações e na energia mais cara para a indústria portuguesa e para os consumidores em geral. O governo da AD, ao juntar a gestão da energia e do ambiente no mesmo ministério, acaba por não resolver nenhum dos problemas e desconhece que as opções são contraditórias e só podem ser resolvidas com políticas competentes em cada um dos sectores, reduzindo o consumo das energias fosseis, por exemplo nos transportes e na indústria e pelo crescimento dos meios de armazenagem da energia, nomeadamente hídrica, sendo que a ideia do offshore é demencial, pelos custos e pelos riscos que a opção implica. Conciliar o inconciliável não é uma opção e só a luta entre as duas opções poderá ser criativa.
Ambiente – A defesa do meio natural é uma prioridade do nosso tempo, mas que deve ser realizada através de novas opções e tecnologias e não à custa do nível de vida dos povos. Por exemplo, em Portugal construímos autoestradas e desprezámos a ferrovia, estamos agora a privilegiar o transporte de mercadorias por via rodoviária em direcção á Europa, em contramão com as políticas europeias e não queremos ouvir falar nas novas tecnologias de produção nuclear, como se estivéssemos em plena idade média. Ou seja, não é com medidas e proibições defensivas que defendemos o ambiente, mas com inovação, criatividade e mudança e com a aceitação de novas tecnologias e soluções, por exemplo da indústria circular, onde tudo está ainda por fazer. Exemplo: a existência de fábricas para recuperar as materiais consumidas nos automóveis, como tenho defendido, é uma medida essencial, mas também uma verdadeira indústria de gestão dos residios urbanos, em vez do folclore que são os nossos sistemas no presente, geridos de forma incompetente e indisciplinada.
Educação – A insistência no privilégio do ensino superior à custa da revolução necessária nas creches e no pré-escolar, atira os resultados possíveis de realizar numa geração, para cinco ou seis gerações. É isso, infelizmente, o resultado da governação do País ser feita exclusivamente por licenciados e doutorados, que de forma corporativa apenas defendem o que conhecem melhor. Há anos que tento explicar que estamos a destruir gerações de filhos de famílias pobres que chegam ao ensino oficial aos sete anos com enormes diferenças de desenvolvimento em relação às crianças das famílias de maiores recursos, com o consequente insucesso escolar e profissional. Que a falta de instalações com a qualidade necessária, a ausência de educadores qualificados e a inexistência de transporte, sejam temas ignorados por este governo, como aliás pelos governos anteriores, transcende a minha compreensão. Igualmente, a incompreensão sobre a urgência da educação dos comportamentos, tira-me do sério.
Aeroporto – Tal como governo anterior, este governo e o ministro da pasta andam a esconder o que pretendem fazer com a empresa a quem deram o monopólio aeroportuário e sem explicar qual a participação da empresa na construção do novo aeroporto. Negócio à vista?
Há muitos mais exemplos da minha revolta de que este governo da AD esteja a seguir as políticas erradas de governos anteriores e sem parar para pensar, mas estes poucos exemplos bastam para documentar que não é fazendo o mesmo que se conseguem resultados diferentes. Uma palavra também sobre uma grande parte da comunicação social que se limita a repetir os temas da moda até à exaustão, ignorando as verdadeiras transformações de que o País necessita e os poucos seres humanos que se batem diariamente por essas transformações.