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Sete mortos numa semana. Todos os casos incluem relatos de atrasos no atendimento na linha de emergência – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 7, 2024

A greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM às horas extraordinárias começou na passada quarta-feira e prolongou-se até esta quinta-feira — a paralisação foi interrompida depois de o sindicato que representa estes profissionais ter sido convocado, com caráter de urgência, ao Ministério da Saúde e de ter sido acordado um protocolo negocial para a revisão das carreiras e salários.

A greve veio complicar ainda mais uma situação que já era crítica devido ao um número insuficiente de técnicos no instituto, como a própria tutela já tinha reconhecido. A paralisação resultou em dezenas de chamadas para o 112 acumuladas em linha, com tempos de espera que, em alguns casos, foram superiores a meia hora. Durante o fim de semana prolongado, o sindicato dos técnicos (STEPH) denunciou os casos de duas mortes que atribuiu à demora no atendimento e ativação de uma resposta dos serviços de emergência. O Governo reagiu, solicitando uma auditoria interna ao INEM para avaliar as circunstâncias das mortes.

Somaram-se outras cinco mortes, todas na passada segunda-feira, o mesmo dia em que o INEM registou o número mais baixo de chamadas atendidas em mais de uma década. Os casos ocorreram de norte a sul do país, com relatos semelhantes de chamadas não atendidas. Em várias destas situações, outros meios, como os dos bombeiros ou da própria PSP, acabaram por intervir.

O INEM reagiu aos casos, reconhecendo que a greve está a criar dificuldades na “prestação de cuidados de emergência dos cidadãos”, mas garantindo que  “está a implementar medidas de contingência para fazer face a este momento de maior constrangimento”. Num dos casos, no Algarve, o INEM confirmou ter “registo de uma tentativa de contacto com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) às 11:03, não tendo a chamada sido imediatamente atendida” e acabando “por ser desligada na origem” — ou seja, neste caso, não houve qualquer resposta do 112 ao pedido de socorro.

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A primeira morte registou-se em Bragança, logo ao segundo dia de greve. Rui Lázaro, presidente do STEPH, contou que uma mulher tentou ligar para o 112 durante mais de uma hora, sem ter sido atendida: o marido estava em paragem cardíaca. Quando a chamada finalmente foi atendida e a viatura médica chegou ao local, o homem já tinha morrido. O óbito foi declarado no local. Rui Lázaro afirmou que a ambulância se encontrava apenas a dois minutos de distância. Se a chamada tivesse sido atendida, “o desfecho da situação poderia ter sido outro”.

Dois dias depois, uma mulher de 94 anos entrou em paragem cardíaca. Um familiar começou a ligar para o 112 às 9h34, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) às 10h19, cerca de 45 minutos depois. Ao Observador, o INEM esclareceu que este atraso não se deveu ao atendimento na linha 112, mas à transferência para triagem clínica no CODU. A mulher ainda foi transferida para o hospital de Lamego, onde foi declarado o óbito.

A maior parte das mortes ocorreram já esta segunda-feira. No Algarve, um homem de 77 anos foi encontrado pela família depois de ter caído da bicicleta. Ainda estava consciente. Quatro familiares terão tentado ligar para o 112 durante 1h40, sem resposta. Acabou por ser uma vizinha a contactar os Bombeiros de Vila Real de Santo António, que ativaram o INEM. Quando a ambulância chegou ao local, o homem já estava inconsciente, em paragem cardiorrespiratória.

Mais a norte, em Vendas Novas, um homem de 73 anos sentiu-se mal e tentou ligar para o 112, tendo precisado de mais de 40 minutos até ser atendido, relata o Correio da Manhã. Neste caso, também foram os bombeiros locais que ativaram diretamente o INEM. O homem acabou por morrer em casa, sem assistência médica.

Na Área Metropolitana de Lisboa, uma mulher de 70 anos sentiu-se mal em tribunal, onde estava a prestar declarações num caso de violência doméstica. Os serviços do tribunal tentaram contactar o INEM durante uma hora e meia, sem resposta. Neste caso, não foram os bombeiros, mas a própria PSP a transportar a idosa até ao Hospital Garcia de Orta, onde acabou por morrer no dia seguinte.

Por volta das 12h30, uma idosa sentiu-se mal no refeitório de um lar de idosos em Castelo de Vide. Foram feitos dois telefonemas para o 112, mas só às 13h50 é que uma ambulância chegou ao local — também neste caso, os bombeiros foram contactados. Depois de uma hora e meia de manobras de reanimação, levadas a cabo por um dos enfermeiros do lar, a mulher foi levada para o hospital de Portalegre em paragem cardiorrespiratória, onde foi declarado o óbito.

Pelas 22h13 do mesmo dia, um homem de 95 anos desmaiou na sua casa. A mulher alertou os vizinhos que, depois de 28 minutos à espera de serem atendidos pelo 112, deslocaram-se diretamente ao quartel de bombeiros local. Foram, também neste caso, os elementos da corporação a acionar uma ambulância. Quando os meios de socorro chegaram à casa da vítima, esta já tinha morrido e o óbito foi declarado no local, relata o Público.





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