Por outro lado, há um excesso de tomografias computorizadas em Portugal. Por cada mil pessoas, realizam-se em Portugal 333 tomografias computorizadas, ressonâncias magnéticas e PET por ano, quando a média da União Europeia é de 154. Se conseguíssemos reduzir estas prescrições para a média europeia, só isso representava uma poupança de mais de nove milhões de quilos de CO2. E temos outras áreas em que podemos avançar: a telemedicina, a medicina de proximidade, a integração de cuidados — tudo formas de reduzir as deslocações das pessoas, o que também limita a pegada ecológica. Por exemplo, foi feito um estudo na última campanha de vacinação que mostrou que, em comparação com 2022, houve uma redução de 1252 para 739 toneladas de CO2, devido à redução das deslocações.
Mas há também um caminho a fazer ao nível do edificado, da passagem de energias fósseis para energias renováveis, na adoção de transportes elétricos, na substituição das lâmpadas normais por LED, na diminuição do desperdício de água. São áreas onde é possível tomar medidas e, dessa forma, reduzir o impacto ambiental do setor da saúde.
Há um caminho de sensibilização a fazer junto dos decisores políticos?
Há um caminho de sensibilização para todos: para o público, para os profissionais de saúde e para os decisores. Para mim, é chocante sabermos que estamos perante o maior desafio para a saúde das populações das próximas décadas e estes tópicos ainda não entram na formação pré e pós-graduada dos profissionais de saúde. Há um grande desconhecimento. Em setembro, fizemos um inquérito a 348 médicos (das cinco especialidades que mais os prescrevem: Pneumologia, Imunoalergologia, Medicina Interna, Pediatria e Medicina Geral e Familiar) sobre se tinham conhecimento do impacto ambiental dos inaladores. E apenas 52% disseram que sim.
Calcula-se que a pegada dos inaladores em Portugal é de 30 mil toneladas de dióxido de carbono/ano. Os inaladores não são todos iguais: existe um grupo, de pó seco, que não utiliza gases com efeito de estufa, e outro grupo, os inaladores pressurizados de dose fixa, que usa gases com efeito de estufa. O que fizemos foi emitir recomendações para a utilização de inaladores menos poluentes, sempre que haja alternativas com a mesma eficácia e segurança. E recomendámos também que, no momento da prescrição, surja um código de cores corresponde ao impacto ambiental que está em causa. É algo que já existe no Reino Unido.
O que é o Conselho Português de Saúde e Ambiente?
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É uma aliança criada em outubro de 2022, com o objetivo de dar uma voz comum às organizações de saúde no que diz respeito a alterações climáticas e redução a pegada ambiental, aumento a investigação nesta área e ajuda ao sistema de saúde no sentido de se capacitae para fazer face a esta transição. Tem já associadas 92 organizações, entre as quais associações, ordens profissionais, sociedades científicas, municípios, universidades, empresas tecnológicos, institutos de investigação.
Foi também um Observatório da Saúde e Ambiente, que vai emitir o primeiro relatório em dezembro.
No entanto, já há exemplos de boas práticas de sustentabilidade no setor da saúde, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Sim. O serviço nacional de saúde britânico — que é o que tem a estratégia mais séria de sustentabilidade ambiental — pretende chegar a zero emissões em 2040 naquilo que dele dependa diretamente, e, em 2045, a tudo o que dele dependa indiretamente, o que inclui fornecedores.
Em Portugal, o setor privado tem uma estratégia séria de sustentabilidade. Já o SNS está muito focado no programa ECO@SAÚDE, que se centra na energia e incide pouco sobre a parte clínica. Precisamos de que a redução do impacto ambiental do setor da saúde se torne uma prioridade política e que os critérios de sustentabilidade ambiental estejam presentes em todas as decisões.
Mas há bons exemplos. A Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria tem um programa de eficiência energética que tem conseguido bons resultados. A ULS Entre Douro e Vouga tem conseguido bons resultados também. Os hospitais privados têm conseguido diminuir substancialmente a utilização de gases anestésicos, diminuindo a emissão de dióxido de carbono. A ADIFA, a organização de distribuidores farmacêuticos, também vem, de ano para ano, reduzindo a sua pegada carbónica. Mas ainda não é uma prioridade e ainda não existem medidas transversais. Esse é um dos objetivos do Conselho Português de Saúde e Ambiente.