“It’s the most wonderfull time of the year”, cantou Andy Williams pela primeira vez em 1963. Quem? Pois é. Andy Williams cantou ao lado de nomes como Julie Andrews, Ella Fitzgerald, Bobby Darin, Jerry Lewis, Bing Crosby, Judy Garland,Sammy Davis Jr., Tony Bennett, Dorival Caymmi e Tom Jobim. Um clássico com 81 anos e já ninguém sabe quem é que lhe deu voz originalmente. Ou então, toda a gente sabe e isto sou só eu a ser extremamente ignorante. O que também não é assim tão descabido. Descabido foi o meu sogro, num destes Natais, ter recebido uma trela extensível. Sem ser portador de nenhum tipo de canídeo. E quando alguém com menos pruridos perguntou à presenteadora porque raio tinha oferecido aquilo, a resposta, acompanhada do ar mais blasé do mundo, foi: “Pode dar jeito”.
Portanto, se derem por vocês angustiados com a escolha de presente para um ente querido, lembrem-se disto. Espero que traga conforto aos vossos corações. E sabem o que é que também me traz muito conforto, de há uns anos para cá, nesta época? Os filmes de Natal da Netflix. Se esta transição de assunto foi forçada? Confirmo, mas é para fazer pendant com a larga maioria dos títulos natalícios que todos os anos chegam a esta plataforma de streaming. Forçadinhos que só eles. Se os vejo na mesma, apesar da maioria das vezes se revelarem um desperdício de tempo e dinheiro? Confirmo. Mas há lá coisa mais natalícia do que o desperdício? Contenho-me no desperdício alimentar, deixem-me ser indulgente nisto.
Este ano a Netflix brindou-nos com seis filmes (até à data). Ainda não fui a nenhum jantar de Natal este ano, mas esta meia dúzia já cá canta. Se eu não ando com uma vida louca, meus amigos, ninguém anda. Segue um resumo de cada um e o que se me oferece dizer, sem talão de troca. Se não gostarem, façam como eu com o bolo rei.
Nível Natalício: 3 Renas
Sinopse: Lacey Chabert e Dustin Milligan estrelam esta comédia romântica sobre uma viúva e um boneco de neve que se apaixonam graças à magia do Natal.
Sim, leram bem. A protagonista Kathy está a lidar com o luto e com a incapacidade de seguir em frente. Ela é dona de um restaurante, mas perdeu a vontade de cozinhar. Tem uma casa enorme a precisar de manutenção e um coração fechado para obras. Mel, dona de uma loja de roupa em segunda mão, a Humana lá do sítio mas sem hipsters, quer que ela volte a encontrar o amor, vai daí dá-lhe o cachecol que estava usar no dia em que conheceu o marido. Isto é que é uma mulher comprometida com a economia circular. Kathy não está para amar e ao passar no recinto do concurso de esculturas de neve de Hope Springs, coloca o cachecol à volta de um pouco convencional boneco de neve, uma espécie de Adónis de cabelo comprido em tronco nu, e vai à vida dela. Eis senão quando, dá-se a magia do Natal e o escultural boneco ganha vida. E aprende a cozinhar… E a fazer todo o tipo de consertos domésticos. Tudo o que Kathy precisava. Ele há coisas! E há aqui vários requisitos-padrão de telefilme de Natal:
- A viuvez é uma coisa com muita saída, porque provoca compaixão ao telespectador e dá uma certa gravitas às personagens, que normalmente têm a espessura de uma folha de papel vegetal.
- A suspensão da descrença está em modo bar aberto: se a Coca-Cola conseguiu convencer o mundo que um santo grego do séc. III podia usar aquele look bonacheirão, porque não um boneco de neve ganhar vida e ter uns abdominais tipo Jeremy Allen White na campanha da Calvin Klein?
- A ação passa-se numa pequena cidade em que toda a gente se conhece e onde toda a gente frequenta os mesmos sítios. O que, parecendo que não, poupa imenso em cenários.
- Estamos no IMDB ao fim de 5 minutos, porque há sempre alguém cuja cara não nos é estranha. Neste caso, a atriz principal Lacey Chabert é uma das Mean Girls do filme com o mesmo nome, protagonizado por Lindsay Lohan.
Devo dizer que, apesar de estratosfericamente parvo, eu até me diverti a ver isto. Tem um ótima dupla de atores a fazer o xerife Hunter e o ajudante Schatz: Craig Robinson e Joe Lo Truglio (ambos ex-Brooklyn Nine Nine). O primeiro super zeloso, conspiracionista e com complexo de Deus, o segundo nem por isso, seja o que for. Surpreendentemente, esta chachada natalícia tem boas piadas. Há até uma quebra da quarta parede em que o xerife encara a câmara e o ajudante pergunta para onde está ele a olhar. Não estava à espera deste humor-meta num Derreter de Amor. Há uma outra cena em que Jack está a ver televisão e surge Lindsay Lohan (Caídinha pelo Natal, também da Netflix) e Kathy diz “Ela é parecida com uma colega que tive no liceu”. Giro. Só mais uma: lembram-se da cena quando a Richard Gere leva Julia Roberts a um banho de loja? Temos uma cena dessas, com a música do Pretty Woman. E a viúva ainda dá uns botões de punho ao boneco em forma de bonecos de neve e fecha-lhe a caixa na mão. Vão-me dizer que sou só eu que acho graças a isto? Enfim. Corações de gelo.
Nível Natalício: 1 Rena
Sinopse: O futuro amoroso de Layla depende de arrumar um ingresso para um show esgotado. Será que o destino e uma busca frenética por Nova York vão levar a um milagre de Natal?
Ora a Layla, que é uma rapariga às direitas (trabalha numa ONG e tudo), vê-se presa no aeroporto na véspera de Natal. Tem o namorado à espera, com bilhetes para ir ver o concerto de Natal dos Pentatonix, espectáculo a que vai todos os anos. Só que aviões que é bom, nem vê-los. Vai daí, como o que não tem remédio remediado está, vai aproveitar o VIP Lounge, até porque era a empresa a pagar. Tem uma curta interação com um jovem perto do buffet, mas nada de muito memorável, até porque ela estava mais interessada nas quiches. E tem uma conversa intensa com James, regada a copos de vinho, onde percebem que têm imensa coisa em comum, incluindo a vontade passar o Natal em Paris (absolutamente único). A dada altura, Layla fala no malfadado concerto dos Pentatonix e James diz que não conhece a banda. A moça fica chocada, oferece-lhe um fone e ouvem uma música juntos. Um momento lindo que me fez dar uma corrida até à cozinha, em busca de uma Água das Pedras. Eis que James é chamado para o voo mas, antes de a deixar, sugere-lhe que caso ambos estejam solteiros dentro de um ano, se encontrem no dito concerto. A Layla arma-se em sonsa e diz que é pouco provável, porque está comprometida e bem, mas aceita.
Corta para um ano depois, faltam 5 dias para o Natal, Layla sai mais cedo do trabalho para fazer uma surpresa ao namorado. Chega a casa a transbordar de espírito natalício, até traz uma bandelete de rena. Mas o namorado devia achar que ela estava a precisar de um par de cornos à séria, na medida em que estava na cama dela com outra. A Layla fica de rastos, mas por pouco tempo. Numa conversa bem regada com uma amiga, lembra-se do combinado com o James e fica extasiada, mas por pouco tempo mais uma vez. Pela primeira vez em anos não comprou bilhetes para os malfadados Pentatonix e sabe que o concerto está esgotado. Layla, desesperada, recorre a um serviço de concierge, sendo-lhe atribuído um assistente com pouco talento para a função, Teddy. Juntos enfrentarão um sem número de peripécias (palavra muito usada em sinopses de filmes maus) para conseguir o almejado bilhete. E é por vezes na adversidade que nasce o amor… Peço desculpa, acabei de me auto-nausear.
Além de mau, Próximo Natal à Mesma Hora é previsível, enfadonho, um desfile chato e comprido de clichés. A história não tem pontinha por onde se lhe pegue. Os atores são todos fracos, sem exceção. Os próprios dos Pentatonix, que vão acompanhando a epopeia de Layla e Teddy através de mensagens do Instagram da agente deles (não tentem perceber, eu também desisti), fazem deles próprios e até nisso são maus. Só para acabar: caso não saibam, os Pentatomix são um grupo a capella originário do Texas.
Nível Natalício: 1 Rena
Sinopse: Nesta comédia, uma dançarina (Britt Robertson) tenta montar um espectáculo musical só com homens e acaba se apaixonando por um belo carpinteiro.
Ponto 1: Ver um filme de Natal que é uma espécie de Magic Mike, se os strippers se vestissem na C&A, não estava no meu bingo deste ano.
Ponto 2: Este filme tem classificação etária “+7” e, na mesma linha, o alerta “conteúdo sexualmente sugestivo”. Porque se por um lado, nada há mais do que um beijinho, por outro há movimento pélvico na atmosfera com fartura. Já para não falar de todo um diálogo entre a protagonista e o seu interesse amoroso, que sucede enquanto o dito interesse conserta canos (qualquer semelhança com a premissa de toda uma categoria de porno, parece-me tudo menos coincidência), em que todas as linhas de diálogo podem ter como resposta “that’s what she said!”.
Ponto 3: Lembram-se daquela coisa que disse lá para cima de haver sempre um momento “a tua cara não me é estranha, mas estou a vê-la muito lá ao longe?”. A protagonista Ashley é Britt Robertson, a filha da Julia Roberts em Mother’s Day. O protagonista, Luke, é Chad Michael Murray, o Tristin de Gilmore Girls (uma das minhas séries-fetiche) e o pai da Ashley é Michael Gross, o pai de Michael J. Fox na clássica e intemporal sitcom Quem sai aos seus (ou Family Ties).
Ashley é a lead dancer das Jingle Belles (belo trocadilho) de um espectáculo da Broadway intitulado Christmas Extravaganza. Uma questão antes de avançar: um espectáculo de Natal, na Broadway, 365 dias por ano? 366 nos anos bissextos? Sou só eu? Acrescento que, pelo pequeno segmento no início do filme, a coreografia é fisicamente menos desafiante que uma aula de aeróbica dos utentes do Centro da Gafanha do Carmo. Long story short, Ashley é despedida nas vésperas de Natal, porque já tem para cima de 30, o que faz dela uma autêntica múmia. A recém-desempregada está em casa a curtir a depressão e é aqui que a Netflix tem um momento auto-promoção ao nível da TVI, pois nada melhor para esse estado de espírito do que ver A Christmas Prince, um dos franchises de Natal mais bem sucedidos da plataforma. Uma trilogia péssima, também. Recomendo muito. Vai daí, à falta de melhor para fazer, Ashley resolve ir passar o Natal com os pais que moram numa pequena cidade e são donos de um bar/clube noturno/sala de espectáculos, na iminência de fechar. Pausa para referir que uns sólidos 1,5 em cada 2 destes filmes de Natal envolvem o regresso de um filho da terra e 2,8 em cada 3 envolvem salvar um negócio de família importantíssimo para a comunidade (estes números são inteiramente baseados na minha perceção. Adorava aparecer no Polígrafo. Beijinho grande, Bernardo Ferrão!).
Long story short, Ashley tropeça em Luke assim que chega, um carpinteiro introvertido que tem ajudado os pais dela. E quando digo, “tropeça” estou a ser literal. Não sei porque é que acharam que fazia sentido que uma bailarina tivesse a coordenação de um padrinho de casamento em fim de noite, mas ela passa a primeira metade do filme a cair e a ir contra coisas. O que mais dizer deste casal? Parece que foram feitos por Inteligência Artificial ou que fazem parte da mesma linha de bonecos insufláveis extremamente realistas. É assustador. Ashley tem a ideia brilhante de fazer um espectáculo de strip masculino para salvar o negócio dos pais, protagonizado por este promissor quarteto: o acima referido carpinteiro, o cunhado, o barman e um taxista que a trouxe do aeroporto à chegada e cantou pelo caminho. Padrõezinhos lá para cima. Será que vão conseguir salvar o bar? Será que Ashley e Luke se apaixonam, apesar do preconceito que Luke tem relativamente a “city girls” (expressão que repete ad nauseum), uma vez que a ex-namorada depois de um par de fins-de-semana em Sycamore Creek, se virou para ele e disse “Tchau aí, ó borrego!”? Só saberão se virem Os Alegres Cavalheiros. Ou se tiverem 2,8 neurónios.
Nível Natalício: 2 Renas
Sinopse: Dez anos após um pedido de casamento que não deu certo, um ex-casal precisa passar o Natal junto após descobrir que seus novos parceiros são irmãos. Que torta de climão!
Vamos começar por fazer um minuto de silêncio por Herbert Richers (1923-2009), tradutor de Esquadrão Classe A (“Adoro quando um plano dá certo!”). Foi o que me veio à mente depois de ler a sinopse acima. E por mim, continuava em silêncio, porque não me apetece dizer nada sobre este filme, que achei fraquinho, fraquinho. A Lindsay Lohan está a fazer o caminho das pedras, o que é perfeitamente válido, até porque ela não é má atriz. A sogra insuportável é interpretada pela Diva Kristin Chenoweth, pontos para isso. Um pequeno parênteses: não dá para não falar na Glinda dela, ainda para mais depois de Wicked estrear. Procurem a versão dela na Broadway, é incrível. Adiante. O Nosso Segredinho é uma comédia de equívocos, um género que ou traz algo novo e é incrivelmente bem feito, ou esta menina passa o filme inteiro a revirar os olhos e já não tenho idade para isso.
Avery (Lohan) e Logan (Ian Harding) começam por ser amigos na adolescência, com o andar da carruagem tornam-se namorados e tudo se encaminha para que vivam felizes para sempre. Dois acontecimentos precipitam uma mudança de vida: a mãe de Avery morre repentinamente e a filha, ainda a processar o luto, recebe uma proposta irrecusável para ir trabalhar para Londres. Na festa de despedida, um equívoco (cá está) induz Logan a pedir Avery em casamento, a coisa descamba e não só não há um “I do”, como o namoro acaba.
Corta para 10 anos depois cada um com a sua vida refeita, que é como quem diz comprometidos e felizes (ao que parece). E então não é que ambos vão passar as férias de Natal com os seus respetivos e quando chegam a casa dos sogros percebem que, como diz a sinopse “seus novos parceiros são irmãos. Que torta de climão!”. Se tinha que usar esta expressão novamente? Não havia qualquer tipo de necessidade, mas quis fazê-lo. Os ex-namorados combinam manter o segredo para evitar uma situação desconfortável e simultaneamente fazem um pacto de entreajuda: Logan vai ajudar Avery a causar boa impressão na sogra, que a odeia, e ela ajuda-o num plano de negócios que surgiu inesperadamente e que tem de ser entregue até ao dia de Natal. Zero forçado, não é? Também achei. E depois, seguem-se um sem número de peripécias, que não podem faltar, para manter o segredo e levar o plano a bom porto. O tempo que durou o bocejo que acabei de dar, foi mais que suficiente para vocês fazerem as contas de cabeça e perceberem como é que isto acaba. Next!
Nível Natalício: 4 Renas
Sinopse: Em luto pela perda da irmã, Noel faz uma nova amizade que traz o espírito natalício de volta para a vida dele. Uma história mágica e emocionante.
Ponto prévio: embora na sinopse se refiram ao protagonista como Noel, durante o filme o nome referido é Julien e será dessa forma que me vou referir ao miúdo com olhos cor de café acabado de fazer.
And now for something completely different. Irmã de Neve é um filme norueguês, baseado no bestseller infantil com o mesmo nome, escrito por Maja Lunde e ilustrado por Lisa Aisato. Não me vou alongar muito sobre o enredo do filme, porque não quero dar spoilers e queria mesmo que vissem este. Não é divertido, embora nos vá pondo sorrisos nos lábios aqui e ali. É sobre a morte, sobre como o luto tem ritmos diferentes, consoante a pessoa, a ligação com quem partiu, e também a idade do enlutado. Julien vive com os pais e a irmã mais nova. O Natal aproxima-se e é o primeiro depois da morte prematura da irmã mais velha Juni, aos 15 anos. Julian não é o miúdo mais popular, tem um ar frágil e um olhar triste, o que não o torna propriamente o mais popular da escola. Um dia está a nadar e vê uma miúda a olhar para ele através da vidraça. Hedvig é uma boneca ruiva que o inunda de palavras como se fosse morrer de sede, se se calasse, e traz magia e alegria para o mundo triste e enlutado de Julien, que vive numa casa onde não há espaço para o Natal. Uma casa em que de um lado tem uns pais a quem resta pouca vontade de viver, muito menos de celebrar seja o que for. Do outro, a pequena irmã que se refugia na sua cama e só quer ser criança.
O filme tem momentos muito tristes e duros, que ganham contornos particulares por serem protagonizado por crianças. A amizade entre os dois protagonistas começa a crescer e Julien confidencia a Hedvig o que está a passar. A determinada momento quando fala dos pais, afirma que depois da morte de Juni “parece que foram trocados por personagens parecidas com eles”. Noutra cena, o pai diz à mais nova que tem de dar tempo à mãe, ao que ela responde “O tempo faz com que a Juni deixe de estar morta?”. Forte, não é? Mas Irmã de Neve também tem na beleza a sua força. As paisagens geladas e alvas da Noruega pontuadas pelo gorro vermelho de Hedvig e os seus caracóis são de cortar a respiração. Os cenários natalícios são lindos e ainda acentuam mais o contraste com a casa de Julien, onde tudo é cinzento e a meia-luz. Como deve ser a vida, quando se perde um filho. Mas esta também é uma história de esperança, de amizade e de amor à vida. Entre adultos, entre crianças, entre adultos e crianças. Entre família e amigos. Não tem Natal no título, mas é o mais natalício de todos.
Nível Natalício: 4 Renas
Sinopse: O espírito de Natal transforma completamente uma cidadezinha inglesa nesta comédia de animação com as vozes de Brian Cox, Fiona Shaw e Jodie Withaker, na versão original.
Vamos começar por aí, então. O filme de animação da Netflix, que estreou dia 4 de dezembro, está carregadinho de sotaque britânico e tem um elenco do caraças. Brian Cox é o Logan “Fuck Off” Roy de Succession e faz de Pai Natal. Se isto não é motivo suficiente para verem o filme, estão mortos por dentro. Fiona Shaw é muita coisa, mas vou destacar a Carolyn do Killing Eve. Jodie Withaker é muito conhecida pelo Doctor Who, que eu nunca vi, por isso destaco o 3º episódio da 1ª temporada de Black Mirror, que é tão bom, que vou rever quando acabar de escrever isto. E tem Bill Nighy, o Billy Mack do derradeiro filme de Natal, Love Actually. Dois factos importante no que a Love Actually diz respeito: há um momento em que Bernardette, a adolescente pespineta do filme, enumera as inefáveis tradições de Natal e uma delas é “o mesmo filme de sempre”. E sim, está-se a referir a Love Actually. Segundo facto: o guião de Naquele Natal é assinado por Peter Souter, Rebecca Cobb e… Richard Curtis, que escreveu e realizou Love Actually. Por esta é que vocês não estavam à espera, verdade?
O filme é passado em Wellington-on-Sea, um lugarejo à beira-mar plantado, para onde Danny e a mãe se mudaram recentemente. A ação começa na noite da peça de Natal da escola de Danny, onde decidem fazer uma adaptação muuuito livre, onde são incluídos personagens inesperados para o contexto do nascimento do menino ora nas palhas deitado, ora nas palhas estendido. Mais uma vez, tal como acontece em Love Actually… Pronto, vou parar, foi a última referência. Bernardette, a tal pespineta, resume a peça como uma “festa vegetariana e multicultural com canções pop e coisas sobre alterações climáticas.” A peça é assinada pela Sam Ansiosa, por quem Danny está embeiçado. Sam tem uma irmã gémea, Charlie, que é o exato oposto, uma espécie de versão feminina e moderna do Dennis, o Pimentinha. Voltando à peça: em The Three Wise Women, os magos são magas, os pastores são substituídos por agricultores biológicos, premissa da qual decorre resultam miúdos vestidos de beringela, milho e no caso do Danny grão de bico, o que teve um impacto fascinante nos índices de popularidade do já isolado pequeno. Para ajuda à festa, a vida familiar de Danny já teve melhores dias, uma vez que a mãe enfermeira passa a vida a trabalhar e o pai fugiu com uma enfermeira, curiosamente, mas com 25 anos.
O que é que sucede daqui? Muita coisa que não cabe neste artigo que já vai longo. Até porque Naquele Natal não é um filme cliché ou previsível, tem voltas e reviravoltas e tem muitas vezes muita graça. Eu, pelo menos, achei. É claro que tem uma moral. É animação e ainda por cima de Natal, dah! Mas não achei moralista, nem chato. Adiantarei apenas que devido a um nevão de proporções “climatástroficas”, pais e filhos vêm-se separados e o Pai Natal vê a sua vida dificultada. Para uns, finalmente vão ter um Natal diferente. Para outros, a ausência de um Natal tradicional mata-lhes o espírito festivo. Ótimo filme para ver em família, com amigos ou sozinho. Seja qual for a vossa tradição de Natal.
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Só para concluir: a todos um Bom Natal! Especialmente, aos que aguentaram até ao fim. Vocês são fortes, vocês são duros. Estou a ver-vos com resiliência para me acompanharem no tradicional visionamento de Música no Coração, depois da abertura dos presentes, com o habitual tirinho na asa. Queres ver que é desta que eu me meto na Twitch?