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“Para onde vai a solidariedade e a ética quando tudo está ameaçado?” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 14, 2024

Esta série tem um lado de vida em comunidade, de um ponto de vista particular. Ia começar por perguntar-lhe, a propósito, como foi viver numa comuna [o filme de Vinterberg A Comuna, de 2016, inspira-se nisso]?
Bom, viver numa comuna foi muito libertador. Como criança, era livre. Era uma declaração de amor e respeito dos nossos pais, pelo menos para alguns; outros não queriam simplesmente cuidar das crianças. Mas os meus pais que foram sempre muito carinhosos e cuidadosos e apenas nos queriam libertar, porque quando foram crianças sentiram-se aprisionados na educação que tiveram. Isto significa que me deixavam viajar pela Europa quando tinha quinze anos. Isto numa altura sem telemóveis, em que viajava só com o dinheiro que tinhas no bolso: ou seja, estive em situações que nunca colocarei os meus filhos. Uma delas foi em Portugal, por causa de um avião. Na altura comprámos um bilhete de avião muito barato e não percebemos bem, mas o preço traduzia-se no seguinte: se houvesse lugar no voo, entrávamos; se não houvesse, não entrávamos. Voltámos de Sagres para Lisboa e quando íamos a entrar no avião disseram “vão-se embora, não há lugar para vocês”. Como era fim-de-semana, a embaixada estava fechada e, naquela altura, era impossível transferir dinheiro rapidamente. Ficámos a viver na rua durante dois dias, apenas com um par de charros. Lembro-me bem da amabilidade dos lisboetas, dois árabes forneceram-nos guarida, sem pedirem nada em troca. Foi uma experiência de doidos, dois dias nas ruas… quando estava há pouco a descer a Avenida [da Liberdade], lembrei-me de tudo isto.

Por falar em altos e baixos, a sua carreira também tem sido feita assim. Prémios importantes, mas também períodos em que nem se dá por si. Onde está neste momento?
Tento não pensar muito nisso. O melhor conselho que tenho para dar é: quer estejas a vencer ou a perder, não penses muito nisso. O meu professor e amigo, que escreveu comigo A Festa, Mogens Rukov, dizia sempre: “os pósteres dos filmes e os prémios têm de ser arrumados passado um ano, só assim consegues avançar”. Neste momento, estou num lugar bom. As pessoas andam a ver esta série, tem tido uma ótima receção. Por isso, sim, acho que estou num lugar bom. Contudo, isso não torna mais fácil a criação do meu próximo trabalho.

Ganhou um Óscar [Melhor Filme Internacional, por Mais Uma Rodada, em 2021] e o seu passo seguinte é não fazer um filme, mas uma série de televisão. Já tinha isso planeado?
Sim. O [Ingmar] Bergman um dia deu-me um conselho: “decide sempre o teu próximo projeto antes da noite de estreia do anterior, porque duas coisas podem acontecer, podes falhar e ficas consciente disso e estratégico ou, pior, pode ser um tremendo sucesso e isso paralisar-te”. Pensei nesta série há sete anos, muito antes de Mais Uma Rodada estar sequer filmado. E decidi manter o plano, porque naquela altura já estava muito ocupado com ele. Sinto-me bem com essa decisão. Além disso, é muito diferente de Mais Uma Rodada, gosto de evitar competição com o meu próprio trabalho. Já tive disso o suficiente.





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