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Quem ganhou o primeiro debate das europeias? Temido, Bugalho, Cotrim ou Paupério? Veja as notas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 13, 2024


Nos quatro temas do primeiro debate destas eleições europeias, só um deles gerou algum consenso entre os cabeças de lista do PS, AD, Iniciativa Liberal e Livre: o alargamento da União Europeia, Ucrânia incluída. De resto, quer sobre a aposta na Defesa europeia, quer sobre o Pacto para as Migrações e, por último, no apoio a António Costa para o cargo de presidente do Conselho Europeu, Marta Temido foi a mais atacada por Sebastião Bugalho, Cotrim Figueiredo e Francisco Paupério.

Começando pelo fim, só Temido foi clara no apoio a Costa para um cargo europeu. O candidato do Livre disse desconhecer os candidatos e os cabeças de listas da AD e da IL foram claros em reafirmar que não vão apoiar o ex-primeiro ministro.

Sobre o investimento na Defesa, Francisco Paupério também não mostrou dúvidas, como candidato de um partido que sempre se assumiu europeísta: “Temos de investir na segurança e na autonomia estratégica da Europa”. Sebastião Bugalho falou da hipótese de emissão de dívida mutualizada, porque diz poder garantir que governos não tenham de escolher “entre tanques e hospitais”. Cotrim insistiu ser necessário que “o pilar europeu da NATO se fortaleça”. E Temido ficou sozinha ao mostrar alguma prudência, dizendo que “não vamos investir em armas e não investir em casas”,

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Mas o debate tinha começado logo muito quente e com muitas críticas ao PS em relação ao Pacto para as Migrações. Apesar de Marta Temido admitir que o mesmo tem “fragilidades” e “foi o compromisso possível entre perspetivas muito diferentes”, Sebastião Bugalho lembrou que o pacto permite que um Estado-membro possa recusar receber migrantes mediante o pagamento de uma compensação e disse que “o PS entregou a política de imigração a redes de tráfico humano”. Cotrim foi na dobra, falou nas “lacunas” e na “irresponsabilidade do PS” pela “extinção do SEF”. E quando Temido se tentou defender e assumiu os “riscos”, Paupério não poupou no ataque: “Então, porque é que o aprovaram?”

O próximo debate será na quarta-feira, dia 15, na RTP, e vai colocar frente a frente Catarina Martins (Bloco), Fidalgo Marques (PAN), Tângêr Correia (Chega) e Francisco Paupério (Livre). Pode ver os dias e os canais de todos os debates aqui.

Quem ganhou o debate? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos e explicar porquê. A soma surge a cada dia, no gráfico inicial onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.

Alexandra Machado — O primeiro debate a quatro. Um debate civilizado (confesso que umas picardias qb em debate até animam) e com temas relevantes para a Europa. Ainda assim, é refrescante ver um debate sem os mesmos ataques, embora Francisco Paupério tenha acabado por cair neles quando disse que a IL nega a emergência climática. Acabou a pedir desculpa pela quebra de raciocínio de João Cotrim de Figueiredo. O candidato da IL, em determinados momentos do debate, conseguiu ser mais arrogante que Sebastião Bugalho que teve a preocupação (e bem) de explicar mais e atacar menos… correu-lhe mal os convites para participarem em reuniões aos países candidatos. Esperava-se mais de Cotrim de Figueiredo e ficou muito colado a Bugalho. Mas chegaram para Marta Temido, que acabou por dizer generalidades (em particular na imigração) e a tentar puxar para o debate nacional (e por vezes para a saúde) e não conseguiu “safar-se” ao facto de ser ex-ministro do Governo de António Costa sem conseguir explicar o que se passou com o fim do SEF e a criação da AIMA. Uma palavra para Francisco Paupério, que era a maior incógnita,  não esteve mal (e até foi o que falou menos tempo, o que até pode ter ajudado). Mostrou segurança nos temas, mas não é um Rui Tavares em debate (ainda que Paupério pareça ambicioso). Os dois jovens estiveram melhor face aos dois ex-governantes. Terão subvalorizado a experiência?

Helena Matos — Francisco Paupério disputava terreno a Marta Temido. Marta Temido tentou atacar Sebastião Bugalho. João Cotrim de Figueiredo e Sebastião Bugalho tentavam que os telespectadores percebessem aquilo que os separa. Nenhum deles foi bem sucedido nestes seus propósitos. Passemos então para aquilo que de facto conseguiram: Sebastião Bugalho mostrou que está bem preparado, que sabe gerir o tempo e conseguiu condicionar as intervenções dos outros presentes. Ganhou o debate. Cotrim de Figueiredo percebeu que o seu maior adversário nestas eleições vai ser Sebastião Bugalho. O candidato liberal receia e com razão que os votos sigam para o candidato da AD, aquele a favor de quem correm os ventos da novidade e do poder. Cotrim de Figueiredo tem provavelmente mais pensamento próprio sobre a Europa que qualquer outro dos debatentes mas Sebastião Bugalho brilhou mais. Francisco Paupério corre na pista da simpatia. As exigências de argumentação em relação a ele são muito menores, basta-lhe dizer emergência climática e não tem de explicar mais nada. Boa parte do que diz nomeadamente sobre o crescimento produzido pela transição energética é puro wishful thinking. Mas com tudo isto e também por tudo isto não lhe correu mal. Marta Temido era quem chegava a este debate em pior circunstância: não tem margem para se demarcar do anterior governo (por exemplo no caso do SEF/AIMA) e acabou a ter de recorrer à Linha Saúde 24 para reforçar os seus argumentos. Não venceu nem convenceu e é a perdedora do debate. Para seu bem Marta Temido agora candidata tem de libertar-se de Marta Temido antiga ministra.

Pedro Jorge Castro — Uma primeira má nota para todos: ainda não chegaram a Bruxelas e já são uns burocratas. Acham que estavam a falar para quem, na SIC generalista, às 9 da noite? Acham que a mensagem e os termos utilizados foram compreendidos por quantas pessoas? E não, a culpa não é da escolha dos temas, que são importantes. É da incapacidade de falar dos temas de forma a que se percebessem as diferentes propostas com clareza. Durante o cavaquismo, Portugal era o bom aluno na Europa. Esta noite, estes quatro candidatos quiseram tristemente mostrar (a quem?) que são bons alunos e podem circular pelos corredores de Bruxelas e Estrasburgo a opinar sobre “defense bonds”. Agora um a um: de Bugalho esperava-se muito mais eficácia, dada a sua experiência em estúdios de televisão e a sua idade no cartão de cidadão, mas nem se apercebeu da altivez e da incapacidade de falar diferente, como se só quisesse ser aceite pelos outros candidatos — quando tem muito para fazer até chegar ao povo. Temido está mal preparada, mas já não se esperava muito. Apesar de tudo, conseguiu sobreviver sem ser dizimada pelas responsabilidades socialistas e saiu do estúdio com um sorriso de alívio. Cotrim perdeu-se e irritou-se quando o miúdo do Livre lhe atirou a emergência climática, o que é algo incompreensível com tanta experiência de debates. Mesmo assim, teve a coragem da coerência e de dizer coisas bastante impopulares, que podem (ou não) vir a custar muitos votos. Do estreante verdinho e desconhecido Paupério não se esperava nada e afinal surpreendeu pela preparação e combatividade, muitas vezes isolado contra os três adversários mais experientes, mas sem se deixar afetar nada por isso.

Miguel Pinheiro —  “Concordo”, disse João Cotrim Figueiredo. “Nisso concordo”, acrescentou Sebastião Bugalho. “Fico muito contente em ouvir o Sebastião dizer que…”, exclamou João Cotrim Figueiredo. “Podemos concordar?”, perguntou, tímido, Sebastião Bugalho. “Estamos todos de acordo”, proclamou, claramente satisfeita, Marta Temido. No primeiro debate das europeias, a AD, o PS e a IL não encontraram motivos suficientes para discordarem verdadeiramente em nada. E isso, claro, deixou Francisco Paupério como o único candidato à mesa com uma visão diferente sobre a União Europeia. Concorde-se ou não com ele, mostrou que o Livre não quer mais do mesmo — só por isso, Paupério merece um 7. João Cotrim Figueiredo tem um 6 por ter estado, como sempre, bem preparado. Sebastião Bugalho fica no 5 porque perdeu as estribeiras por duas vezes — uma delas com Clara de Sousa, insistindo para terminar uma ideia, e a outra, indesculpável, com Francisco Paupério, quando lhe perguntou, irritado: “Está-se a rir por alguma razão?”. Sobra o 4 de Marta Temido. Sobre isso, digamos apenas que ficou evidente porque é que o PS tentou a todo o custo evitar os frente a frente.



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