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As tropas ucranianas têm conseguido manter a ofensiva russa afastada. Mas não vão conseguir por muito mais tempo. Quem o diz é o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que esta quarta-feira lançou um apelo de desespero aos apoiantes do Ocidente: “Precisamos de ajuda agora”.
Numa entrevista à CBS News, Zelensky disse que as tropas russas têm conseguido destruir “algumas aldeias” ucranianas, pois o exército ucraniano não tem com o que se defender. “Não tínhamos munições, munições de artilharia, uma série de coisas diferentes”, disse.
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O Presidente ucraniano lançou, desta forma, um apelo ao Ocidente, para que este cenário não se repita na próxima ofensiva russa, que deverá chegar entre final de maio e junho.
“Antes disso, não precisamos apenas de nos preparar, não precisamos apenas de estabilizar a situação, porque os parceiros às vezes ficamos realmente felizes por termos estabilizado a situação”, disse Zelensky sobre os Estados Unidos e os outros apoiantes da Ucrânia. “Não, eu digo que precisamos de ajuda agora“.
Zelensky referiu que o único problema da ofensiva russa não é apenas a vantagem da quantidade de armamento, como o “poder de fogo de maior alcance”. “Em Bakhmut, Avdivka, Lysychansk, Soledar, etc., foi muito difícil lutar contra o adversário, cujo projétil de artilharia pode disparar a mais de 20 quilómetros e o [nosso] projétil de artilharia a menos de 20″, acrescentou.
O líder ucraniano destacou ainda como um problema o facto de a Rússia não se limitar a atacar e a “destruir aldeias”, como a “tentar ocupá-las”. “Não sabemos como vai ser o dia de amanhã. É por isso que temos de nos preparar“, sublinhou. E, segundo Zelensky, não é só a Ucrânia que tem de o fazer.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deixou também um aviso à Europa e aos Estados Unidos de que a guerra também podem chegar aos seus territórios.
“Para ele [Putin], somos um satélite da Federação Russa. Neste momento, somos nós, depois o Cazaquistão, depois os Estados Bálticos, depois a Polónia, depois a Alemanha. Pelo menos metade da Alemanha”, disse, reiterando o aviso que já tinha feito antes da invasão russa ter sequer começado.
“Mesmo amanhã, os mísseis podem voar para qualquer Estado”, disse o líder ucraniano. “Esta agressão, e o exército de Putin, podem chegar à Europa, e então os cidadãos dos Estados Unidos, os soldados dos Estados Unidos, terão de proteger a Europa porque são membros da NATO.”
Na mesma entrevista, Zelensky disse ainda que a invasão russa era uma guerra “contra a democracia, contra os valores e contra o mundo inteiro” e lançou um apelo àqueles fatigados com a guerra: “só estão cansados aqueles que não estão em guerra, que não sabem o que é a guerra e que nunca perderam os seus filhos”.
O Presidente ucraniano sublinhou uma vez mais que, apesar de os Estados Unidos estarem “a ajudar a Ucrânia” e de o país “estar grato pelo apoio multilateral”, que os “Estados Unidos não estão em guerra”. “Mas a guerra pode chegar à Europa e aos Estados Unidos da América. Pode chegar muito rapidamente à Europa”, disse.
Sobre o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, Zelensky destacou que o mais essencial neste momento são os sistemas de defesa antimíssil American Patriot e mais artilharia, em vez do dinheiro fornecido pelo Congresso.
“Dezenas de milhares de milhões permanecem nos EUA“, disse. “Sejamos honestos, o dinheiro que é atribuído pelo Congresso, pela administração, na maioria dos casos, 80% deste dinheiro – bem, pelo menos mais de 75% – fica nos EUA. Esta munição está a chegar até nós, mas a produção está a ser feita lá, e o dinheiro fica nos EUA, e os impostos ficam nos EUA”.
“Mesmo depois de o ISIS ter assumido a responsabilidade!”, atirou Zelensky, referindo-se à atribuição, segundo ele, “ridícula” de culpas da parte da Rússia relativamente ao atentado que, na sexta-feira passada, fez 143 mortos numa sala de concertos em Moscovo. O Estado Islâmico reivindicou horas depois o ataque, através de uma mensagem no Telegram.
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No entanto, a Rússia tem vindo a acusar a Ucrânia de ter estado envolvida no ataque, tendo inclusivamente esta quinta-feira admitido que havia provas que o ligavam a “nacionalistas ucranianos”.
“Como resultado do trabalho com os terroristas detidos, do estudo dos dispositivos técnicos que lhes foram apreendidos e da análise das informações sobre as transações financeiras, foram obtidas provas da sua ligação aos nacionalistas ucranianos”, referiu o Comité de Investigação russo em comunicado, citado pela Reuters.
O Comité de Investigação esclareceu ainda que os atiradores receberam quantias significativas de dinheiro e criptomoedas da Ucrânia, tendo sido detido outro suspeito de ter financiado o atentado.
“Ele não se importa se é um ato terrorista, um ato económico, a indústria petrolífera ou qualquer uma destas esferas”, disse Zelensky sobre Vladimir Putin, acusando-o de “usar isso para unir a sua sociedade tanto quanto possível”.
“Mesmo o que aconteceu em Moscovo, com tantas vítimas e feridos… Ele está a usar tudo isso apenas com o objetivo de justificar que a Ucrânia não existe“, garantiu o Presidente ucraniano.