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“Reconheço que houve muita culpa própria do Sporting mas isto é a prova de que o jogo estava viciado à partida”, destaca Varandas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 20, 2024

Mudaram os resultados, mudaram as exibições, mudaram as ambições (pelo menos as tangíveis), mudaram todas as relações beliscadas com o tempo dentro e fora de campo. A chegada de Rúben Amorim ao Sporting em março de 2020 teve um efeito transversal em todo o clube, que colocou de parte as habituais convulsões internas e foi seguindo um rumo refletido em títulos, em recordes de vendas e quotizações, em valorização de plantéis. Também Frederico Varandas, em termos de aparições públicas em entrevistas, mudou. Deixou de ter a mesma necessidade de se expor, passou a ser cirúrgico onde e como falava, quis ver o trabalho feito num papel mais secundário. No entanto, e em alturas chave, surgia. Esta era uma dessas alturas chave.

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Desde o triunfo no último Campeonato, o presidente dos leões esteve no “Alta Definição” da SIC para uma conversa onde falou mais de um lado pessoal e teve depois intervenções pontuais em momentos como a gala da Liga (onde recebeu o prémio “Campeão”) ou o Thinking Football Summit. Em todas essas intervenções, tinha uma mensagem para partilhar, uma ideia que sabia que seria partilhada e ficaria como destaque de todo o discurso. Agora, havia sobretudo muito para explanar de atualidade e foi também por isso que decidiu quebrar um período sem qualquer entrevista para abordar temas do clube e do futebol nacional.

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Por um lado, e em relação ao Sporting, a saída de Hugo Viana para o Manchester City no final da temporada (num processo que acompanhou de perto desde o primeiro momento) e tudo o que se foi falando sobre essa mudança, da forma como ficará estruturado o edifício do futebol verde e branco à possibilidade de choque de funções em termos de mercado. Em paralelo, as dúvidas que continuam a existir sobre a capacidade de ter por mais tempo o técnico Rúben Amorim, com vínculo até junho de 2026, bem como o avançado Viktor Gyökeres. Por outro, a recente acusação à Benfica SAD, bem como ao antigo líder Luís Filipe Vieira e ao ex-assessor jurídico Paulo Gonçalves, de corrupção desportiva, num caso que foi marcando esta semana.

“Hoje acredito pouco, pelo que vi do futebol português como adepto, diretor clínico e hoje presidente. Independentemente da decisão judicial, é inegável que a mancha está lá. É mais um sinal e uma confirmação do que é o segundo período negro do futebol português. Houve um período negro chamado Apito Dourado. Hoje não sei se vai ser recordado como o caso dos emails ou não, mas a verdade é que são duas fases negras do futebol português e onde não há que ter medo de dizer que esses dois períodos têm dois rostos: Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. É claro. Hoje penso que é claro nestes casos toda a falta de ética e as más práticas que existiram durante anos, anos e anos. Eu como presidente do Sporting reconheço que há muita culpa própria no insucesso nos últimos 4o anos mas isto é a prova que o jogo estava viciado à partida. Era muito difícil, muito difícil”, referiu Frederico Varandas, no primeiro excerto conhecido da entrevista que foi gravada no final da semana e passou esta noite no programa “Trio d’Ataque” da RTP3.

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“Algum português ao ouvir as escutas do Apito Dourado tem dúvida sobre o que é Pinto da Costa? Passou quase entre linhas mas um segundo agente vai ser acusado de corrupção ativa a jogadores do Marítimo para perderem com o Benfica. Havia o caso César Boaventura, que era extraordinário, de amor, onde um agente decide gastar centenas de milhares de euros para corromper um jogador para favorecer o Benfica e agora apareceu um segundo, ainda mais extraordinário é….“, acrescentou sobre o tema.

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“Para mim é claro: há um período de Apito Dourado em que Pinto da Costa tinha toda a sua teia, toda a sua estrutura montada, e mais tarde aparece um Luís Filipe Vieira. Talvez cansado de investir e não conseguir ganhar faz uma portização do Benfica, onde vai buscar pessoas que toda a gente conhece. Paulo Gonçalves é um denominador comum em todos os processos. Fez parte da sociedade do FC Porto, curiosamente foi para o Boavista, onde o Boavista foi campeão, sai do Boavista quando o Boavista desce de divisão no caso Apito Dourado, e ele passa entre os pingos da chuva. Vieira vai buscá-lo”, recordou o presidente leonino.

“Não desresponsabilizo a culpa e a falta de competência do Sporting, que também houve, mas existiu muita viciação do jogo e enquanto presidente do Sporting digo isto não para acicatar guerras mas porque é o meu dever na minha função, proteger o Sporting. Pessoas que continuam? O julgamento será feito pelos adeptos e sócios do Benfica, da minha parte só me interessa enquanto presidente do Sporting que se faz justiça. Nós acreditamos que durante estas décadas não houve verdade desportiva. Justiça? Tenho muitas dúvidas embora exista sempre a esperança do que se vê lá fora, a Juventus que desceu de divisão, na Premier League clubes a perder pontos… Também entendo a dificuldade do Ministério Público em conseguir provar. Agora, uma coisa é o que se consegue provar, outra coisa é um português com dois dedos de testa saber bem o que se passou. Casos destes no Sporting? Se isso acontecesse, seria uma fraude para o Sporting e mais ainda para mim enquanto pessoa e para os meus. Por isso…”, concluiu ainda sobre o tema.

Entendo a dificuldade do Ministério Público em conseguir provar. Agora, uma coisa é o que se consegue provar, outra coisa é um português com dois dedos de testa saber bem o que se passou. Casos destes no Sporting? Se isso acontecesse, seria uma fraude para o Sporting e mais ainda para mim enquanto pessoa e para os meus. Por isso…”, destacou Varandas.

Ao mesmo tempo, Varandas falou de forma positiva do atual homólogo portista, André Villas-Boas, e ainda recordou os tempos de… Bruno de Carvalho. “De experiência pessoal, a mudança na presidência do FC Porto foi muito positiva e também para o futebol português. Tenho também de dizer, e isso está na base do nosso segredo, os valores estão na base de tudo. A dignidade, a integridade e o desportivismo estão acima de qualquer título ou conquista. Também é verdade que na nossa história o Sporting se desviou recentemente desses valores mas também foi o Sporting a resolver esse problema. Não negamos essa fase, independentemente das conquistas e dos feitos dessa fase, não elogiamos publicamente essa liderança. Tem de existir alguma coerência moral. Se preconizo e adoto a ideia de agir com determinados valores e transparência, não faz sentido elogiar publicamente quem é o oposto disso tudo”, comentou.

E será possível comparar a dupla Frederico Varandas-Rúben Amorim com Pinto da Costa-José Maria Pedroto. “Um dos exercícios que faço para mim mesmo é ligar muito pouco ao que dizem. Já fui insultado de tudo, durmo bem com isso, mas essa comparação com Pinto da Costa está a um nível mais difícil de superar, não por falta de inteligência, não por falta de competência, não por astúcia mas por uma razão muito simples, e não quero magoar ninguém: para mim, toda a competência que uma pessoa possa ter, toda a inteligência, vale zero, é uma fraude se não foi alicerçada em valores e ética. Por isso, para mim seria, na minha conceção de ser, horrível se fosse comparado a esse presidente”, referiu o presidente leonino.

Já sobre o Sporting, Varandas começou por recuar ao ponto de partida em 2018. “Fazer o que era necessário fazermos pelo clube. Não pensámos em nós, Direção e administração, e pensar no clube. E isso foram várias medidas. Não sei se refundação é um termo demasiado forte mas hoje vivemos uma fase em que 45 anos nunca vivi e até as pessoas mais velhas têm dificuldade em lembrar-se. Nos últimos quatro anos foram dois títulos nacionais, várias taças, nos últimos cinco anos o clube deu lucro em quatro, só não deu no ano de Covid-19, recuperámos o clube financeiramente, recuperámos os VMOC e garantimos a maioria do capital social da SAD com 88%, investimos e requalificamos o nosso património, Academia e Estádio, como nunca antes tinha sido feito e temos o maior número de sócios de sempre com quotas em dia, com uma lista de espera de 8.000 pessoas para garantir lugar. Lembrando o ponto de partida e pensando que só passaram seis anos, o trabalho da minha equipa é extraordinário”, comentou de forma global.

“Contratar um jogador em 2018 e agora? Lembro-me bem que para fechar um jogador como o Nuno Santos, e estamos a falar de um valor de 3,5 milhões, foi quase cinco dias para fechar o negócio. O Rio Ave exigia garantias do pagamento do IVA, para as pessoas perceberam a credibilidade que o Sporting não tinha à data. Foi um percurso… Rúben Amorim? Foi um ato 100% racional. Ele também teve a coragem para aceitar este cargo. Éramos muitos criticados porque acertámos no Rúben Amorim mas falhámos outros. Posso dizer aqui sem problema, Leonardo Jardim, Abel Ferreira, Rui Jorge, Quique Setién, Unai Emery, todos por diferentes razões agradeceram mas disseram que não queriam vir, por diferentes razões. Estamos a falar entre 2018 e 2020. Em 2020, quando apareceu Rúben Amorim, ele não hesitou e tenho de reconhecer a coragem de um jovem treinador que iria teoricamente para um cemitério de treinadores…”, assumiu Varandas.

“Se preferia que saísse Amorim ou Gyökeres? Uma das maravilhas de ser adepto e sócio é desfrutar do presente, apenas isso, mas o nosso papel como administrador é estar a viver no futuro. Estou há vários anos preparado para se aquela peça sair, saber qual é a peça que vai entrar com uma garantia: a qualidade do processo de trabalho em campo tem de manter-se. Quando perder Rúben Amorim, ouço essa pergunta há quatro anos… Para mim, o que devemos questionar é como é que um dos melhores treinadores do mundo está cinco anos no Sporting, isso é que é fantástico. Numa estrutura onde todas as peças são importantes, o treinador é a peça mais importante na minha conceção. Gyökeres sair no mercado de inverno? Acho que é muito, muito difícil… Impossíveis não há na vida mas é muito difícil. Golos? Já marcou muitos, continua a marcar, será muito difícil…”, respondeu o presidente verde e branco, antes de falar de forma mais direta da saída de Hugo Viana colocando a questão do processo acima das individualidades.

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“Sobre o assunto [Hugo] Viana, foi um triângulo fundamental para o crescimento e para o retomar do verdadeiro Sporting. Isto é história, ficará para sempre. Rúben Amorim e Viana foram fundamentais neste arranque. O Hugo Viana é o assunto do momento, do ponto de vista pessoal posso dizer que merece tudo, não só do ponto de vista profissional mas também pela parte humana. Vai para um dos clubes mais poderosos do mundo a par do Real, algo que nunca aconteceu em Portugal, um português ir para este patamar do máximo dos máximos. Isso é mérito dele mas também da forma como o Sporting é visto lá fora. Muitas vezes ligamos muito à trica, à telenovela mas lá fora os clubes organizados conseguem ver um clube que se reinventou, que dá lucro, que ganha títulos, que valoriza os seus ativos. Este é o patamar de excelência com que nos veem e para nós é muito importante que o Hugo Viana tenha sucesso”, disse.

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“Hoje temos uma relação de amizade os três, é um facto que o Rúben Amorim tem contrato com o Sporting até 2026 e que o Hugo Viana vai ser o próximo diretor desportivo do Manchester City. Amizades, amizades, clubes à parte. O caminho segue e isso não é um assunto. Eu vivo do que eu controlo, do presente e do futuro. Hoje vem muita gente alertar sobre a forma que será sem o Hugo Viana… Gosto de lembrar que essas pessoas criticavam o Viana há seis anos, pela falta do planeamento mas acreditámos e sabíamos o potencial, da mesma forma como as pessoas que o vão substituir, daqui a quatro ou cinco anos está a vir um City da vida para contratá-los, não tenho dúvidas. A estrutura é diferente, o resultado vai ser o mesmo. O diretor geral é mais o diretor operacional de toda a máquina, depois temos o diretor de scouting e técnico que irá fazer o que o Viana fazia e será o braço direito na elaboração do plantel com o treinador e o presidente. Nada mudou em relação a isso, também não entrava antes nada sem passar por mim”, comentou o líder leonino.

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Por fim, Varandas recusou a possibilidade de os proprietários do Manchester City entrarem na SAD verde e branca e explicou o acordo feito com a banca. “Temos uma ótima relação com a administração do City Group, não só a nível desportivo mas também do CEO e administração, mas nunca foi tema entrarem na SAD. Já fomos claros sobre aquilo que pretendemos mas não está identificado qualquer parceiro até ao momento. Banca? Aqui foi um trabalho duro, longo, onde o mérito tem de ser todo dado ao meu administrador Francisco Salgado Zenha e à sua equipa. Isto só foi feito porque no final foi um bom negócio para todos. Eu sei que as pessoas podem dizer coisas… Foi um bom negócio para o Sporting e um bom negócio para a banca, caso contrário não teria sido feito. Acredito na competência dos administradores da banca e que fizeram o melhor que podiam para defender as instituições”, concluiu o número 1 de Alvalade.





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