Eis um dos mais originais e conseguidos filmes de vampiros dos últimos tempos, na linha de títulos como Deixa-me Entrar e Uma Rapariga Regressa Sozinha a Casa, e a estreia a realizar da canadiana Ariane Louis-Seize. Sasha (a encantadora Sara Montpetit) é uma jovem, tímida e sensível vampira de 62 anos que não consegue matar humanos para se alimentar, e depende dos saquinhos de sangue que a sua preocupada família guarda no frigorífico. Quando encontra Paul (Félix Antoine-Bénard), um adolescente solitário, atormentado na escola pelos colegas e com tendências suicidas, e que se oferece para ser a sua primeira vítima, Sasha julga ter o seu problema resolvido. Só que, como bons outsiders que são, eles ficam amigos e a rapariga recusa-se a mordê-lo. Ariane Louis-Seize assina um filme que é muito mais afetuoso e melancólico do que aterrorizador, e tem mais humor negro que derrame de sangue. A realizadora substitui de forma subtil o tema do desconforto adolescente com o despertar da sexualidade pelo do incómodo de Sasha com a sua incapacidade para ser vampira, e o das dificuldades de Paul com a sociabilidade, brinca com os códigos das fitas do género e racionaliza os comportamentos e as reações dos vampiros (ver as respostas lógicas de Sasha quando Paul a interroga sobre a sua condição, e a reação ao sol e às cruzes). Vampira Humanista Procura Voluntário Suicida é um diamantezinho negro que sobressai no presente e desolador panorama do cinema fantástico e de terror.
A haver um troféu para o Filme Mais Insondavelmente Implausível do Ano, ele vai direitinho para Emilia Pérez, feito no México pelo francês Jacques Audiard. Um sanguinário chefe de um cartel da droga mexicano chamado Manitas del Monte contrata, em segredo, uma advogada, Rita Moro (Zoe Saldaña) frustrada com o estado da justiça no seu país, para que ela trate da sua transição de homem para mulher, simule a sua morte e proteja a mulher e os dois filhos pequenos, que não podem saber de nada. Manitas transforma-se assim na Emilia Pérez do título (ambos são interpretados pela atriz trans Karla Sofia Gascón), e agora mulher e mais “sensível”, apercebe-se de todo o mal e sofrimento que causou quando era homem, e cria, com Rita, uma ONG para recuperar os corpos das vítimas da violência bárbara dos cartéis. Só que o instinto paternal não desapareceu com a mudança de sexo, e Emilia quer estar com os filhos que vivem com a mãe na Suíça. Emilia Pérez é uma inimaginável, indigerível e desastrosa amálgama de Narcos, telenovela mexicana, filme musical anárquico e panfleto woke. O Festival de Cannes achou por bem dar-lhe o Prémio do Júri e o da Interpretação Feminina ao conjunto das atrizes.
Um inspetor da polícia herda um bowling do pai que morreu, e entrega a gestão da casa ao meio-irmão, que mal conhecia, um sujeito instável e que até aí trabalhava como segurança e vivia precariamente. Ao mesmo tempo, começam a aparecer vários cadáveres de mulheres assassinadas. Realizado pela francesa Patricia Mazuy, da qual se estreou em Portugal apenas um filme, Saint-Cyr (2000) e que está a ser homenageada no LEFFEST com uma retrospetiva, Bowling Saturno apresenta uma bastante descuidada intriga policial com pretensões “psicológicas”, que serve de cabide a um primário discurso anti-violência visando especialmente os homens, já que quase todas as personagens masculinas do filme, principais ou secundárias, se caracterizam pela uso da mesma, seja contra os animais (o grupo de caçadores amigos do pai dos dois protagonistas), seja contra as mulheres. A fita também não é nada ajudada pela realização apática de Mazuy e pelas interpretações mediocremente bisonhas dos atores que fazem o polícia e o seu meio-irmão, Arieh Worthalter e Achille Regianni. Para esquecer e depressa.
Quase 25 anos depois do oscarizado primeiro filme com Russell Crowe no papel principal, Ridley Scott realiza esta continuação, ambientada duas décadas depois dos acontecimentos de Gladiador, e que dispôs de um orçamento que terá ultrapassado os 300 milhões de dólares. Lucius, o filho de Maximus, que fugiu de Roma para não ser assassinado, é agora um adulto e vive pacificamente com a mulher na Numídia. Após um ataque dos romanos e uma sangrenta batalha, Lucius é feito escravo, trazido para Roma e comprado pelo rico Macrinus, que lhe reconhece qualidades de gladiador e o põe a combater na arena do Coliseu, onde se distingue. Lucius irá então ser confrontado com um passado e uma herança que começa por não querer reconhecer ou aceitar, e ver-se envolvido não numa mas em duas conspirações contra os imperadores gémeos, os perversos e cruéis Geta e Caracala. As interpretações principais são de Paul Mescal, Denzel Washington, Pedro Pascal e Connie Nielsen. Gladiador II foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.