Quem semeia ventos, colhe tempestades, diz o povo. O que está a acontecer no Médio Oriente é a prova da sabedoria contida neste dito popular.
Após 14 meses de guerra, o cessar-fogo no Líbano e o abalo telúrico na Síria marcam um claro sucesso de Israel, apesar de o Irão e os seus avençados na região terem, como é habitual, reivindicado “divinas vitórias”.
Israel vibrou um golpe contundente no Hezbollah, desde a espantosa operação dos pagers até a eliminação de Nasrallah, passando pela decapitação de quase todos os dirigentes de topo, ao nível estratégico, operacional e até táctico, a destruição de mais de 80% do arsenal de mísseis e rockets, infraestruturas, sistemas de comando e controlo, armas e equipamentos, disrupção de canais de reabastecimento, etc.
As operações militares destruíram o grande plano, preparado ao longo dos anos, de invadir o norte de Israel com milhares de homens da Força Radwan, num ataque semelhante ao do Hamas em 07 de Outubro, mas numa escala incomensuravelmente maior.
O Hezbollah já não está em condições de fazer nada do que ameaçava fazer, foi intimidado ao ponto de “abandonar” o Hamas, e vê-se na contingência de aceitar condições humilhantes, apenas para continuar a existir. Na frente interna, o Líbano sofreu grandes danos e o Hezbollah enfrenta agora uma cada vez mais vocal contestação dos libaneses, incluindo muitos xiitas, que dificilmente esquecerão que o grupo, às ordens de um poder estrangeiro, envolveu o país numa guerra alheia que apenas trouxe destruição e morte. Mantém uma forte estrutura militar, mas o mundo desabou à sua volta e o futuro não é promissor, longe do abraço amigo dos agora longínquos aiatolas, também a lidar com uma nova e desastrosa equação estratégica.
Para já, o cessar-fogo está a ser navegado por Israel com tolerância zero, para visível irritação de António Guterres e de todos aqueles que esperavam o regresso ao “business as usual”, isto é, uma paulatina infiltração do Hezbollah na zona interdita e a forçada contenção de Jerusalém.
Na Síria o que está a acontecer é uma consequência da tempestade que varre o “Eixo de Resistência”. Há um ano os aiatolas, confiantes nas suas peças e na sua estratégia, semearem a ventania, atacando Israel em todas as frentes, procurando o cheque-mate que, acreditavam, estava ao seu alcance.
Tudo correu mal. Perderam as suas melhores peças, perderam a Síria, perderam os eixos de reabastecimento para o que resta do Hezbollah, milhares de elementos da Guarda Revolucionária e do Hezbollah fugiram apressadamente da Síria, e a prometida ameaça de atacar Israel, em retaliação pela estratégica resposta israelita, já foi esquecida.
A postura estratégica iraniana que era até agora arrogantemente ofensiva, passou a ser defensiva, há muitos rabos entre as pernas, e toda a gente na região tomou nota da fraqueza dos aiatolas. Nesta zona do mundo, ser percebido como fraco costuma ter péssimas consequências.
A Rússia sofre também aqui um enorme solavanco na sua credibilidade como poder capaz de sustentar os seus aliados. A Síria nem sequer era um aliado qualquer. A aliança garantia à Rússia uma presença estratégica de enorme relevo naquela região, no flanco sudeste da NATO. É pouco provável que consiga manter as suas estratégicas bases aéreas e navais, aquela gente tem a memória fresca dos pesados bombardeamentos russos. E sem essas bases, os navios de Putin não têm acesso livre ao Atlântico e ao Mediterrâneo, tendo de passar pelos apertados estreitos do Báltico e da Turquia, ambos sob total controlo da NATO.
A Turquia é na realidade o maior vencedor do que aconteceu na Síria. Foram os turcos que planearam e dirigiram a operação do grupo que tomou Damasco. Erdogan passou a perna a iranianos e russos e, para já, ganhou aqui um novo fôlego na sua ambição de restauração das glórias otomanas. Nos próximos tempos, deverá ser o “sultão” o maestro da música que se ouvirá na Síria.
Para Israel, a situação é agora muito melhor do que há um ano. Na frente de Gaza o Hamas está reduzido a cacos. É verdade que conta com a solidariedade efectiva da Internacional Antissemita, muito activa em certas ONG e organizações internacionais como a ONU e os seus órgãos, nos media e campus do Ocidente e em alguns países muçulmanos, mas esse alento (i)moral não chega para contrabalançar a devastadora perda de hard power. Um acordo de cessar-fogo, na linha das exigências israelitas é agora muito mais provável do que alguma vez foi.
Nos próximos dias e semanas veremos como fica a equação com os outros proxies do Irão, no Iraque e no Yemen. Acredito que, até por indicações dos amedrontados aitolas e seguindo o seu exemplo, voltem a adoptar um perfil baixo, para evitarem que lhes aconteça o mesmo. Para já, ao fim de um ano de combates, contra tudo e contra todos, incluindo alguns dos seus emasculados “aliados”, Israel emerge da guerra com uma acrescida capacidade de dissuasão que lhe deve garantir a paz por muitos anos.
No caso da Síria, a exploração do sucesso foi rápida e contundente. Em dois ou três dias, as Forças Armadas de Israel destruíram quase completamente o Exército, a Marinha e a Força Aérea da Síria, incluindo arsenais de armas químicas, apesar das cínicas “preocupações” de Guterres e de certos “aliados”.
Os inimigos pensarão agora muitas vezes antes de atacar, a começar pelo próprio Irão, cujas ameaças tonitruantes deixaram subitamente de se ouvir. Todavia a “estratégia” gizada por Khomeini há mais de meio século, em “Hokumat-e Islami: Velayat-e faqih”, manter-se-á até que se resolva a questão de uma vez, indo directamente à fonte do problema: Teerão! A República Islâmica está neste preciso momento a acelerar a marcha para a arma nuclear, os sinais de alarme já se ouvem em várias capitais e daqui a menos de dois meses, uma nova Administração na Casa Branca, aparentemente mais esclarecida quanto ao modo como se lida com os aiatolas na linguagem que eles compreendem, poderá/deverá mudar o paradigma.
Já quanto à “lawfare”, ou seja a instrumentalização do Direito Internacional como arma de guerra, e a propaganda mediática que sopra o vento nas velas do antissemitismo, o diagnóstico é mais sombrio. Mas essa é já uma guerra cultural que tem de ser travada aqui mesmo, no Ocidente, nos campus universitários, nas redacções, nas escolas, nas redes sociais, nas percepções, nos órgãos internacionais que foram sendo ocupados por intelectuais “orgânicos”, radicais de esquerda que herdaram as narrativas anti-americanas e anti-ocidentais do século XX e que hoje as veiculam embrulhadas em retóricas climáticas, guerras identitárias, wokismo, antissemitismo puro e duro e “palestinianismo” como biombo e fast food ideológico para idiotas úteis (veja-se por exemplo a cínica exploração “climático-palestiniana” de Greta Thumberg, uma jovem semiletrada e portadora de lamentáveis problemas cognitivos).
Essa guerra será muito mais difícil de vencer, mas também ela tem hoje melhor prognóstico do que há um ano. 2025 pode vir a ser um bom ano!