Pedro Nuno Santos não esperou que o Governo acabasse a sua intervenção, a partir do Palácio de São Bento, para reagir ao anúncio de Luís Montenegro, esta terça-feira, confirmando que o novo aeroporto de Lisboa será em Alcochete, de acordo com as conclusões do relatório da Comissão Técnica Independente (CTI). O líder do PS saudou esta decisão do Governo português, considerando-a muito importante para si próprio, mas sobretudo para o país — e prometeu “apoio inequívoco” dos socialistas.
“Um futuro Governo socialista nunca porá em causa esta solução, que é a correta. Nunca tive dúvidas de que Alcochete era a melhor”, afirmou, perante os jornalistas. O secretário-geral do PS elogiou ainda o facto de o Governo ter decidido avançar com a terceira travessia sobre o Tejo e assumiu a “congratulação pessoal” por ver a obra do novo aeroporto avançar finalmente. “Temos de avançar sem demoras”, apelou, reconhecendo que o processo levará tempo a sair do papel.
Pedro Nuno Santos afirmou ainda que nunca teve dúvidas de que “Alcochete era a melhor localização”. “Há dois anos, quando tomei essa decisão, ela não foi nenhuma decisão irrefletida, o país já levava 50 anos a estudar localizações. Havia, na minha opinião, condições para podermos decidir de forma ponderada a localização do aeroporto em Alcochete”, recordou.
Já André Ventura não poupou críticas ao que considerou ser a “incapacidade” de Montenegro, defendendo que o primeiro-ministro “apresentou um mero caderno de encargos“. O líder do Chega entende que o também líder do PSD demonstrou “incapacidade” para apresentar um “plano detalhado sobre quando começa e quando vai acabar a obra do novo aeroporto”. Esta terça-feira, à entrada do hotel onde o Chega apresentou o programa eleitoral às eleições europeias, Ventura já tinha acusado Montenegro de estar a “desviar as atenções” da questão da imigração — nomeadamente dos problemas na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) — com a apresentação do local do aeroporto.
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O presidente do Chega declarou ainda que a CTI esteve sob suspeita de beneficiar Alcochete para a localização do novo aeroporto e que “o Governo não explicou a razão de ter optado por essa localização”.
Já Hugo Soares, em declarações a partir da Assembleia da República, elogiou um Governo que “tem coragem para decidir e que tem coragem para determinar que se façam as obras que são necessárias no Aeroporto Humberto Delgado”. “Hoje não é um dia bom para o Governo, é um dia bom para Portugal”, assumiu o líder da bancada parlamentar social-democrata, que quis deixar um “apontamento feliz” pela escolha do nome Luís de Camões para o novo aeroporto.
O social-democrata respondeu às críticas imediatas da oposição em relação às obras que serão efetuadas no aeroporto Humberto Delgado. “É conhecido que essa é uma imposição da concessionária. Lamento que o [anterior] governo nunca tenha tido a coragem de impulsionar a concessionária a fazer essas obras”, apontou.
O Executivo de Luís Montenegro foi igualmente elogiado por Paulo Núncio, com o deputado do CDS, partido que integra a coligação governamental, a defender que o país está perante “um Governo que está a governar e a tomar decisões”. O centrista foi mais longe e, depois de enumerar várias ações governamentais das últimas semanas, afirmou que o atual Executivo, que está em funções há mês e meio, “já fez mais do que o governo socialista em oito anos”.
À esquerda parlamentar, muitas dúvidas e perguntas. Mariana Mortágua questionou quais poderão ser as contrapartidas a dar pelo Governo à VINCI para a construção do aeroporto. “Sabemos que [Alcochete] não é a escolha da ANA e a nossa pergunta é que condições foram dadas para a construção em Alcochete e que garantias foram dadas em relação à terceira travessia”, questionou, numa intervenção a partir do Parlamento.
“Essa decisão foi dificultada até hoje pela VINCI, que é a dona privada da ANA, porque cedeu à dona dos aeroportos estrangeira a decisão da localização no Montijo”, apontou a coordenadora do Bloco de Esquerda, acrescentando: “A última coisa que precisamos é que à boleia de uma construção tão importante como o novo aeroporto” sejam criadas “novas PPP, concessões e negócios megalómanos que garantem rendas para grandes operadores”. Apesar das dúvidas e escrutínio planeado, a bloquista entende que “Alcochete foi sempre a decisão mais óbvia para a localização do aeroporto” e lamenta que a decisão tenha tardado.
Também o deputado António Filipe começou a sua declaração a dizer que o PCP se “congratula” com a decisão da localização do aeroporto Luís de Camões “e também com a associação à terceira travessia no Tejo em Lisboa e com o TGV Lisboa-Madrid”. “São investimentos que há muitos anos o PCP tem vindo a defender”, acrescentou. Para o PCP, foi a ação das câmaras municipais lideradas pela CDU que “impediu que se avançasse para uma solução desastrosa que era Portela+1” e se optasse por Alcochete como escolha para o novo aeroporto.
Ainda assim, os comunistas demonstram preocupação com “o facto de o alargamento do aeroporto Humberto Delgado ser assumido como uma prioridade”. Perante este cenário, o deputado do PCP deixou um alerta: “Aquilo que esperamos é que essa prioridade, que responde ao interesse da atual concessionário da ANA Aeroportos, a Vinci, não sirva de pretexto para o protelamento da construção do novo aeroporto de Lisboa, infraestrutra necessária para o futuro do país.”
Tal como os outros partidos à esqueda, Rui Tavares também elogiou a decisão tomada esta terça-feira que, notou, “há muito interessa ao país e que peca por tardia”. Para o Livre, a opção de Alcochete para a nova localização do aeroporto é a “correta”. “Podemos estar de acordo com o Governo e até elogiar por não ter mudado uma decisão que vem de trás e não optar por uma decisão má, que seria a do Montijo”, assinalou.
O porta-voz do Livre apontou os efeitos nocivos que o aeroporto da Portela teve ao longo dos anos na cidade de Lisboa e destacou que os terrenos agora ocupados por essa infraestrutura “serão muito importantes para uma transição ecológica da capital do país”, bem como “podem vir ajudar a resolver a crise da habitação”. Tavares apelou a que os terrenos, numa zona de grande pressão imobiliária, “não sejam entregues à especulação e à betonização”. “A parte que ainda não é edificada deve ser verde e esperemos que estes terrenos sejam utilizados de forma ecológica”, acrescentou.
Inês Sousa Real foi a única representante de um partido da oposição a posicionar-se contra a decisão tomada pelo Governo de Luís Montenegro. “Votar PS ou PSD é exatamente a mesma coisa, mais uma vez temos uma decisão tomada pelo bloco central”, considera a porta-voz do PAN, que sempre se mostrou contra a construção de uma nova infraestrutura, por razões ambientais com a “ave e fauna” da região, bem como com a “produção de ruído”.
“Ouvimos Luís Montenegro dizer que esta é uma decisão política, mas não explicou as razões políticas subjacentes à decisão”, afirma a deputada única, que não acredita que o relatório da Comissão Técnica Independente seja o único fundamento para decisão. “Não faz sentido que se fale numa solução a médio e longo prazo, mas que não tem em consideração as preocupações ambientais e a preocupação com a qualidade de vida das populações”, aponta Sousa Real, que anuncia a requisição, por parte do PAN de relatórios à UTAO e UTAD. O partido quer que as entidades “sejam chamadas a pronunciar-se sobre as soluções aeroportuárias”.