De orientação esperançosa, José Luís Porfírio, critico de arte que exerceu funções de diretor do Museu de Arte Antiga entre 1996 e 2004, revive a necessidade da existência de um verdadeiro museu de arte contemporânea, lembra o poder económico da Fundação Calouste Gulbenkian, ontem como hoje, para tornar viável a fruição permanente dos Souza-Cardoso, por exemplo, “um núcleo do primeiro modernismo fundamental”, mas também dos ingleses dos anos 60, frisando, no entanto, as dificuldades de uma instituição “muito majestática, embora aberta” para levar a cabo “manifestos de novas intenções”, sobretudo num tempo, o atual, em que “a política de contenção” passou a fazer parte da casa. José Luís Porfírio desafia, no entanto, o novo CAM a mostrar o que vale nem que seja pela “responsabilidade” de ser quem é e de se apresentar ao público depois de quatro anos fechado.
Com uma perspetiva histórica muito vincada, Pedro Lapa, curador que já dirigiu o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, bem como o Museu Berardo, lamenta que o CAM, nos seus 40 anos de vida, não tenha assumido o papel de museu de arte moderna, que a sua coleção tão bem patentearia, mas celebra a criação, por parte da Gulbenkian, de bolsas para artistas que desde a década de 60 permitiram aos portugueses ir estudar para o estrangeiro. “Esse é um facto de uma importância gigantesca para o panorama nacional e aquilo que condicionou a transformação que a arte portuguesa sofre desde então, esse foi um programa verdadeiramente valioso. Tornou-se depois evidente, com a constituição da Coleção, a necessidade de criação de um espaço para a arte moderna e contemporânea. Mas o projeto foi feito apressadamente, ao invés do que tinha acontecido com o magnífico edifício Gulbenkian”, explica. Mesmo assim, continua Pedro Lapa, “havia a expetativa de que o CAM pudesse constituir-se como um museu de arte contemporânea portuguesa e integrar-se na rede de exposições internacionais de grande qualidade, dado o prestígio que a Fundação tinha na época. Mas não foi essa a decisão da administração. As grandes exposições que por cá passaram, bastante protocolares, não tiveram caráter de continuidade e muito menos programático. E a afirmação do CAM como parceiro das importantes estruturas europeias acaba por não acontecer também nos anos 90, mas a presença da coleção no CAM foi importante para a criação de uma perspetiva sólida sobre o século XX em Portugal. O que se nota é que, a partir de um determinado momento, a coleção do século XX não tem estado exposta. Como consequência há a perda de referencial sobre o que é a história da arte em Portugal, traduzindo-se isso num esquecimento aceleradíssimo e extremamente perigoso sobre diversos tipos, épocas, vertentes… O efeito que essa ausência tem no próprio mercado de arte sobre nomes fundamentais da história da arte portuguesa do século XX, sobretudo de meados e inícios do século, é enorme, esses nomes estão completamente esquecidos e desvalorizados.” Da análise de Pedro Lapa surge também outra certeza: “O CAM tem seguramente a melhor coleção de arte portuguesa do século XX, e teria idealmente de ter ali um lugar de permanência”.