Mas o mesmo pode acontecer a nível nacional.
Pode, mas nos Açores bastava a abstenção. E, com a abstenção, não há um compromisso a dizer “Eu estou de acordo com isto”. Com a abstenção dizemos: “Eu deixo passar e vou avaliar”. E o Chega/Açores entendeu que, face aos compromissos que tinham sido alcançados, com aquele acordo plurianual, que José Manuel Bolieiro reconheceu, era sensato deixar o governo passar. Deram-me nota dessa informação e eu registei essa informação.
José Pacheco é que falou em acordo plurianual e depois disse que era orçamento a orçamento. Ora, se é orçamento a orçamento não é plurianual.
Penso que o que foi alcançado foi um acordo plurianual relativamente às metas legislativas. Ainda nada há sobre o orçamento. Mas o Chega/Açores teve alguma sensatez num momento inicial em que ainda nem sequer havia uma política económica do governo definida.
Mas as ameaças do Chega não servem de nada porque recuam sempre.
Sei que muita gente que me tem visto na televisão e nas entrevistas, nomeadamente que me está a ver nesta entrevista, entendem que esta postura pode ser de cedência, de humilhação ou de pedincha. Mas eu vou ficar sempre com a minha consciência tranquila, mesmo que a interpretação final possa ser essa de sentir que fez tudo o que era possível fazer para que o país tivesse uma lógica de estabilidade. Alguns dirão: “Isso é ceder”. E esses se calhar não votarão no Chega outra vez.
O ponto é: para quê fazer ameaças que depois não se cumprem?
Vamos ver. Vamos esperar pelo Orçamento do Estado e as pessoas aí avaliarão se o trabalho do Chega foi cumprido. Se cumprimos aquilo que dissemos ou se não cumprimos aquilo que dissemos.
Voltemos à questão do acordo do Governo. Numa entrevista ao Expresso, disse que um acordo de governo pressupõe uma partilha de responsabilidades. O novo governo vai tomar posse, não partilhou nenhuma responsabilidade com o Chega, nem em cargos, nem sequer no programa. Por isso, continuamos sem perceber o que é que significa de facto “acordo de governo” e se ainda faz sentido continuar a falar nele se o PSD já disse que ‘não é não’ e pelos vistos cumpriu.
Colocámos como meta para um entendimento a questão orçamental. Vou dizer isto e talvez muitos não vão gostar novamente, mas é o que acho: vou lutar até esse dia para que esse acordo de partilha de responsabilidade ainda possa ser efetivado. Se ele não for, eu enquanto presidente do Chega retirarei as conclusões para o Orçamento de Estado de 2025.
Em relação à Madeira: o Presidente da República já convocou o Conselho de Estado para falar sobre este tema. O Chega estará disponível para fazer um acordo pós-eleitoral com Miguel Albuquerque a liderar o governo?
Com quem Miguel Albuquerque? Não. Neste contexto, está fora de questão. Isto não tem que ver com o estatuto processual dele, mas com o que todos nós vimos, ouvimos e lemos. E Miguel Albuquerque nunca deu nenhuma explicação cabal. E tem a ver com o facto de o próprio PSD nacional e muitos dirigentes terem entendido que Miguel Albuquerque o melhor que fazia era não se recandidatar. Mas a verdade é que ele recandidatou-se e ganhou. Agora, o PSD tem uma tarefa com Miguel Albuquerque tremenda na Madeira, que é: ou ganha com maioria absoluta ou não vejo que partido é que vai fazer algum entendimento.
Mas, definitivamente, já está arrependido de, nas presidenciais de 2021, o ter convidado para ser máximo coordenador e representante político da sua candidatura?
Isso não é verdadeiro. Se perguntar a Miguel Albuquerque, se ele tem a carta, verá que não tem. É mais uma das fake news que nos atingiu.
Foi inventado? Não o convidou?
Nem falei com sobre isso. Portanto, podem falar com ele e perguntar.
Nunca teve a intenção de o fazer?
Também tenho intenção de ver o Papa este verão. Mas provavelmente não o vou ver.
Pensou nisso, mas não mandou a carta e então está protegido.
Vocês têm muitas capacidades, mas não leem os meus pensamentos. Uma coisa que é importante dizer sobre isto é que o Chega/Madeira, tal como Chega/Açores, tem a sua autonomia salvaguardada. Vou dizer uma coisa que penso que não melindrará o Chega/Madeira: ficaria muito desapontado, muito desapontado mesmo, pessoalmente e politicamente, se, mesmo num contexto de especial dificuldade, o Chega/Madeira viesse a viabilizar um governo e muito menos participar num governo com Miguel Albuquerque. Eu ficaria muito desapontado.
Mas não lhes retirava a confiança política?
Posso retirar politicamente, não estatutariamente.
Mas ficaria tão frustrado como ficou agora com o Chega/Açores?
Ficaria num estado dez vezes pior. Porque eu acompanhei o processo dos Açores a par e passo. Sou co-responsável pelo que aconteceu nos Açores. Nunca seria o co-responsável por enviar o Chega/Madeira para um Governo com Miguel Albuquerque. Honestamente, isto não tem a ver com Miguel Albuquerque pessoalmente, tem a ver com a situação política.
Na noite eleitoral, mandou uma mensagem ao líder do PSD, onde lhe disse que “o Chega e a AD teriam a chave para uma solução estável para o país”. Isto é fake news?
Não. Essa é verdadeira.
Não lhe vamos pedir que revele conversas privadas, mas digamos pelo menos se Luís Montenegro lhe deu visto à mensagem. Respondeu-lhe?
Acho que sim. Acho que a mensagem foi vista.
Foi vista, mas não respondeu? Não disse nada? Só viu no certinho azul que ele tinha visto?
Só gosto de de falar de mensagens minhas, não gosto de falar de mensagens dos outros. Quando são minhas, assumo essa responsabilidade. Tive a oportunidade de o felicitar e era isso que pretendia. Não houve nenhum desenvolvimento em relação à questão que eu coloquei.
Mas ele disse-lhe “obrigado”, pelo menos?
Não, não disse obrigado.
Mas respondeu-lhe alguma coisa?
Não disse obrigado.
Mas disse alguma coisa, pelo menos?
Não vou estar a revelar. Criámos aqui uma situação curiosa. Não sei como dizer isto, nem se isto vai passar bem, mas acho que Luís Montenegro passou a ter medo de falar comigo. Honestamente, acho mesmo que passou a ter medo de falar comigo. Não sei porquê, mas passou a ter medo e isso é uma situação curiosa.