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“Quando a guerra começou, senti que não podia continuar a viver lá” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jun 23, 2024

Começou a tocar piano por influência da mãe, aprendeu o instrumento em Kazan, cidade em que nasceu, frequentou o conservatório em Moscovo e atuou pelo mundo, ganhando vários prémios pelo caminho. Em 2022, quando a guerra da Ucrânia começa, o músico Rem Urasin decide vir viver para Portugal. “Adoro a Rússia, mas havia muito ódio, muitas coisas que não conseguia suportar”, diz o pianista em entrevista ao Observador, a propósito da sua vinda a Oeiras para fazer parte de um júri de um concurso de piano.

Rem Usarin vive em Lagos e já sente que é a sua “casa”. Antes de ter vindo viver para Portugal, nunca tinha visitado o país e até conta que tinha um “preconceito parvo”: “Que Portugal era parecido com Espanha”. O Algarve é onde agora se sente feliz: “Sinto-me muito confortável, como se estivesse em casa”. Apesar de considerar que a Humanidade não está a “viver os seus melhores tempos”, o músico sente que Portugal é um refúgio. “Também acontecem coisas más, mas o país está mais protegido do que outros.”

Ganhando a fama de ser um embaixador de Frédéric Chopin, o pianista russo frisa que sempre sentiu uma admiração e que “entendeu” as composições daquele músico nascido na Polónia: “Penso que me influenciou muito. É muito difícil dizer porquê, é um pouco irracional”. Rem Usarin chegou a Portugal e esteve oito meses sem concertos; contudo, já tocou no final de maio no Centro Cultural de Belém — e tem projetos para o futuro.

Rem Usarin era um músico reconhecido na Rússia e tinha vários concertos em solo russo e em vários países. Chegou a atuar, por exemplo, num concerto privado na embaixada russa no Reino Unido. Ao longo da entrevista com o Observador, o pianista nunca elaborou as questões de âmbito político, apesar terem sido abordadas. Ainda assim, reconhece que na origem da decisão de sair do seu país natal, esteve o facto de não se poder dizer “abertamente muitas coisas”, algo que, a seu ver, “não é natural”. E que, quem sabe, talvez justifique ainda a relutância em mencionar sequer o nome de Vladimir Putin.

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Está em Oeiras para julgar pianistas, alguns deles muitos jovens. Como é que essa tarefa e como é que os avalia? Qual é o processo por detrás?
Quando julgo pianistas adultos não é fácil, mas o meu sistema de avaliação é claro. Eu avalio como a audiência, porque a ideia principal é se é interessante ou não. Apenas escuto. Sei que alguns pianistas profissionais dizem que não conseguimos ouvir como o público, porque é o nosso trabalho. Discordo. Eu ouço sempre assim. Claro que existe a técnica, a maneira como tocam e esse tipo de coisas. Claro que tenho isso em consideração. Mas o principal é se estou interessado e se tem valor para mim. Se estou interessado, se penso que é intrigante ou mesmo se que quero tocar essa música, então provavelmente é uma boa atuação. E se tenho o desejo de comprar bilhetes para ir à performance dessa pessoa, se assim é, então ele ou ela é um bom músico.

Em Oeiras, também vai avaliar crianças. É mais difícil avaliar pianistas mais novos?
É um pouco diferente, porque tem de se ter em consideração que eles também têm muito espaço para melhorar. Há que ter em mente essa perspetiva. Quando se avalia uma criança, também estamos a avaliar o seu professor. Mas claro que existe algo distintivo em todos eles, mesmo músicos muito jovens têm isso. Pode ser muito fascinante.

Lembra-se de quando era jovem quando está a avaliar outros? Como é que começou a tocar piano?
Claro que sim. Tinha cinco anos.

Como é que entrou na música? Foi por influência dos pais?
Era muito novo, mas é difícil dizer porquê. Mas foi influência da minha mãe, ainda que ela não fosse música. Ela era geóloga — nada a ver com música. Mas adorava música e viveu durante muitos anos numa cidade muito musical na Rússia, Nizhny Novgorod, que é perto de Moscovo e que tem uma vida cultural rica. Foi há muito tempo.

Na altura da União Soviética…
Sim. Ela contou-me que ela e uma amiga dela compravam muitos bilhetes e gastavam quase todo o seu salário em bilhetes. Eram completamente apaixonadas por música. E a minha mãe queria que eu tocasse qualquer instrumento, mas apenas pela diversão e não para competir como um músico profissional. Quis até que tocasse violino, porque adora. Mas eu nunca pensei em tocar violino. Daquilo que me consigo lembrar, sempre tive a certeza que seria um músico profissional.



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