É “a última tentativa” para descobrir quem matou a jovem de 19 anos morta em 2009. E é um esforço inovador. Atrás de uma janela, “Betty” está sentada num banco e pede ajuda. Ou melhor, o holograma da jovem prostituta húngara que foi “brutalmente assassinada” no Red Light District de Amesterdão interpela quem passa. O objetivo é claro: reavivar a memória das pessoas — “alguém deve saber mais”, diz a polícia dos Países Baixos em comunicado, ao lançar esta nova ação no último sábado, dia 9 de novembro. “Betty” vai ficar ali, durante uma semana, a procurar contactar com quem passa.
Quinze anos depois, a história de Bernadett Szabó, a prostituta húngara, vai estar naquele distrito. “Embora todos os casos de homicídio sejam, naturalmente, tristes, o caso de Betty tem muitos aspetos comoventes”, frisam os investigadores citados pela polícia.
Dutch detectives are using a hologram of a sex worker who was killed in Amsterdam 15 years ago, hoping to find the 19-year-old’s killer pic.twitter.com/38pfaSosYT
— Reuters (@Reuters) November 11, 2024
Trata-se de “uma jovem rapariga, com apenas dezanove anos, que é arrancada à vida de uma forma terrível, três meses depois de ter tido um filho. Na noite de 19 de fevereiro de 2009, duas colegas dão pela falta de Betty. Também não ouvem a música que ela habitualmente ouve. Inicialmente, “as colegas pensam que Betty pode estar a ter um dia mau ou que já foi para casa. Mas “quando ficam sem clientes, por volta da 1h00 da noite e vão procurá-la, deparam-se com uma cena macabra. Betty está no chão numa grande poça de sangue, esfaqueada até à morte no seu compartimento.”
Se sua a morte foi “horrível” assassinada com várias facadas, “também não teve uma vida fácil”.
Bernadett Szabó, conhecida como Betty, partiu de Nyíregyháza, na Hungria, para a capital dos Países Baixos quando tinha 18 anos. Nascera no nordeste pobre húngaro, “mas apesar das circunstâncias por vezes difíceis e das oportunidades limitadas, conseguiu ter bons resultados na escola. Passava o seu tempo livre a fazer jardinagem e a tocar violino, com o qual ganhou prémios”, pode ler-se na nota biográfica disponibilizada pela polícia.
Porém, “à medida que Betty cresce, vê cada vez mais diferenças entre os seus colegas de turma e ela. Não tem dinheiro para comprar coisas que os outros podem comprar. Mudou bruscamente de vida, perdeu 25 quilos num curto espaço de tempo e partiu para Amesterdão aos 18 anos”. E aí, “o seu sorriso simpático e a grande tatuagem de um dragão na barriga e no peito chamavam a atenção”.
Ao longo do seu primeiro ano a exercer nas ruas célebres pelas coffee shops e as longas “montras” de profissionais do sexo, Betty engravidou e continuou a trabalhar durante os nove meses da gravidez, e no período imediatamente depois do parto. Mas, “para grande tristeza sua”, não ficou com o filho, foi entregue a uma família de acolhimento. E três meses depois foi assassinada.
Uma investigação “em grande escala” teve início. O local do crime, a sua sala habitual na rua Oudezijds Achterburgwal, foi examinado minuciosamente e as câmaras de vigilância mais próximas foram revistas. Apesar de todos estes esforços, as autoridades não conseguiram resolver o homicídio e chegar a uma conclusão sobre o caso, acabando por ficar nas prateleiras durante mais de uma década.
Agora, o departamento focado em casos antigos da polícia de Amesterdão anunciou um “último esforço” para tentar descobrir quem matou a jovem de 19 anos. O grande interesse na reabertura deste caso passa pelo facto de ter ocorrido num dos sítios mais movimentados da cidade, diz a detetive Anne Deijer-Heemskerk. “É inevitável que alguém tenha visto ou ouvido algo relevante na altura”, acrescenta.
As autoridades locais oferecem ainda uma recompensa de 30.000 euros para incentivar declarações de potenciais testemunhas que se mantiveram em silêncio ao longo dos últimos 15 anos.
Na janela onde habitualmente pousava, a polícia colou vários papéis a explicar os vários detalhes sobre o caso de Betty, com imagens do crime e do seu último paradeiro antes de ter sido assassinada. O elemento mais marcante, é no entanto, um holograma feito à escala, inspirado na jovem.
Foi a primeira vez que a polícia da capital neerlandesa adotou este género de imagem tridimensional, revela o coordenador da equipa de comunicação dos investigadores de Amesterdão, Benjamin van Gogh. “O facto de estarmos a fazer isto desta forma é único e, para ser franco, algo entusiasmante. Queremos justiça para a Betty, para a sua família e para o caso”, sublinha. Van Gogh adianta que todo o processo foi aprovado previamente pelos seus familiares, de modo a garantir que as operações decorrem “de forma mais digna possível”.
O comunicado divulgado pela polícia de Amesterdão, descreve os detalhes desta nova e última fase da investigação, como a localização exata do holograma — rua Korte Stormsteeg, nº2 — e ainda o ficheiro correspondente ao caso de Bernadett “Betty” Szabó.