O pianista e compositor Martial Solal, “um dos raros franceses que se impôs na cena jazz internacional”, morreu na quinta-feira aos 97 anos em Versalhes, França, revelou o filho à agência France-Presse.
Segundo Eric Solal, o pai “morreu de velhice, durante a tarde num hospital em Versalhes”.
Martial Solal “é a personificação de toda a história do jazz na Europa”, escrevia o crítico Rui Eduardo Paes em 2014, quando o pianista, então com 87 anos, deu um dos seus últimos concertos em Portugal, a 28 de março na Culturgest, antes de se retirar dos palcos.
“É justo que esta despedida se faça com um solo absoluto. O genial e único Martial Solal conversará a sós com os seus ouvintes portugueses, apenas com a mediação de um piano, essa orquestra virtual que lhe deve não poucos avanços”, sublinhou Rui Eduardo Paes na folha de sala daquele concerto.
Nascido na Argélia em 1927, Martial Solal começou a aprender piano na infância com a mãe, detestava ler partituras e enveredou pelo jazz nos clubes de Paris, onde pode conviver com algumas das estrelas que por lá passaram, como Dizzy Gillespie, Sonny Rollins ou Sidney Bechet.
Compositor, arranjador, Martial Solal trabalhou a solo e em várias formações, dirigiu orquestras, partilhou palco com Django Reinhard, tocou com Lee Konitz, Chet Baker e Carmen McRae, gravou mais de 70 álbuns e nunca abandonou o amor pela improvisação.
“A ele lhe devemos várias bandas sonoras, nomeadamente a que se tornou um manifesto da Nouvelle Vague francesa, com Acossado, de Jean-Luc Godard”, sublinhou ainda a agência noticiosa, enquanto o portal AllMusic lembra que, durante mais de 60 anos, Solal conseguiu ser original, cruzando influências e estilos dos dois lados do Atlântico.
Martial Solal morreu poucos meses depois de ter publicado uma autobiografia, intitulada “Mon siècle de jazz“, na qual escreveu: “Nunca ouvi discos, não queria ser como ninguém, nem mesmo aqueles que admirava”.