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Sete princípios para um vudu eficaz – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 24, 2024

1 Acreditar no poder de um “abracadabra”

O primeiro passo para um vudu eficaz é rejeitar o facto de o mundo ter sido criado pela palavra. Quando desprezamos a ideia de que a origem do Universo só foi possível porque Deus lhe deu origem, usando a sua palavra, podemos imaginar tudo de modo alternativo. O vudista bem sucedido não precisa de uma verdade verdadeira porque cria a sua própria. Quando deixamos de precisar de uma origem lógica das coisas, e aqui o “lógica” aparece em função do termo grego “logos” como ele é usado na Bíblia para significar o verbo divino, podemos inventar feitiços ambiciosos ao ponto de formar o nosso próprio cosmos! Quando me afasto do “Fiat Lux” do Génesis da Bíblia, qualquer “abracadabra” funciona.

2 O vudu serve para zombies e para hiper-activos

Pessoas que vivem na lógica servil de o Universo ter sido criado pela palavra, tendem a ser estupidamente cautelosas no uso das suas próprias palavras. A lógica delas é valorizarem a palavra acima de tudo porque acreditam que, se Deus não tivesse usado a sua palavra, elas não existiam. Este tipo de pessoas acha que, sem uma consciência da importância das palavras, viverá uma vida tonta, meio acordados, meio a dormir, ou excitados pela importância de coisas que não têm tanta importância como a palavra. Ironicamente, o bom vudista olha com bons olhos para estes dois extremos de adormecimento e excitação. Feitiços bem sucedidos tanto provocam anestesia como êxtase. Há bruxos que se especializam em fazer das pessoas zombies, e há bruxos que se especializam em fazer das pessoas hiper-activas.

3 O vudu é a Bíblia que escrevemos para nós mesmos

Para se ser um vudista capaz é fundamental organizarmos o mundo tentando avariar a dependência dele da palavra. Ou seja, temos de usar as nossas próprias palavras para criar o nosso próprio mundo. A verdade é que até quem é contra as nossas artes bruxas, acredita que tem de usar, de uma maneira ou outra, as palavras para se orientar no mundo. A questão é que, para quem é contra os nossos feitiços, a maneira certa de usar as palavras para nos orientarmos no mundo é aceitar que a palavra principal é a de Deus, e adequar-se a esse esquema. Enquanto executantes de vudu, a nossa maneira de usarmos as palavras é segundo a lógica de que não precisamos da palavra de Deus para nada. Nós escrevemos a nossa própria Bíblia.

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4 A lógica do vudu é tirar da boca de Deus para pôr nas nossas mãos

Alguém pode perguntar a este ponto da conversa: estou a ouvir demasiado sobre palavras e blá-blá-blá e nada sobre pôr as mãos na massa e sacarmos de bonecos e agulhas—afinal é isso que se espera quando se fala em vudu. Para um iniciado que albergue um pensamento ingénuo destes, é com esforço que controlo a minha impaciência diante de tanta ignorância e digo: se não entenderes como tudo depende de sermos contra a ideia de a realidade estar inevitavelmente associada à palavra de Deus, e usarmos as mãos espetando agulhas em bonecos para atingirmos os nossos objectivos, nunca serás um vudista digno do nome. O vudu com sucesso é o vudu que põe nas mãos dos bruxos aquilo que tirou da boca de Deus.

5 O vudu domina através da miniaturização física

O bom vudista transporta para os bonecos e as agulhas o poder que já não acredita existir na antiga visão de que o mundo era sustentado pela palavra de Deus. O feitiço eficaz precisa de apalpar coisas concretas porque encena a nossa capacidade de ter o Universo nas nossas mãos. Como não conseguimos fisicamente manusear as pessoas que queremos atingir com o nosso vudu, reduzimo-las a uma representação física, um boneco, um avatar, um símbolo, um ícone, para transferir para as nossas mãos o velho poder da boca de Deus. Pessoas que acreditam que o mundo foi criado pela palavra de Deus não acreditam que é possível dominarem o mundo, também porque o uso cuidadoso das suas palavras as mantém nessa posição servil; mas pessoas que reagem contra a ideia de que o mundo foi criado pela palavra de Deus rejeitam essa posição servil de se submeterem a um Universo maior do que elas para dominá-lo pela via da miniaturização física.

6 Quanto mais sofisticada a tecnologia, mais simples o vudu

Os telemóveis e a tecnologia digital funcionam hoje a favor dos vudistas, encolhendo todo o Universo para a palma da nossa mão. Quanto mais sofisticado é o mundo digital, mais simples se tornam os nossos feitiços através dele. Os muitos ecrãs espalhados pela nossa vida são uma continuação das arcaicas bolas de cristal em que, em vez de termos um Deus que cuida do mundo, temos homens e mulheres que podem mandar nele como querem.

7 Vudu Versus Cristianismo

O vudista odeia Cristo porque Cristo é o extremo oposto da nossa arte. Nós roubamos às pessoas a sua integridade de serem carne e osso e alma para caberem nas nossas mãos. Jesus é Deus tornando-se carne e osso além da sua identidade que já era espiritual. Nós enfeitiçamos para dominarmos e reduzirmos a humanidade; Deus encarna em Cristo para dar à humanidade mais do que alguma vez ela seria capaz. Nós matamos aos poucos quem odiamos; Jesus morre de uma vez para ressuscitar quem ama.

Talvez em breve volte a uma nova formação em vudu.





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