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os quatro obstáculos de Max até ao quarto título na Fórmula 1 – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 24, 2024

O tempo passa, algumas coisas nem por isso. Seria possível imaginar Max Verstappen a ganhar quatro títulos seguidos depois daquele final de loucos em Abu Dhabi no ano de 2021 que funcionou como início de tudo? E, já agora, seria possível imaginar que aquele personalidade a mostrar a bandeira de xadrez no Grande Prémio de Las Vegas que selou o tetracampeonato do neerlandês tem quase 80 anos e se chama Sylvester Stallone? Aqui, tudo é possível. E se George Russell parecia um miúdo que nunca tinha ganho um Grande Prémio (na verdade este foi apenas o terceiro triunfo), era no piloto da Red Bull que se centravam todas as atenções.

É tudo menos pecado fazer a festa em Las Vegas: Max Verstappen sagra-se tetracampeão mundial de Fórmula 1 (sem ir ao pódio)

“Quatro títulos de seguida, acabaste de conseguir um título fenomenal. Estamos todos muito orgulhosos de ti”, dizia Chris Horner pela rádio ao neerlandês. “Obrigado por tudo malta, obrigado por tudo. Nunca achei que isto fosse possível… Obrigado”, respondia um Max Verstappen bem mais emocionado do que é normal neste tipo de ocasiões. “Foi uma temporada longa. Começámos bem, tivemos depois problemas mas tivemos o mérito de continuar a trabalhar juntos como equipa. Sinto-se aliviado, ao mesmo tempo que estou também orgulhoso por tudo. Se imaginava isto quando tinha 17 anos? Com essa ideia, estava feliz só de poder estar aqui… O ano de 2024 trouxe muitos desafios, deu-me imensas lições como pessoa e fiquei orgulhoso pela forma como fomos resolvendo tudo”, comentou depois na flash interview em frente ao Bellagio.

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Antes, Max Verstappen tinha andado de Rolls Royce da zona da meta até às entrevistas rápidas depois de ter cumprimentado vários elementos da equipa e de ter recebido os parabéns de outros pilotos, casos de George Russell, Lewis Hamilton ou Fernando Alonso (pelo menos nesses minutos iniciais após sair do carro como tetracampeão). Ainda assim, a imagem que ficou foi o abraço entre Chris Horner e Jos Verstappen, com uma curta conversa ao ouvido entre sorrisos entre duas figuras que andam há muito em choque. Esse foi apenas um dos obstáculos que Max superou para chegar ao sucesso, um sucesso que o coloca ao nível de Juan Manuel Fangio, Michael Schumacher, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel como únicos pilotos capazes de conquistarem por quatro vezes consecutivas o título. Aos 27 anos, o futuro será agora o que quiser.

A temporada ainda não tinha começado, a Red Bull começava a “tremer”. Por um lado, as notícias da saída de Adrian Newey, o engenheiro com toque de Midas que foi deixando a sua assinatura em vários carros que se sagraram campeões, começaram a adensar-se a um ponto de não retorno (que acabou por confirmar-se, no caso em concreto para Aston Martin). Por outro, Chris Horner foi acusado de “conduta imprópria” e alvo de um processo interno. “Depois de ter conhecimento de algumas alegações recentes, a empresa avançou com uma investigação independente. Já está a decorrer e será conduzido por um advogado especialista externo. A empresa leva estes assuntos de forma séria e a investigação será concluída assim que possível”, anunciou a própria escuderia austríaca. De repente, na antecâmara do Mundial, os dois cérebros do sucesso fora de pistas estavam em risco de não fazerem parte da equipa de Verstappen para chegar ao quarto título.

Nem mesmo a dobradinha no primeiro Grande Prémio no Bahrain com um Grand Slam de Max Verstappen (pole position, liderança em todas as voltas, volta mais rápida e vitória) acalmou as hostes. Chris Horner já tinha sido ilibado na investigação interna e mais tarde a própria funcionária que levantou a questão terá sido suspensa – neste caso, apenas com confirmação da Red Bull uns dias depois da notícia da BBC – mas nem tudo acalmara com o pai do neerlandês, também ele antigo piloto, a ser o principal crítico da continuidade de Horner depois do sucedido tendo também por base dois emails anónimos que foram enviados para pessoas da Federação Internacional de Automobilismo e jornalistas com o teor das conversas e algumas fotos entre o chefe da equipa austríaca e a mulher denunciante cuja identidade nunca foi conhecida.

“Estou aliviado pelo processo ter chegado ao fim. O nosso foco está agora no Grande Prémio e na temporada que aí vem, de maneira a defendermos os nossos títulos. A união na equipa nunca foi tão grande”, assegurou Horner. “Foi uma investigação completa e justa realizada por um advogado experiente e resultou na rejeição da queixa”, acrescentou mais tarde, recusando os pormenores que foram entretanto revelados pela imprensa. “Haverá sempre tensão enquanto se mantiver naquela posição. A equipa está em risco de se desfazer. As coisas não podem ficar assim, tudo isto vai ‘explodir’. Está a fazer-se de vítima, quando na realidade é ele quem está a causar os problemas”, apontou Jos Verstappen, que na véspera da corrida no Bahrain teve uma forte discussão com Horner. Nunca mais a relação entre ambas voltou a ser a mesma.

Houve mais alguns “choques”, como o cancelamento da presença de Jos na Legends Parade em junho por considerar que Chris Horner estava a tentava bloquear o seu nome nas comparências, mas foi o próprio Max Verstappen que falou com ambos para encontrar a paz possível. “As pessoas não precisam de ser as melhores amigas, não precisam de ir todas de férias juntas mas é possível terem uma relação normal de trabalho. O que sempre disse foi ‘Se tiverem problemas um com o outro, se não estiverem satisfeitos um com o outro, só têm de falar, de comunicar. É melhor isso do que virem falar para a imprensa’. Nunca vou tomar um lado ou um partido porque é uma questão de senso comum, têm é de falar entre eles”, disse à BBC Sport.

Com todas essas polémicas, e também com algumas ajudas “externas” à mistura, começaram a ser montados cenários sobre uma possível saída de Max Verstappen da Red Bull tendo a Mercedes como destino provável nesse cenário – e um encontro entre Jos Verstappen e Toto Wolff, líder da equipa alemã, ajudou ainda mais nessas semanas de especulação. A certa altura, até à boleia dos bons resultados que não paravam de chegar, o neerlandês teve de colocar um ponto final nas notícias sobre todos os rumores, garantindo que tinha como objetivo único cumprir o contrato com a Red Bull, melhorar o carro e continuar a somar triunfos rumo a novo título mundial. Esse momento acabou quase por tornar a Fórmula 1 mais “monótona”, tendo em conta o domínio nas pistas e a falta de “notícias” fora delas. No entanto, a Áustria começou a mudar o cenário.

Até ao Grande Prémio em “casa”, tinha sido um “passeio no parque” para Verstappen. Ganhou Bahrain, Arábia Saudita, Japão, China, Emília-Romanha, Canadá e Espanha, terminou em segundo em Miami, não foi além de uma sexta posição no Mónaco, teve de desistir na Austrália. O primeiro lugar do Mundial parecia mais do que resolvido, todos os outros pilotos lutavam pela segunda posição que era tudo menos o primeiro dos últimos. A partir daí, o neerlandês teve menos carro. A própria corrida em Las Vegas tornou-se exemplo paradigmático disso mesmo, com a Red Bull a considerar que não faria sentido preparar uma asa traseira com menor carga aerodinâmica para o perfil da prova mas a perceber depois que seria um erro. O que fez a diferença? A forma como foi percebendo até onde podia ir e o que poderia ganhar em cada corrida, como aconteceu na fabulosa vitória em São Paulo. O avanço em 2024 já era grande – e isso fez a diferença.

Depois do eletrizante final de Mundial de 2021 com um triunfo em Abu Dhabi que valeu uma diferença de oito pontos no final do campeonato face a Lewis Hamilton, Max Verstappen foi passeando classe nos títulos que se seguiram, ganhando com quase 150 pontos de avanço sobre Charles Leclerc em 2022 e fazendo quase o dobro dos pontos de Sergio Pérez no ano passado (575-285). Para se ter noção do domínio do neerlandês, o companheiro de equipa estava “obrigado” a ficar em segundo lugar no Mundial para continuar na Red Bull. O mais parecido com um adversário direto estava no próprio conjunto austríaco e não fazia sombra.

Em 2024, sobretudo a partir do Grande Prémio da Hungria, emergiu pela primeira vez um opositor direto que mostrava ser capaz de rivalizar com o neerlandês – até porque em muitas ocasiões tinha ferramentas que o campeão não tinha. Lando Norris cometeu alguns erros próprios da inexperiência na luta pelas posições mais cimeiras mas conseguiu assumir um papel que não existia desde 2021, conseguindo levar a decisão até à antepenúltima corrida com potencial para prolongar esse cenário pelo menos até ao Qatar. O que fez depois a diferença? O killer instinct nos momentos certos. “O Max é um campeão justo. Quando tinha o melhor carro, dominou e ganhou; quando não tinha, marcava sempre pontos importantes”, resumiu o britânico sobre o título do rival e amigo. Aquilo que elogiou no neerlandês foi aquilo onde falhou neste ano de 2024…

A segunda metade da temporada ficou marcada por um primeiro aviso feito por parte do presidente da FIA, Mohamed Bin Sulayem, por causa da linguagem excessiva e também por uma primeira sanção por isso logo na semana seguinte, em Singapura. Alvo? Max Vertappen, que teve de cumprir serviço comunitário depois de utilizar “linguagem vulgar” na conferência de imprensa do Grande Prémio de Singapura (quando esse aviso até tinha sido feito pelas comunicações por rádio com as equipas). “Toda a gente se riu e perguntou ‘Que raio é isto?’ Sim, é uma parvoíce”, comentou o neerlandês. “Quantas vidas de serviço comunitário teria de cumprir o Guenther Steiner [antigo diretor da Haas] por dizer palavrões? Ele foi glorificado por isso… Se a Netflix divulgar isto pelo mundo todo, não há problema. De repente, muda-se tudo”, acrescentou depois Alex Wurz, líder da Associação de Pilotos, após uma nova sanção aplicada depois a Charles Leclerc.

“Os nossos membros são pilotos profissionais que competem na Fórmula 1, o pináculo do automobilismo internacional. São gladiadores e a cada fim de semana de corridas oferecem um grande espectáculo aos adeptos. No que respeita aos palavrões, há uma diferença entre fazê-lo para insultar outros ou as asneiras mais informais, como as que se utilizam para descrever o mau tempo, um objeto inanimado como um carro de Fórmula 1 ou uma situação de condução. Instamos ao presidente da FIA que tenha cuidado com o seu próprio tom e linguagem quando falar com os nossos membros ou sobre eles. Os nossos membros são adultos, não precisam de receber instruções através dos meios de comunicação social sobre questões tão triviais como joias ou roupa interior”, reforçou depois a Associação de Pilotos em comunicado.

Podia ter sido uma questão mínima, até sem relevância, mas “tocou” Verstappen. E tocou a ponto de colocar a nu o desgaste mental dos quatro anos de sucesso, a ponto de o piloto admitir que podia parar. “Claro que isto pode influenciar o meu futuro no desporto. Estas coisas também decidem o meu futuro, sem dúvida. Quando não podes ser tu mesmo, quando tens de lidar com estas coisas tontas… Estou numa fase da minha carreira em que não quero estar sempre a lidar com isto, é muito cansativo. É ótimo ter sucesso e ganhar corridas mas quando já atingiste isso tudo, quando já ganhaste campeonatos e corridas, também queres divertir-te. Estamos todos a ir aos nossos limites. Estamos todos na mesma batalha, até os que estão na cauda do pelotão. Mas quando tens de lidar com estas coisas tontas…”, avisou o neerlandês. A temporada de 2025 não está em risco mas percebe-se que há pontos que já mexem com o futuro do piloto…





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