É um mea culpa que está a ter impacto mediático no Reino Unido. A ministra das Finanças do governo liderado por Keir Starmer admitiu que estava errada quando disse, antes das eleições legislativas de julho, que não seria necessário aumentar os impostos. Na última semana, o executivo trabalhista de Starmer subiu vários impostos. Rachel Reeves admite agora que não conhecia a dimensão do que diz ser o “enorme buraco negro nas finanças públicas” deixado pelo anterior governo do Partido Conservador.
“Estava errada a 11 de junho. Não sabia de tudo, porque quando cheguei ao Tesouro a 5 de julho [dia seguinte às eleições], pouco menos de um mês depois de dizer essas palavras, fui levada para uma sala pelos altos funcionários do Tesouro e eles apresentaram-me o enorme buraco negro nas finanças públicas, que não conhecia no momento da eleição geral“, disse Reeves, em entrevista ao programa matinal de domingo da Sky News, conduzido por Trevor Phillips.
A ministra das Finanças acusou o governo conservador liderado por Rishi Sunak de ter “escondido do país” e do Parlamento a dimensão do défice nas finanças públicas, que, sublinha, ronda as 22 mil milhões de libras (cerca de 26 mil milhões de euros). Perante este cenário, o governo trabalhista decidiu, na quarta-feira, aumentar os impostos num valor de 40 mil milhões de libras (47,5 mil milhões de euros) — naquela que é considerada a maior subida da carga fiscal no país nos últimos 30 anos, desde 1993.
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O agravamento fiscal incidirá sobre as empresas. A maior parte do aumento de impostos (25 mil milhões de libras) virá da atualização da contribuição social dos empregadores, que aumenta de 13,8% para 15%, a partir de abril. Além disso, a taxa mais baixa de imposto sobre ganhos de capital aumentará de 10% para 18%, e a taxa mais alta de 20% para 24%. Será também aumentado o IVA a pagar pelos estabelecimentos de ensino particulares.
Rachel Reeves garante, no entanto, que se trata de um aumento de impostos irrepetível. “Não há necessidade de voltar a ter outro orçamento como este. Não vamos precisar de fazer isto novamente“, garantiu a ministra das Finanças, acrescentando que o governo tenciona cumprir a promessa eleitoral que fez, e que passa por não aumentar impostos sobre as “pessoas que trabalham”. No entanto, Reeves admite que o agravamento fiscal sobre as empresas pode ter impacto nos trabalhadores. “As empresas agora terão que fazer uma escolha, se vão absorver isto através de ganhos de eficiência e produtividade, através de lucros mais baixos ou talvez através de um crescimento salarial mais baixo”.
É para esta última opção que se inclina o Office for Business Responsibility, a entidade que monitoriza os planos de gastos e o desempenho do governo, que já avisou disse que a maior parte agravamento fiscal sobre as empresas será repercutida nos trabalhadores, através por meio de salários mais baixos e nos consumidores, com preços mais altos.